São Paulo, sexta, 11 de setembro de 1998

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MERCADO TENSO
Presidente afirma que novos cortes comprometeriam país
FHC diz que Brasil está no limite e pede ajuda externa

Alan Marques/Folha Imagem
O presidente Fernando Henrique Cardoso durante entrevista ontem no Palácio do Planalto, em Brasília


da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que o governo chegou ao limite máximo de cortes de gastos que podem ser feitos sem comprometer o funcionamento do país. Descartou ainda uma elevação nas taxas de juros e mandou um recado para o mercado que pressiona por uma nova alta: "É preciso ver que existem limites".
Em entrevista concedida após cerimônia no Palácio do Planalto, FHC contestou as críticas às medidas fiscais anunciadas na semana. "Nós chegamos realmente ao limite máximo do que é possível fazer sem comprometer as atividades necessárias para o funcionamento do país."
Ao comentar a política de juros, o presidente criticou a especulação no mercado financeiro. "Os juros já foram aumentados, não posso sacrificar o país por causa de uma ganância que não tem base em uma situação real e quer, simplesmente, aproveitar uma conjuntura internacional", disse.
Apesar de afirmar que os juros não subiriam, FHC disse que o tamanho das taxas de juros é decidido pela força do mercado. "Juros, quem decide não sou eu. Quem decide é a força de mercado."
Em seguida, o presidente sinalizou que o governo não pretende aceitar as pressões do mercado pela alta de juros. "Mas é preciso também ver que existem limites. Nós não estamos falando com o sentido de ameaçar ou não ameaçar, até porque não é o meu estilo."
No momento em que FHC falava com a imprensa, às 13h15, as Bolsas de São Paulo e do Rio de Janeiro já haviam acionado pela primeira vez no dia o sistema anticrash, mecanismo que interrompe o pregão por meia hora quando o índice de queda atinge 10%. À tarde o mecanismo foi usado pela segunda vez, quando a queda atingiu 15%.
FHC interpretou a reação negativa das Bolsas como uma avaliação inadequada do mercado às medidas econômicas apresentadas para conter os efeitos da crise asiática.
"Quero dizer que as medidas foram muito profundas, provavelmente há uma percepção inadequada dessas medidas. Não é fácil, às vésperas das eleições, tomar medidas que significam um corte muito grande, sendo que este é um Orçamento que já foi muito cortado", disse.
O presidente procurou transmitir tranquilidade durante a entrevista concedida após a condecoração do ex-presidente da Fifa (Federação Internacional de Futebol Association) João Havelange com a Ordem Nacional do Mérito.

Medidas claras
FHC disse que não estava pedindo apoio direto do FMI (Fundo Monetário Internacional), mas que esperava que os líderes do mundo tomassem medidas mais claras quanto à instabilidade financeira global.
Ele citou uma declaração dada às agências internacionais por Stanley Fischer, do FMI, dizendo que confia no Brasil.
"Queremos, como acabou de fazer Stanley Fischer, que ele explique ao mundo que as coisas aqui estão bem, que os chamados fundamentos da economia estão funcionando e que não é possível que, por causa de decisões precipitadas ou análises superficiais sobre os efeitos dessas medidas, repito, que foram duríssimas, se comece a fazer uma nova onda especulativa", disse.
O presidente disse que espera uma ação mais enérgica dos países integrantes do G-7 (os sete países mais ricos do mundo). "Acho que os líderes do mundo devem se articular para pôr um paradeiro a essa especulação desenfreada."
Segundo FHC, o mundo, incluindo o Brasil, não pode "entrar no jogo" do mercado. "Há momentos em que o país é que tem que pôr e dispor."
(VANESSA HAIGH e RENATA GIRALDI)



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