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BENJAMIN STEINBRUCH
Imprevidência previdenciária
É hora de incluir na agenda nacional o debate sério sobre a Previdência, em busca de caminhos alternativos
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UM DADO curioso do recadastramento de aposentados
em andamento na Previdência foi a constatação de que existem
159 beneficiários com idade entre
110 e 125 anos no Brasil.
Os brasileiros, a despeito do desamparo e da péssima assistência à
saúde nas populações de baixa renda, estão vivendo mais. No recenseamento da Previdência, esperava-se
que ao menos 1 milhão de aposentados não seriam encontrados, em razão de fraudes ou de morte dos segurados não informada ao INSS. Mas,
de 2005 até agora, a Previdência já
constatou a existência real de 16,6
milhões de aposentados, apenas 512
mil a menos que os 17,2 milhões que
recebiam o benefício naquele ano. E
o trabalho ainda não terminou.
Com a expectativa de vida cada
vez maior, uma benção para a população no mundo atual, os recursos
injetados no mercado pela Previdência, pública ou privada, representam importante estimulador do
consumo e da própria economia.
No Brasil, a previdência pública
coloca ao ano no mercado quase R$
170 bilhões, a maior parte com pagamento de aposentadorias, 8% do
PIB. O Censo Demográfico do IBGE
mostrou que 62% das pessoas com
60 anos ou mais são responsáveis financeiramente pela sua família. Em
20% dos domicílios do país, os principais provedores de recursos domésticos estão nessa faixa de idade.
Isso não ocorre só no Brasil. No
Japão, onde a previdência pública
enfrenta denúncias sobre desmandos nos benefícios, a injeção de recursos via pagamentos de aposentados atinge US$ 500 bilhões (R$ 1 trilhão) por ano. O sistema previdenciário japonês, com contribuição
obrigatória de 70 milhões de pessoas, tem reservas de US$ 1,3 trilhão.
Criada por Franklin Roosevelt,
em 1935, a previdência pública dos
EUA tem mais de 45 milhões de
pensionistas, que recebem US$ 500
bilhões por ano, cerca de 5% do PIB
americano. Costuma-se dizer que o
sistema previdenciário americano é
uma bomba-relógio programada para explodir em 2018, quando não haverá recursos para pagar o US$ 1,2
trilhão anual a que terá direito a
massa de aposentados que atingirá
65 milhões, inflada pela aposentadoria dos "baby boomers".
Como se vê, o aumento constante
e bem-vindo da expectativa de vida,
em todo o mundo, cria problemas
com data marcada para os sistemas
públicos de previdência. Esses lidam com somas trilionárias, são importantes estimuladores do consumo global em razão da renda que
distribuem, mas estão perigosamente ameaçados por déficits que
não param de crescer.
Por enquanto, infelizmente, a previdência privada cobre apenas uma
parcela minoritária da população,
mesmo nos países mais ricos.
Por mais que se minimizem os
problemas da previdência pública
no Brasil -com redução de privilégios e administração atuarial mais
eficiente-, será preciso partir para
soluções que incluam a criação de
contas previdenciárias individuais
acessíveis a todas as camadas sociais, contas que as pessoas possam
carregar até a aposentadoria.
Na semana passada, com quatro
anos de atraso, o governo enviou ao
Congresso o projeto que cria o Fundo de Previdência Complementar
do Servidor Público. No longo prazo,
esse fundo pode conter o crescimento do gasto público com aposentadorias de servidores.
Já passa da hora de incluir na
agenda nacional o debate sério sobre esse tema, em busca de caminhos alternativos. É desolador pensar que nossos netos constatarão no
futuro a imprevidência de seus avós.
E pagarão caro por ela.
BENJAMIN STEINBRUCH , 54, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
bvictoria@psi.com.br
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