São Paulo, sexta, 11 de setembro de 1998

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Governo brasileiro joga a toalha e espera ação dos países do G-7

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

O governo brasileiro jogou a toalha, como deixou claro a entrevista de ontem do presidente Fernando Henrique Cardoso, e passou a apostar todas as suas fichas em alguma ação internacional coordenada pelo G-7, o clube dos sete países mais ricos do mundo, para estancar o que, no próprio governo, se define como "pânico em todos os mercados".
A frase do presidente é eloquente: "Eles (os líderes do mundo) têm que perceber que estamos nos aproximando de uma situação no mundo -repito, não no Brasil, mas no mundo- que requer mais energia (...) e decisões mais firmes por parte dos que têm a liderança".
Essa mesma mensagem, aliás, já havia sido levada diretamente pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan, aos responsáveis pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) e ao secretário norte-americano do Tesouro, Robert Rubin. Foi durante a reunião do FMI com ministros de Economia das Américas, há uma semana.
Malan chegou a dizer que declarações já não bastavam para tranquilizar os mercados e/ou para estabelecer uma diferenciação entre os emergentes. Era hora de ações.
O próprio diretor-gerente do Fundo, Michel Camdessus, concordou em que era preciso estabelecer mecanismos destinados a impor alguma racionalidade aos mercados. Determinou, também, estudos a respeito de que mecanismos poderiam ser esses, conforme a Folha antecipou anteontem.
De lá para cá, no entanto, a situação de pânico só se alastrou. De tal forma que a avaliação do Ministério da Fazenda é a de que "governo algum pode ficar reagindo com a velocidade com que os mercados reagem".
A causa principal do pânico, em relação aos mercados emergentes, é simples de enunciar: está havendo uma encolhida gigantesca de recursos para esses países.
No caso específico do Brasil, aos fatores externos, soma-se a reconhecida fragilidade das contas públicas e das contas externas.
Foi para tentar combater ao menos a percepção sobre essa fragilidade que o governo baixou o mini-pacote fiscal de terça-feira.
Antes, para tentar conter a fuga de dólares, aumentara os juros.
Não funcionou, pelo menos até ontem, por dois motivos básicos, sempre segundo as avaliações obtidas pela Folha:
1 - O ajuste fiscal veio tarde. Deveria ter sido feito no início do ano, quando houve uma relativa calmaria em meio à turbulência então confinada à Ásia.
2 - Há um déficit de credibilidade porque o pacote fiscal de outubro não foi implementado.
O segundo ponto é crucial, porque, em momentos de pânico, credibilidade passa a ser fator ainda mais fundamental.
Tudo somado, chegou-se ao ponto de jogar a toalha e passar a confiar numa improvável ação coordenada dos países ricos.
Improvável porque o mais rico e, por isso, mais influente de todos, os EUA, estão totalmente paralisados pela abertura do processo que pode conduzir ao impeachment do presidente Bill Clinton.
Quanto tempo o governo brasileiro pode esperar para que ocorra a desejada coordenação internacional? Ante a contínua fuga de capitais, o tempo passou a ser mais curto de hora em hora, o que leva o mercado a especular com medidas na única área em que o governo não mexeu, o câmbio.
Todos os analistas ouvidos pela Folha, no Brasil e no exterior, desaconselham fortemente uma desvalorização cambial agora. O governo, por sua vez, jura que não adotará, nessa área "nenhuma medida de restrição ao mercado", como disse anteontem o ministro do Planejamento, Paulo Paiva, e repetiu ontem o diretor do BC Francisco Lopes.
Mas o mercado desconfia também dessas juras, tanto que especula com duas possibilidades: a centralização do câmbio, mecanismo pelo qual toda entrada e saída de dólares passaria pelo Banco Central, ou o alargamento da banda cambial, o que representaria, na prática, a desvalorização.
Fora isso, a alternativa seria aumentar ainda mais os juros, outra providência que Francisco Lopes descartou ontem.



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