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TRANSE
Seca de moeda dos EUA, concentração de dívidas e incertezas políticas fazem a cotação ir a R$ 3,99, novo recorde
Sem controle, dólar dispara e bate nos R$ 4
ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL
O dólar chegou a ser negociado
a R$ 4 ontem e fechou próximo a
este valor, cotado a R$ 3,99, em alta de 2,97% -novo recorde do
real. No ano, a alta é de 72,4%.
A pressão no dólar vem de motivos que se repetem há algumas
semanas: a incerteza política e a
forte concentração de vencimentos de dívidas dos setores público
e privado neste mês.
O mercado de câmbio opera há
meses com liquidez reduzida. O
crédito externo ao Brasil secou
diante da possível vitória de um
candidato de oposição nas eleições presidenciais e da aversão
mundial ao risco, após as fraudes
financeiras de empresas dos EUA.
Quem tem dólares em mãos
não quer se desfazer da moeda,
por avaliar que está protegido
contra toda a turbulência atual.
Dessa forma, qualquer operação concluída no mercado, por
menor que seja, terá forte impacto no fechamento do dólar.
Desde o início da semana, empresas têm comprado a moeda,
devido à necessidade de quitar os
cerca de US$ 700 milhões em débitos do setor privado que vencem nos próximos dias e não têm
condições de serem renovados.
Nas últimas semanas, o Banco
Central havia sido praticamente o
único vendedor da moeda, por
meio de oferta de dólares no mercado à vista e de leilões de crédito
ou linha externa. "Mas, ontem, o
BC atuou como comprador e intensificou a alta", avalia Maurício
Zanella, do Lloyds TSB.
No próximo dia 17 vencem US$
3,6 bilhões em dívida do governo
atrelada ao dólar. Ontem, a autoridade monetária resgatou cerca
de R$ 311 milhões de papéis que
compõem esse vencimento.
"Como o BC aceitou pagar parte
desses papéis ao mercado, comprando dólar acima R$ 3,90, ele
acabou causando uma tensão ainda maior no final das negociações", diz Zanella.
Até ontem, o BC renovou cerca
de 16% dessa dívida e o mercado
avalia que ele não conseguirá renovar muito mais do que isso. Como os papéis deverão ser resgatados, o mercado começa a pressionar a cotação para influenciar o
Ptax (preço médio do dólar medido diariamente pelo BC) que será
utilizado para balizar o vencimento do contrato e aumentar, assim
seus ganhos. Na semana passada,
houve a mesma movimentação.
Ao resgatar parte do vencimento ontem, segundo os analistas, o
BC tentou desanuviar um pouco a
forte concentração do dia 17 e
também diminuir o volume de
sua dívida atrelada ao câmbio.
Mas a atitude não foi vista com
bons olhos pelo mercado, uma
vez que ele aceitou pagar um dólar caro.
A entrevista concedida pelo
presidente da instituição, Armínio Fraga, na quarta-feira, após o
fechamento do mercado, dividiu
os analistas ontem.
Alguns consideraram que Armínio agiu corretamente ao alertar para o fato de que o país vive
uma crise de confiança e defendem a atual política do BC.
"De nada adianta o BC ficar
queimando reservas agora para
tentar conter o dólar. Isso demonstra uma atitude séria e responsável da atual equipe econômica", avalia Alan Gandelman, da
corretora Ágora Sênior.
"Uma deterioração muito forte
das reservas poderia piorar ainda
mais as já problemáticas condições do novo governo", diz.
Os críticos afirmam que, ao declarar que os instrumentos de a
ação do BC já são conhecido e que
não há muito mais o que fazer, o
BC praticamente declarou que
"jogou a toalha", como afirma
Helio Osaki, analista da Finambras. "Não havia a necessidade de
ele dar aquelas declarações, em
especial quando o mercado espera por atitudes do BC", diz.
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