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Mercado Aberto
GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br
Crise já afeta caixa do setor de condutores elétricos, diz sindicato
A crise econômica internacional já ameaça o setor de fios
e cabos brasileiro, um dos principais fornecedores da indústria automotiva, eletrônica, de
energia elétrica e de telecomunicações. Com o dólar em alta,
os custos com matérias-primas
importadas aumentam, e os ganhos das empresas caem, pois
os contratos firmados nos últimos meses consideravam uma
cotação do dólar quase 50%
menor. As informações são do
presidente do Sindicel (sindicato do setor), Sérgio Aredes.
Segundo ele, o primeiro efeito da crise foi a paralisação parcial dos contratos de condutores elétricos. "O nosso setor
não aceita muito bem a indexação dos contratos e atua fortemente com preços fixos. O momento é de incerteza até para
elaborar o preço dos produtos
que serão entregues em 30
dias", afirma.
Os ganhos com a recente
queda de cerca de 20% no preço das commodities, responsáveis por 80% do custo de produção do setor, foram anulados
com a valorização do dólar,
afirma o presidente do Sindicel.
Na conta final, o custo da matéria-prima, principalmente alumínio e cobre, cresceu 30% nos
últimos dois meses, diz.
Com custos maiores e ganhos menores, a redução do
caixa das empresas já é uma
realidade do setor. "Nosso custo é dolarizado, mas nosso preço é em real. Vendemos pelo
mesmo valor, mas pagamos
mais para produzir", afirma
Aredes.
Diante desse cenário, as empresas já estão tentando rever
contratos com os clientes para
contemplar o valor do câmbio e
não assumir prejuízos. No entanto, os próprios clientes também estão sendo afetados pela
crise e já buscam formas de driblar seus efeitos.
"Alguns pedem prazos maiores de pagamento, e outros, que
têm caixa disponível, querem
descontos para pagar à vista,
pois não sabem como estará o
mercado nos próximos meses",
disse o presidente do sindicato.
Até o momento, Aredes disse
que a crise econômica ainda
não provocou desabastecimento dos produtos, mas há um risco de isso acontecer já no final
deste mês. E as próximas vítimas da crise serão os trabalhadores da indústria.
"Se não houver uma renegociação rápida entre a tríade fornecedores, fabricantes e clientes, o nível de ociosidade na indústria pode ultrapassar 50%,
gerando grande volume de demissões", alerta.
COQUETEL ANTICRISE
A crise econômica já afeta a gastronomia de São Paulo.
Bernard Roca, sócio do restaurante tailandês Thai Gardens,
notou uma queda entre 20% e 30% no movimento nos últimos 15 dias. Segundo ele, os orçamentos para eventos no local para os próximos meses ainda não foram confirmados,
comportamento que não é normal. Para ele, uma crise psicológica faz com que os clientes evitem gastos com restaurante. "Há uma redução nos grupos e no número de jantares
corporativos. Hoje temos mais demanda de mesas para
dois", afirma. Para contornar a crise, Roca aposta na inovação e no bom humor: "Estou estudando criar um coquetel
anticrise para brincar com os clientes".
HEGEMONIA
Durante o 13º Meeting Internacional, que se realiza em
Lisboa, uma comitiva de ministros, políticos e empresários brasileiros se encontrou ontem com o presidente de
Portugal, Aníbal Cavaco Silva, e o primeiro-ministro, José
Sócrates. Na reunião, Cavaco Silva fez a seguinte avaliação da crise: "Será difícil, longa, dolorida, mas será superada. Depois da crise, será formado um novo eixo com novas forças econômicas em que os Estados Unidos não terão a mesma força hegemônica que tiveram até agora".
BOLSA:
SEMANA FOI A PIOR DE NY, MAS BOVESPA JÁ TEVE PERDAS MAIORES
Os sinais de que a economia dos EUA está a um passo da recessão, fizeram desta
a pior semana de Wall Street
da história, segundo levantamento da Economática. Com
queda de 18,15% no índice
Dow Jones, a variação superou a semana do 11 de setembro de 2001, terceira colocada no ranking da Bolsa
de Nova York. Apesar de
cair mais no período
-20,01%-, a Bovespa já teve outras cinco semanas piores que esta desde 1986, afirma a Economática. A maior
queda da Bovespa em uma
semana foi em 23 de março
de 1990, com perda de
49,41% no Ibovespa.
MÁQUINAS:
DEMANDA MENOR DERRUBA PREÇO EM LEILÃO
Paulo Scaff, diretor-superintendente da Superbid,
uma das líderes do setor de
leilões eletrônicos, já sente o
reflexo da crise econômica
na redução dos preços dos
produtos vendidos nos últimos 30 dias. Segundo ele, a
venda de máquinas teve uma
redução de preços de cerca
de 5%. Já os produtos ligados a commodities, como sucata, saíram por preços de
15% a 20% menores no período. Scaff diz que não houve queda da oferta de produtos nos leilões. A demanda,
porém, caiu e puxou a redução de preços. "Quem compra para revender está esperando a turbulência passar."
SALVA-VIDAS
De acordo com Mario Radesca, representante uruguaio do setor de autopeças,
o acordo bilateral firmado
com o Brasil neste ano ganha importância num contexto de crise econômica.
"Os negócios com o Brasil
podem ajudar a manter o patamar das exportações do
setor automotivo uruguaio
mesmo com a crise", disse
Radesca, que está em São
Paulo para participar da feira setorial Automec, que encerra hoje.
MARIA FUMAÇA
Anthony Hatch, consultor
da Association of American
Railroads e articulista do
"Wall Street Journal" para
assuntos relacionados a ferrovias, vai desembarcar em
São Paulo para fazer a palestra "Superando a crise no
mercado americano". O
evento faz parte da programação da feira Negócios nos
Trilhos 2008, entre os dias 4
e 6 de novembro.
NA MESA
Com a competição apertando em meio à crise, a
Nestlé vai começar a brigar
no mercado de panetones. O
segmento registrou crescimento de 25% no ano passado, de acordo com dados divulgados pela ACNielsen.
SAC
O telefone de Lucy de Sousa, presidente da Apimec SP
(Associação dos Analistas e
Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais), não pára de tocar. Investidores que perderam
com a crise estão ligando para a associação para reclamar que receberam recomendações erradas de consultores. Sousa justifica dizendo que os cenários estão
muito voláteis para os analistas e que estão todos sendo cobrados e correndo
atrás de revisões e de pareceres. "O profissional de investimento está vivendo em
constante estresse", afirma.
A Apimec SP e o CPES (centro de economia da saúde da
Unifesp) irão promover uma
palestra, no dia 15, sobre
qualidade de vida dos profissionais de investimento.
NO MAPA
A Trevisan Escola de Negócios vai promover a palestra "A Dinâmica da Inserção
Brasileira na Economia
Mundial", na próxima segunda-feira, em São Paulo.
O evento terá as participações de Marcos Sawaya
Jank, presidente da Unica
(União da Indústria de Cana-de-Açúcar), e de Antoninho Marmo Trevisan, presidente das Empresas
Trevisan.
com JOANA CUNHA e MARINA GAZZONI
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