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FOLHAINVEST
MERCADO FINANCEIRO
Para economistas, a queda do dólar favorece o combate à inflação, e BC deverá esperar para agir
Analistas não vêem intervenção no câmbio
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O Banco Central não deverá intervir no câmbio por meio da
compra de dólares, ao menos no
curto prazo. Essa é a avaliação de
analistas do mercado financeiro,
que estimam que pelo menos por
cerca de um mês o dólar permaneça abaixo de R$ 2,90.
Com a apreciação do câmbio,
que se aproxima do mais baixo
patamar do ano, registrado em janeiro (quando o dólar bateu em
R$ 2,802), investidores se perguntam até que ponto a autoridade
monetária deixaria o câmbio flutuar, sem entrar no mercado
comprando a moeda.
Na sexta-feira passada, o câmbio fechou a R$ 2,829, uma queda
de 11,87% em relação ao maior pico do ano, de R$ 3,21, em 20 de
maio. Como o Banco Central
prioriza a inflação e o câmbio baixo o auxilia nessa tarefa, tudo indica que a autoridade monetária
evitará o quanto puder desvalorizar a moeda.
"O Banco Central não deve intervir no câmbio porque tem demonstrado forte preocupação
com a trajetória futura de inflação. Seria desnecessário e incompatível com esse temor da inflação", diz Nathan Blanche, sócio
da Tendências Consultoria.
"Não vai comprar no curto prazo", concorda Darwin Dib, economista do Unibanco. "A prioridade hoje é criar ambiente para
reduzir expectativas de inflação
do mercado."
A avaliação predominante no
mercado é que, no atual cenário
favorável, nada, além de uma forte compra de dólar do BC, alteraria a trajetória do câmbio. Segundo analistas, é baixa a procura por
proteção cambial, apesar de a autoridade monetária ter decidido
não rolar a dívida cambial.
A valorização do câmbio nominal foi o principal fator para a
queda observada pelo relatório
Focus, do BC, da expectativa média de inflação para os próximos
12 meses. Também para o IPCA
(Índice de Preços ao Consumidor
Amplo) de setembro, a projeção
caiu, segundo o Focus.
"Isso e nada mais explica a queda da expectativa para 12 meses.
Não tem nada a ver com as recentes decisões da autoridade monetária", diz Dib. No mês passado, o
Copom (Comitê de Política Monetária) elevou em 0,25 ponto
percentual, para 16,25%, a taxa
básica de juros.
A estratégia usada pelo Banco
Central para recompor as reservas internacionais também indica
preocupação em não afetar a taxa
de câmbio. O governo preferiu a
emissão soberana à intervenção
no mercado à vista de câmbio, como havia feito em janeiro.
"O BC usa emissões para não
alavancar as expectativas de inflação", afirma Dib. "Teme comprar
dólar e provocar depreciação do
câmbio e elevar a expectativa de
inflação", completa.
Para Blanche, o real, porém, deve voltar a se depreciar a partir do
início de novembro. "O fluxo
cambial, que não é favorável no
último trimestre deste ano, e a
tendência de redução na oferta de
hedge pelo BC devem fazer o dólar voltar à casa de R$ 2,90."
Segundo Blanche, as pressões
sobre o câmbio viriam da saída de
recursos para amortização de dívidas do setor privado e via CC5,
do baixo nível de rolagem daquelas dívidas e de exportadores que
estão embarcando mais mercadorias do que fechando câmbio.
"A intervenção no câmbio para
evitar uma maior apreciação do
real é desnecessária porque ele vai
se depreciar naturalmente", diz.
Para Dib, por enquanto, o cenário é favorável a esse patamar de
dólar, por causa do saldo da balança comercial, além do baixo
risco Brasil e do refinanciamento
de dívida externa.
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