São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 2002

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TRABALHO

Previsão é da Fiesp, que divulgou ontem que o emprego teve o pior desempenho para os meses de setembro desde 95

Indústria fechará o dobro de vagas de 2001

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O nível de emprego no setor industria paulista registrou no mês passado o pior desempenho para um mês de setembro desde 1995. Foram fechadas 11.297 vagas, o que fez com que o emprego industrial caísse 0,73%. Mais: a indústria paulista deve fechar esse ano 65 mil vagas, o que representa o dobro das perdidas em 2001.
Os números foram apresentados ontem pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), com base na pesquisa mensal de emprego promovida pela entidade junto a 47 sindicatos patronais da indústria. Destes, 24 relataram aumento no número de empregados, em 18 houve queda no nível de emprego e outros cinco tiveram desempenho estável. O problema é que setores com maior peso na pesquisa (por serem grandes empregadores) estão entre os que registraram queda no nível de emprego. Entre eles, o de autopeças (variação negativa de 0,68%) e de automotores (queda de 0,46% no mês).
Segundo a Fiesp, em setembro de 1995, até então o pior ano para o setor desde que a pesquisa começou a ser feita, a queda no nível de emprego fora de 1,28% -em termos absolutos significa corte de 27.257 vagas. No ano passado, mesmo com o apagão, a variação negativa no mês fora de 0,14%.
De janeiro a setembro deste ano, foram cortadas 51.712 vagas. Somente em um mês, o de abril, o emprego industrial não recuou em São Paulo. E o resultado de setembro só não foi pior, em 2002, que o de agosto (quando foram cortadas 15.359 vagas).
Mas, se naquele período, a queda do nível de emprego estivera atrelada a fatores como a ajustes dos estoques nas indústrias (uma vez que o varejo estava adiando as compras de final de ano), em setembro os efeitos da "crise da falta de dinheiro", como denominou ontem o diretor da Fiesp, Roberto Faldini, recrudesceram.
"Os fatores principais para o resultado de setembro são a falta de renda para consumir e a falta de recursos para financiar compras", diz Faldini. "Não fosse o desempenho de setores exportadores, os números seriam muito mais catastróficos", completou.
De fato, setores como a indústria calçadista de Franca, que apresentou alta de 2,34% no nível de emprego, figuram entre aqueles que compensam a queda na demanda no mercado interno com vendas ao exterior -apoiadas ainda por uma taxa de câmbio alta.

Pode ser pior
Desde 1995, em apenas um ano, o de 2000, período de expansão da economia brasileira e mundial, o setor industrial paulista não fechou com queda no número de vagas. Naquele ano, o saldo positivo (consideradas vagas abertas e fechadas) foi de mais 27,416 mil vagas. Em 2001, o saldo acumulado resultou na perda de 32.437 vagas.
Mas a considerar os números dos últimos três meses, a previsão de corte de 65 mil vagas em 2002 feita pela Fiesp pode ser tomada como "otimista". Em julho, por exemplo, foram perdidas 8.147 vagas. No mês seguinte, mais 15,3 mil vagas e setembro, 11,3 mil.
Como de janeiro até setembro foram perdidas mais de 51 mil vagas, para que a previsão de perda de "somente" 65 mil vagas no ano se confirme seria necessário que em outubro, novembro e dezembro, a média mensal de vagas perdidas não superasse 4,6 mil. O retrospecto do ano passado tampouco é animador: os três últimos meses de 2001 foram de queda no nível de emprego na indústria do Estado de São Paulo.
A direção da Fiesp argumenta que um outro fator (para além das constantes crises) pode estar influindo na perda de vagas na indústria paulista nos últimos anos: a migração de indústrias para outros Estados, fomentada pelos altos custos de produção em São Paulo e pela guerra fiscal dos Estados. Entre os setores, estariam, por exemplo, o têxtil, com a transferência de empresas para o Ceará, e o químico, para a Bahia.


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