São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 2002

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TRANSE

Para Amaury Bier, meta de superávit fiscal de 3,75% do PIB para 2003 não deve ser alterada por causa da alta do dólar

Crise não muda meta com FMI, diz governo

VIVALDO DE SOUSA
COORDENADOR DE ECONOMIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Amaury Bier, disse que a alta do dólar verificada nos últimos dias e a piora no cenário econômico não devem levar ao aumento da meta fiscal acertada com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para 2003.
Assim como outros integrantes da equipe econômica, Bier pediu mais clareza nas propostas econômicas do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera a disputa para a Presidência.
Em 2003, a meta de superávit primário (economia de receita para o pagamento de juros) foi fixada em 3,75% do PIB (Produto Interno Bruto), o que representa cerca de R$ 53 bilhões. Questionado sobre o aumento da meta fiscal, ele afirmou: "Eu não creio".
"O que está afetando mais o cenário é a taxa de câmbio, e o nível que ela atingiu, em termos reais, é totalmente insustentável", disse Bier, que deu entrevista à Folha pela manhã, antes de a cotação da moeda americana chegar a R$ 4.

 

Folha - Como o governo está vendo o cenário de instabilidade das últimas semanas, que se reflete principalmente na alta da cotação do dólar?
Amaury Bier -
Dois fatores importantes explicam essa instabilidade. O primeiro deles, que é um fator que não afeta somente o Brasil, mas todas as economias do mundo, está associado ao ambiente internacional, de pouquíssimo crescimento das economias desenvolvidas. Há uma retração também nos fluxos de capitais e um aumento grande da aversão dos investidores ao risco. Há ainda uma incerteza forte em relação ao futuro da política econômica no Brasil associada às incertezas do processo eleitoral. Ou seja, todo o processo de formação de expectativas sobre o futuro da economia depende, em grande medida, do que os agentes econômicos percebem como sendo o futuro da economia. Visivelmente, não há clareza com relação a isso.

Folha - Não há clareza do candidato da oposição ou do candidato governista?
Bier -
A percepção, pelo menos a que eu consegui apreender das conversas que tive com investidores estrangeiros, está muito centrada em relação ao candidato que lidera as pesquisas há algum tempo. Portanto é muito mais associada às políticas que o eventual governo Lula venha a implementar e ao fato de o discurso do PT ter se modificado recentemente. De fato, o partido se comprometeu com pilares da política econômica, como respeito aos contratos, manutenção da inflação baixa, equilíbrio fiscal e regime de câmbio flutuante, coisas dessa natureza.

Folha - Tudo indica que o dólar deve se estabilizar numa cotação maior. É possível evitar essa alta do dólar nos dias que antecedem o vencimento de títulos com correção cambial?
Bier -
É evidente que há interesse em evitar que a taxa de câmbio saia do controle. Todos os esforços estão voltados para isso, mas não podemos imaginar uma situação em que o Banco Central anule todas as incertezas que afetam o mercado de câmbio. Isso não é razoável e não acontece dessa forma.

Folha - Em entrevista na quarta-feira, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, deu a entender que não há muito o que fazer?
Bier -
O governo vai continuar governando e tomando as medidas que achar necessárias até o final do ano. Agora, algo que possa reverter esse ambiente não está ao alcance deste governo, que tem prazo determinado para terminar. Daí a importância da manifestação de quem assumirá a partir de janeiro de 2003. Por isso, a sinalização sobre o futuro é importante.

Folha - Em novembro será feita a primeira revisão do acordo com o FMI. Será necessário aumentar a meta fiscal?
Bier -
Eu não creio. O que está afetando mais o cenário é a taxa de câmbio, e o nível que ela atingiu em termos reais é um nível totalmente insustentável. Não há quem possa imaginar que a taxa de câmbio permaneça nesse patamar em termos reais. Tenho convicção de que as coisas vão melhorar tão logo o presidente eleito faça uma definição clara da sua política econômica, associando prática e discurso.


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