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VINICIUS TORRES FREIRE
Lula chama o mundo rico às falas
Presidente manda dizer aos líderes das finanças mundiais que resolvam a crise e que não aceita prejuízos para o Brasil
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O TUMULTO nas finanças era
uma daquelas oportunidades em que líderes de países
assim como o Brasil dessem uma fina e discreta esnobada nos donos do
mundo rico, que se armaram uma
esparrela de excessiva desregulamentação financeira e agora prendem o pé na armadilha.
Era uma oportunidade até para
uma ironia de esquerda, um pouco
de teatro. O presidente Lula ganhou
o papel, representou-o numa palácio da Finlândia, onde estava em visita, e fez aquela cena, o seu grosso
vaudeville do oprimido.
Lula, diz ele, mandou avisar a ministros das Finanças e presidentes
de BCs do mundo rico que resolvam
logo a crise que inventaram, a ruína
imobiliária e o aperto de crédito. E
mais: que não aceita prejuízos se a
crise bater no Brasil, logo agora que
o país começa a crescer; que a crise é
fruto da ganância nos cassinos financeiros, entre outros disparates.
Uma possível vantagem de Lula
não saber o que diz, por ora, é que ele
também não sabe o que faz e mal o
faz. Porta-se como animador de auditório de seu governo quase ausente. Mas e se uma crise feia bater
aqui?
Por ora, podemos ajudar o presidente na sua cruzada pela estabilidade mundial. Seguem sugestões.
1) Obrigar o governo ou os ricos
americanos a cobrir o calote na prestação da casa própria, o detonador
da crise. E para bancar a possível
inadimplência de empréstimos comerciais, prestação de carro e cartão
de crédito, entre outras, que servem
de garantia para os ativos financeiros que são estrelas da crise;
2) Obrigar os bancos americanos e
europeus a rolar ou comprar títulos
financeiros com garantias podres;
3) Lula ainda lideraria uma comitiva de políticos, banqueiros e CEOs
de megaempresas dos EUA, que fazem campanha pelo corte de juros.
Obrigaria o Congresso americano a
dar fim à independência do Fed e
baixar os juros. Para dar o exemplo,
poderia demitir a direção do BC e
decretar que os juros do Brasil serão
iguais aos do Japão (quase zero);
4) Se a crise continuasse e desse
em recessão mundial feia, obrigar
todos os países que comerciam com
o Brasil a comprar os produtos nacionais, em quantidade nunca menor que a anterior à crise;
5) Obrigar os investidores estrangeiros a comprar ações na Bovespa,
títulos da dívida do governo federal e
proibi-los de desinvestir, o que têm
feito nas últimas semanas, ao menos
na Bolsa. Se não der certo, Lula proibiria os investimentos estrangeiros,
evitando assim que mudanças no
humor gringo balancem os mercados do país. Ficaríamos mais pobrinhos, mas limpinhos, digamos;
6) Proibir os avanços em matemática, computação e finanças, que
criaram o cassino de que fala o presidente, cassino que aliás teve início
na Itália, nos séculos 13 e 14;
7) Obrigar os vagabundos (investidores) a trabalhar, proibindo-os de
fazer aplicações financeiras. O decreto teria efeito mundial e retroativo. Por exemplo, todos os vagabundos brasileiros que investiram em títulos da dívida do governo devolveriam os juros que receberam, mais
de R$ 1 trilhão em cerca de uma década;
8) Melhor ainda: proibir a existência de mercados financeiros. Quem
quiser investir que compre um cofre
de porquinho e junte aí o dinheiro;
vinit@uol.com.br
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