São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2008

Próximo Texto | Índice

Mercado Aberto

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

Crise já afeta caixa do setor de condutores elétricos, diz sindicato

A crise econômica internacional já ameaça o setor de fios e cabos brasileiro, um dos principais fornecedores da indústria automotiva, eletrônica, de energia elétrica e de telecomunicações. Com o dólar em alta, os custos com matérias-primas importadas aumentam, e os ganhos das empresas caem, pois os contratos firmados nos últimos meses consideravam uma cotação do dólar quase 50% menor. As informações são do presidente do Sindicel (sindicato do setor), Sérgio Aredes.
Segundo ele, o primeiro efeito da crise foi a paralisação parcial dos contratos de condutores elétricos. "O nosso setor não aceita muito bem a indexação dos contratos e atua fortemente com preços fixos. O momento é de incerteza até para elaborar o preço dos produtos que serão entregues em 30 dias", afirma.
Os ganhos com a recente queda de cerca de 20% no preço das commodities, responsáveis por 80% do custo de produção do setor, foram anulados com a valorização do dólar, afirma o presidente do Sindicel. Na conta final, o custo da matéria-prima, principalmente alumínio e cobre, cresceu 30% nos últimos dois meses, diz.
Com custos maiores e ganhos menores, a redução do caixa das empresas já é uma realidade do setor. "Nosso custo é dolarizado, mas nosso preço é em real. Vendemos pelo mesmo valor, mas pagamos mais para produzir", afirma Aredes.
Diante desse cenário, as empresas já estão tentando rever contratos com os clientes para contemplar o valor do câmbio e não assumir prejuízos. No entanto, os próprios clientes também estão sendo afetados pela crise e já buscam formas de driblar seus efeitos.
"Alguns pedem prazos maiores de pagamento, e outros, que têm caixa disponível, querem descontos para pagar à vista, pois não sabem como estará o mercado nos próximos meses", disse o presidente do sindicato.
Até o momento, Aredes disse que a crise econômica ainda não provocou desabastecimento dos produtos, mas há um risco de isso acontecer já no final deste mês. E as próximas vítimas da crise serão os trabalhadores da indústria.
"Se não houver uma renegociação rápida entre a tríade fornecedores, fabricantes e clientes, o nível de ociosidade na indústria pode ultrapassar 50%, gerando grande volume de demissões", alerta.

COQUETEL ANTICRISE

A crise econômica já afeta a gastronomia de São Paulo. Bernard Roca, sócio do restaurante tailandês Thai Gardens, notou uma queda entre 20% e 30% no movimento nos últimos 15 dias. Segundo ele, os orçamentos para eventos no local para os próximos meses ainda não foram confirmados, comportamento que não é normal. Para ele, uma crise psicológica faz com que os clientes evitem gastos com restaurante. "Há uma redução nos grupos e no número de jantares corporativos. Hoje temos mais demanda de mesas para dois", afirma. Para contornar a crise, Roca aposta na inovação e no bom humor: "Estou estudando criar um coquetel anticrise para brincar com os clientes".

HEGEMONIA

Durante o 13º Meeting Internacional, que se realiza em Lisboa, uma comitiva de ministros, políticos e empresários brasileiros se encontrou ontem com o presidente de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, e o primeiro-ministro, José Sócrates. Na reunião, Cavaco Silva fez a seguinte avaliação da crise: "Será difícil, longa, dolorida, mas será superada. Depois da crise, será formado um novo eixo com novas forças econômicas em que os Estados Unidos não terão a mesma força hegemônica que tiveram até agora".

BOLSA:
SEMANA FOI A PIOR DE NY, MAS BOVESPA JÁ TEVE PERDAS MAIORES

Os sinais de que a economia dos EUA está a um passo da recessão, fizeram desta a pior semana de Wall Street da história, segundo levantamento da Economática. Com queda de 18,15% no índice Dow Jones, a variação superou a semana do 11 de setembro de 2001, terceira colocada no ranking da Bolsa de Nova York. Apesar de cair mais no período -20,01%-, a Bovespa já teve outras cinco semanas piores que esta desde 1986, afirma a Economática. A maior queda da Bovespa em uma semana foi em 23 de março de 1990, com perda de 49,41% no Ibovespa.

MÁQUINAS:
DEMANDA MENOR DERRUBA PREÇO EM LEILÃO

Paulo Scaff, diretor-superintendente da Superbid, uma das líderes do setor de leilões eletrônicos, já sente o reflexo da crise econômica na redução dos preços dos produtos vendidos nos últimos 30 dias. Segundo ele, a venda de máquinas teve uma redução de preços de cerca de 5%. Já os produtos ligados a commodities, como sucata, saíram por preços de 15% a 20% menores no período. Scaff diz que não houve queda da oferta de produtos nos leilões. A demanda, porém, caiu e puxou a redução de preços. "Quem compra para revender está esperando a turbulência passar."

SALVA-VIDAS
De acordo com Mario Radesca, representante uruguaio do setor de autopeças, o acordo bilateral firmado com o Brasil neste ano ganha importância num contexto de crise econômica. "Os negócios com o Brasil podem ajudar a manter o patamar das exportações do setor automotivo uruguaio mesmo com a crise", disse Radesca, que está em São Paulo para participar da feira setorial Automec, que encerra hoje.

MARIA FUMAÇA
Anthony Hatch, consultor da Association of American Railroads e articulista do "Wall Street Journal" para assuntos relacionados a ferrovias, vai desembarcar em São Paulo para fazer a palestra "Superando a crise no mercado americano". O evento faz parte da programação da feira Negócios nos Trilhos 2008, entre os dias 4 e 6 de novembro.

NA MESA
Com a competição apertando em meio à crise, a Nestlé vai começar a brigar no mercado de panetones. O segmento registrou crescimento de 25% no ano passado, de acordo com dados divulgados pela ACNielsen.
SAC
O telefone de Lucy de Sousa, presidente da Apimec SP (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais), não pára de tocar. Investidores que perderam com a crise estão ligando para a associação para reclamar que receberam recomendações erradas de consultores. Sousa justifica dizendo que os cenários estão muito voláteis para os analistas e que estão todos sendo cobrados e correndo atrás de revisões e de pareceres. "O profissional de investimento está vivendo em constante estresse", afirma. A Apimec SP e o CPES (centro de economia da saúde da Unifesp) irão promover uma palestra, no dia 15, sobre qualidade de vida dos profissionais de investimento.

NO MAPA
A Trevisan Escola de Negócios vai promover a palestra "A Dinâmica da Inserção Brasileira na Economia Mundial", na próxima segunda-feira, em São Paulo. O evento terá as participações de Marcos Sawaya Jank, presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), e de Antoninho Marmo Trevisan, presidente das Empresas Trevisan.

com JOANA CUNHA e MARINA GAZZONI



Próximo Texto: G7 lança ação coordenada contra a crise
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.