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Negócio levanta dúvidas sobre futuro do Real
Mercado questiona sobre continuidade de projetos de sustentabilidade do banco e a manutenção da marca e de executivos
Santander já manifestou a intenção de extinguir a marca Banco Real
em três anos, o que é questionado por publicitários
DA REPORTAGEM LOCAL
A incorporação do Banco
Real, associado à imagem de
sustentabilidade, pelo Santander levanta dúvidas de especialistas sobre o futuro de produtos socioambientais, como negociação de créditos de carbono, distribuição de fundos de
investimento "verdes", microcrédito e contas para universitários, além do financiamento
de projetos de energia alternativa, como a solar e a conversão
de veículos para gás natural.
Em documento aos acionistas, o Santander não menciona
como trabalhará esses produtos, que não têm uma divisão
específica no Brasil. Os produtos contam com forte apelo no
mercado brasileiro, tanto que
Bradesco e Itaú seguiram o caminho e desenvolveram equipes para cuidar do assunto.
"Carro-chefe do banco não
vai ser. Com certeza esse não
será o foco. Mas também diria
que eles não vão perder um
mercado em que são pioneiros.
Na Espanha há um apelo crescente para a sustentabilidade,
embora atrasado em relação
aos holandeses", disse Peter
Shaw, responsável pela análise
de bancos latino-americanos
da agência Fitch Ratings.
"O ABN liga bastante para isso [os produtos socioambientais] e vem desenvolvendo há
muito tempo, em linha com a
matriz. Alguns órgãos multilaterais, como Banco Mundial e o
BID [Banco Interamericano de
Desenvolvimento] têm linhas
especiais de crédito para isso.
Se o banco quiser manter o valor adicionado do negócio, tem
de preservar as coisas boas.
Bradesco e Itaú estão abrindo
os olhos para a sustentabilidade", disse Luis Miguel Santacreu, da Austin Rating.
Executivos cobiçados
Diferentemente da incorporação do Banespa, em que o
Santander teve de traçar planos
para demissão, desta vez o mercado está muito aquecido e com
falta de profissionais de talento
a partir dos níveis de gerente de
área negócios.
Para Santacreu, da Austin, o
Santander corre o risco de pagar caro para não perder profissionais que fizeram a liderança
do banco em segmentos como
atendimento a grandes empresas, atendimento a clientes de
alta renda e financiamento de
veículos novos e usados.
Segundo os bancários, 500
executivos de médio escalão
deixaram o Real nos últimos
meses por conta da incerteza
gerada com a venda mundial do
grupo. O banco não comenta.
"O Santander pode perder talentos importantes neste momento de transição. A concorrência pode levar os melhores
profissionais, pessoas que chefiam áreas inteiras de negócios.
Pode acontecer o mesmo que
ocorreu quando o BankBoston
foi incorporado pelo Itaú no
ano passado. Muitos [profissionais] caíram fora no momento
em que eram cortejados pela
concorrência", disse Santacreu.
Marca
Outro ponto de discussão é
quanto ao fim da marca Banco
Real, uma das mais bem trabalhadas pelo marketing brasileiro. No plano de incorporação
do Real, o Santander já afirmou
aos acionistas que deve extingui-la em até três anos, uma vez
que sua estratégia prevê a construção de uma marca única na
América Latina.
Para o publicitário Eduardo
Tomiya, da consultoria de marcas BrandAnalytics, a marca
Santander está "apenas engatinhando" se for comparada com
a do Real, avaliada no ano passado em US$ 834 milhões. À
época, a marca representava
9% dos US$ 9,266 bilhões de
valor de mercado do banco.
"A marca Real está consolidada. Tem uma identidade forte com a sustentabilidade. Para
o Santander, falta achar um diferencial que atribua uma identidade", disse Tomiya.
(TS)
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