São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2004

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FOLHAINVEST

MERCADO FINANCEIRO

Para economistas, a queda do dólar favorece o combate à inflação, e BC deverá esperar para agir

Analistas não vêem intervenção no câmbio

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central não deverá intervir no câmbio por meio da compra de dólares, ao menos no curto prazo. Essa é a avaliação de analistas do mercado financeiro, que estimam que pelo menos por cerca de um mês o dólar permaneça abaixo de R$ 2,90.
Com a apreciação do câmbio, que se aproxima do mais baixo patamar do ano, registrado em janeiro (quando o dólar bateu em R$ 2,802), investidores se perguntam até que ponto a autoridade monetária deixaria o câmbio flutuar, sem entrar no mercado comprando a moeda.
Na sexta-feira passada, o câmbio fechou a R$ 2,829, uma queda de 11,87% em relação ao maior pico do ano, de R$ 3,21, em 20 de maio. Como o Banco Central prioriza a inflação e o câmbio baixo o auxilia nessa tarefa, tudo indica que a autoridade monetária evitará o quanto puder desvalorizar a moeda.
"O Banco Central não deve intervir no câmbio porque tem demonstrado forte preocupação com a trajetória futura de inflação. Seria desnecessário e incompatível com esse temor da inflação", diz Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria.
"Não vai comprar no curto prazo", concorda Darwin Dib, economista do Unibanco. "A prioridade hoje é criar ambiente para reduzir expectativas de inflação do mercado."
A avaliação predominante no mercado é que, no atual cenário favorável, nada, além de uma forte compra de dólar do BC, alteraria a trajetória do câmbio. Segundo analistas, é baixa a procura por proteção cambial, apesar de a autoridade monetária ter decidido não rolar a dívida cambial.
A valorização do câmbio nominal foi o principal fator para a queda observada pelo relatório Focus, do BC, da expectativa média de inflação para os próximos 12 meses. Também para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de setembro, a projeção caiu, segundo o Focus.
"Isso e nada mais explica a queda da expectativa para 12 meses. Não tem nada a ver com as recentes decisões da autoridade monetária", diz Dib. No mês passado, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou em 0,25 ponto percentual, para 16,25%, a taxa básica de juros.
A estratégia usada pelo Banco Central para recompor as reservas internacionais também indica preocupação em não afetar a taxa de câmbio. O governo preferiu a emissão soberana à intervenção no mercado à vista de câmbio, como havia feito em janeiro.
"O BC usa emissões para não alavancar as expectativas de inflação", afirma Dib. "Teme comprar dólar e provocar depreciação do câmbio e elevar a expectativa de inflação", completa.
Para Blanche, o real, porém, deve voltar a se depreciar a partir do início de novembro. "O fluxo cambial, que não é favorável no último trimestre deste ano, e a tendência de redução na oferta de hedge pelo BC devem fazer o dólar voltar à casa de R$ 2,90."
Segundo Blanche, as pressões sobre o câmbio viriam da saída de recursos para amortização de dívidas do setor privado e via CC5, do baixo nível de rolagem daquelas dívidas e de exportadores que estão embarcando mais mercadorias do que fechando câmbio. "A intervenção no câmbio para evitar uma maior apreciação do real é desnecessária porque ele vai se depreciar naturalmente", diz.
Para Dib, por enquanto, o cenário é favorável a esse patamar de dólar, por causa do saldo da balança comercial, além do baixo risco Brasil e do refinanciamento de dívida externa.

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