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Governo brasileiro joga a toalha
e espera ação dos países do G-7
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
O governo brasileiro jogou a
toalha, como deixou claro a entrevista de ontem do presidente Fernando Henrique Cardoso, e passou a apostar todas as suas fichas
em alguma ação internacional
coordenada pelo G-7, o clube dos
sete países mais ricos do mundo,
para estancar o que, no próprio
governo, se define como "pânico
em todos os mercados".
A frase do presidente é eloquente: "Eles (os líderes do mundo)
têm que perceber que estamos nos
aproximando de uma situação no
mundo -repito, não no Brasil, mas
no mundo- que requer mais energia (...) e decisões mais firmes por
parte dos que têm a liderança".
Essa mesma mensagem, aliás, já
havia sido levada diretamente pelo
ministro da Fazenda, Pedro Malan, aos responsáveis pelo FMI
(Fundo Monetário Internacional)
e ao secretário norte-americano
do Tesouro, Robert Rubin. Foi
durante a reunião do FMI com ministros de Economia das Américas, há uma semana.
Malan chegou a dizer que declarações já não bastavam para tranquilizar os mercados e/ou para estabelecer uma diferenciação entre
os emergentes. Era hora de ações.
O próprio diretor-gerente do
Fundo, Michel Camdessus, concordou em que era preciso estabelecer mecanismos destinados a
impor alguma racionalidade aos
mercados. Determinou, também,
estudos a respeito de que mecanismos poderiam ser esses, conforme
a Folha antecipou anteontem.
De lá para cá, no entanto, a situação de pânico só se alastrou. De
tal forma que a avaliação do Ministério da Fazenda é a de que
"governo algum pode ficar reagindo com a velocidade com que
os mercados reagem".
A causa principal do pânico, em
relação aos mercados emergentes,
é simples de enunciar: está havendo uma encolhida gigantesca de
recursos para esses países.
No caso específico do Brasil, aos
fatores externos, soma-se a reconhecida fragilidade das contas públicas e das contas externas.
Foi para tentar combater ao menos a percepção sobre essa fragilidade que o governo baixou o mini-pacote fiscal de terça-feira.
Antes, para tentar conter a fuga
de dólares, aumentara os juros.
Não funcionou, pelo menos até
ontem, por dois motivos básicos,
sempre segundo as avaliações obtidas pela Folha:
1 - O ajuste fiscal veio tarde. Deveria ter sido feito no início do
ano, quando houve uma relativa
calmaria em meio à turbulência
então confinada à Ásia.
2 - Há um déficit de credibilidade porque o pacote fiscal de outubro não foi implementado.
O segundo ponto é crucial, porque, em momentos de pânico,
credibilidade passa a ser fator ainda mais fundamental.
Tudo somado, chegou-se ao
ponto de jogar a toalha e passar a
confiar numa improvável ação
coordenada dos países ricos.
Improvável porque o mais rico
e, por isso, mais influente de todos, os EUA, estão totalmente paralisados pela abertura do processo que pode conduzir ao impeachment do presidente Bill Clinton.
Quanto tempo o governo brasileiro pode esperar para que ocorra
a desejada coordenação internacional? Ante a contínua fuga de
capitais, o tempo passou a ser
mais curto de hora em hora, o que
leva o mercado a especular com
medidas na única área em que o
governo não mexeu, o câmbio.
Todos os analistas ouvidos pela
Folha, no Brasil e no exterior, desaconselham fortemente uma desvalorização cambial agora. O governo, por sua vez, jura que não
adotará, nessa área "nenhuma
medida de restrição ao mercado",
como disse anteontem o ministro
do Planejamento, Paulo Paiva, e
repetiu ontem o diretor do BC
Francisco Lopes.
Mas o mercado desconfia também dessas juras, tanto que especula com duas possibilidades: a
centralização do câmbio, mecanismo pelo qual toda entrada e
saída de dólares passaria pelo Banco Central, ou o alargamento da
banda cambial, o que representaria, na prática, a desvalorização.
Fora isso, a alternativa seria aumentar ainda mais os juros, outra
providência que Francisco Lopes
descartou ontem.
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