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CAPITALISMO VERMELHO
Com reservas equivalentes ao PIB brasileiro, chineses buscam oportunidades de investimento no exterior
Brasil tenta atrair sobra de caixa da China
CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM
Com reservas internacionais de
US$ 470,6 bilhões e a determinação do governo de internacionalizar sua economia, a China tem o
potencial de se transformar em
uma fonte crescente de investimentos em outros países e pode
desempenhar no Brasil o mesmo
papel que o Japão teve nos anos
70, quando financiou o desenvolvimento de indústrias como a siderúrgica e a de celulose.
O Brasil tem o que a China busca no exterior: recursos naturais
em abundância e uma produção
agrícola que pode ajudar a alimentar parte de seu 1,3 bilhão de
habitantes. E a China tem o que o
Brasil precisa: recursos de sobra
para projetos industriais e de infra-estrutura.
A acumulação de reservas internacionais começa a ameaçar a estabilidade da economia asiática,
pois aumenta as pressões pela valorização do yuan e leva à expansão acelerada da quantidade de
dinheiro em circulação na economia, o que pode neutralizar os esforços do governo de manter sob
controle o ritmo de expansão do
PIB nacional.
Um dos caminhos de aumento
das reservas é a compra pelo banco central da montanha de dólares que entra no país a cada mês, e
a entrega de yuans em troca.
No mês de junho, as reservas alcançaram US$ 470,6 bilhões, valor comparável ao PIB do Brasil
-ou seja, à soma de todos os
bens e serviços que o país produz
durante um ano. Pelos cálculos do
FMI (Fundo Monetário Internacional), as reservas chegarão a
US$ 558 bilhões no próximo ano.
Economia complementar
"A promoção da saída de capitais é um imperativo da política
monetária do país", afirma o cônsul do Brasil em Xangai, João de
Mendonça Lima Neto, que escreveu um estudo sobre investimentos chineses no Brasil.
Apesar da complementaridade
entre as duas economias e da confortável posição das reservas chinesas, os investimentos do país
asiático no Brasil ainda são irrisórios. No fim de 2003, o estoque era
de US$ 38 milhões, menos que os
US$ 140 milhões acumulados, por
exemplo, pela Libéria, e anos-luz
abaixo dos US$ 24,5 bilhões dos
Estados Unidos.
Mas a expectativa é que esse
quadro mude rapidamente, com
a implementação de projetos que
estão sendo negociados por empresas dos dois países. O governo
brasileiro estima que a China poderá investir no curto prazo cerca
de US$ 5 bilhões no desenvolvimento de infra-estrutura e na
produção de insumos como aço.
O valor equivale à metade de todo o investimento estrangeiro
que o Brasil recebeu ao longo do
ano passado. A falta de informação é apontada como o principal
problema no relacionamento
com o Brasil por cerca de 600 empresários chineses que responderam pesquisa realizada pelo consulado em Xangai entre os que pediram vistos de negócios para o
país.
Mendonça observa que os empresários interessados em investir
na China encontram na internet
informações em vários idiomas
sobre os setores considerados
prioritários pelo governo, os incentivos existentes e os procedimentos a serem cumpridos.
Além disso, a China dá um tratamento preferencial ao investimento estrangeiro em relação ao
investimento nacional.
No Brasil, a Constituição iguala
os dois tipos de recursos e o Congresso se recusa a aprovar os chamados Acordos Bilaterais de Investimentos, que dão preferências
ao capital estrangeiro, entre as
quais está a utilização do foro de
outro país para a solução de controvérsias. "O capital estrangeiro
quer ter um tratamento mais favorável que o nacional", afirma
Mendonça, lembrando que a China já possui 107 acordos de investimentos e bitributação com outros países.
James Zhan, economista sênior
da Unctad (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e
Desenvolvimento), acredita que o
Brasil está bem posicionado para
receber os crescentes investimentos da Ásia, especialmente os chineses. Em sua opinião, um dos fatores mais importantes nessa
aproximação é a determinação de
autoridades de ambos os lados de
ampliar a cooperação econômica.
Os projetos de investimentos
chineses no Brasil deverão ganhar
impulso com a visita do presidente Hu Jintao ao país em novembro, como retribuição à viagem
que o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva fez à China em maio. Entre os estudos que poderão sair do
papel nos próximos meses está a
construção de uma siderúrgica no
Maranhão pela Companhia Vale
do Rio Doce em associação com a
chinesa Baosteel, a maior fabricante de aço da China.
A Vale também negocia investimento na área de alumínio com a
Chalco (China Aluminum
Group). Só esses dois projetos poderão representar desembolsos
de US$ 2 bilhões.
Além das reservas internacionais, outro fator crucial no aumento dos investimentos chineses é a política de internacionalização das empresas locais, batizada de "going global". Depois de
anos de crescimento ininterrupto
de quase dois dígitos, a China já
tem conglomerados empresariais
em condições de disputar mercado em outros países e aposta no
fortalecimento de suas próprias
multinacionais e marcas locais.
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