São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 2002

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VAREJO

Supermercados e fabricantes não chegam a acordo

Impasse em negociação pode reduzir variedade de marcas nas prateleiras

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O consumidor pode se preparar para uma drástica redução no número de marcas nas prateleiras. Redes de supermercado que estiveram reunidas nessa semana com fabricantes de açúcar, arroz e massas não conseguiram chegar a um acordo. Empresas líderes nesses setores querem aumentos nos preços, a partir de novembro, de 20% a 35%. Essa é a segunda rodada de reajustes depois da proposta pelos fabricantes em setembro, que variava de 8% a 12%. Ainda não se confirma o risco de desabastecimento.
Como não houve consenso entre as partes, segundo a Folha apurou ontem com participantes das negociações, haverá uma "limpeza nas prateleiras", com menos marcas por causa da falta de acordo. A estratégia do varejo é a seguinte: caso não exista avanços nas conversas dentro de três semanas, o espaço nas prateleiras das marcas líderes deve ser ocupado por fabricantes regionais.
Segundo executivos que estiveram reunidos com as indústrias, a situação chegou a tal ponto que não há apenas gerentes de compras e diretores envolvidos nas conversas. Presidentes de redes varejistas têm mantido contato com os donos das empresas para tentar resolver cordialmente a questão. Segundo a Folha apurou, a alta cúpula da Nestlé arrematou acordos recentes que estavam empacados.
Há cerca de duas semanas, por exemplo, o presidente da Adria, Sérgio Almeida, abandonou o estande da empresa numa feira de alimentos, no Rio, para uma reunião de emergência em São Paulo. O assunto: reajuste de preços.
"Trocamos as equipes quando alguma conversa não dá resultado e já há interferência direta da presidência", diz o executivo de uma grande rede varejista.
Nas recentes negociações de preço entre varejo e indústria, os bastidores são uma análise à parte. Quando as reuniões entre as partes para discutir preços acabam, há casos em que a indústria anuncia que conseguiu repassar o aumento, como no caso das massas. Mas o varejo nega que os acordos estejam acontecendo.
Na prática, a questão esbarra naquilo que o varejo e a indústria não abrem mão: a margem de lucro, comprimida desde o final de 2000. Ninguém quer vender tendo de reduzir seus ganhos ainda mais. Por essa razão, logo haverá menos marcas nas prateleiras.
Outra saída das lojas para driblar a crise, diz o Carrefour, consiste em trocar o produto nacional caro pelo importado mais barato. Isso inverte a regra dos negócios. Em vez de comprar menos mercadorias do exterior -cobradas em dólar- e encher as prateleiras só de itens locais, há uma tentativa de fazer o oposto.
O Carrefour comprou dois milhões de litros de óleo de girassol da Argentina. O produto irá substituir, temporariamente, o óleo de soja. A soja é cotada em dólar no mercado internacional e, por isso, subiu de preço e chega a custar até R$ 2,49. No início do ano, estava em R$ 1,90.


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