São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2008

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G7 lança ação coordenada contra a crise

Reunidos nos EUA, ministros de países ricos acertam medidas para tentar estabilizar o sistema financeiro internacional

No caso dos EUA, ações do governo devem se concentrar na compra de participações diretas nos bancos, que tiveram forte recuo na Bolsa

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Os ministros das Finanças do G7 (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Canadá e Itália) chegaram ontem a um acordo sobre as medidas a serem adotadas conjuntamente para tentar estabilizar o sistema financeiro internacional.
As duas principais ações são a compra direta por governos de participações em bancos privados e a compra de títulos deles com dinheiro público.
"Cada país adotará as medidas como considerar mais adequado para as suas próprias circunstâncias. O mercado não pode ser ingênuo e achar que a aplicação será exatamente igual para todos", afirmou o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, após a reunião.
"O principal foco é o aumento da liquidez e fortalecer as instituições financeiras. As medidas serão adotadas imediatamente. Não estamos perdendo tempo aqui", disse.
O comunicado do Tesouro dos EUA com as medidas tem apenas uma página. É mais uma carta de intenções, sem detalhes de como exatamente as medidas serão implementadas. Nem de quanto cada país utilizará para tentar salvar o sistema de um colapso.
São os seguintes os pontos acordados: 1) "Ação efetiva e uso de todos os mecanismos possíveis para auxiliar sistematicamente importantes instituições financeiras e evitar que elas venham a falir";
2) "Descongelar o mercado de crédito e fornecer liquidez (dinheiro) aos bancos";
3) "Permitir que bancos e outras instituições obtenham capitais públicos e privados em volume suficiente para restabelecer a confiança e para continuarem emprestando às famílias e às empresas";
4) "Reforçar os sistemas públicos de garantias de depósitos bancários de cada país";
5) "Reativar os mercados secundários de empréstimos imobiliários e de títulos. Para isso, a avaliação acurada e transparente do valor desses ativos e um alto nível de contabilidade serão indispensáveis".
O comunicado destaca ainda que todas as ações devem "proteger os contribuintes e evitar que prejudiquem os países".
Para implementar alguns dos pontos do plano anunciado, o Reino Unido articula programa de US$ 87 bilhões para nacionalizar parcialmente até oito bancos. Os EUA também pretendem fazer o mesmo, usando parte dos US$ 700 bilhões aprovados pelo Congresso. O Japão também quer mudar sua legislação para permitir injeções diretas de dinheiro estatal no sistema financeiro.
A adoção de medidas coordenadas é considerada a última cartada para tentar acalmar os mercados financeiros globais, que ontem voltaram a ter um dia dramático, com quedas na faixa de dois dígitos, paralisação de pregões e brusco sobe-e-desce de índices.
No caso dos EUA, as ações do Tesouro devem se concentrar na compra de participações diretas nos bancos, cujos preços das ações despencaram nas últimas semanas. A avaliação dos EUA é que, comprando pedaços de bancos, o Tesouro protege mais o dinheiro do contribuinte -com possibilidade até de alcançar ganhos na operação se a instituição se recuperar.
Já a injeção de recursos via compra de títulos dos bancos trará grande risco aos governos, pois muitos papéis podem terminar sem valor. A dificuldade é obter maiores garantias dos bancos, o que dividiu algumas opiniões entre o G7.
Outra das medidas que causaram certa divisão foi a de aumento das garantias aos depósitos bancários e a limitação dos salários dos executivos dos bancos em que os governos adquirem participações. Essas duas medidas já constam como regra no plano de US$ 700 bilhões norte-americano, e cada país deverá decidir agora como agir e os limites de garantias.
"Não podemos imaginar uma resposta que seja a mesma para todos os países, pois o mesmo método pode não se aplicar a um mercado diferente", afirmou a ministra das Finanças da França, Christine Lagarde, antes da reunião. Seu colega alemão, Peer Steinbrueck, foi na mesma linha, afirmando que "as soluções talvez sejam diferentes entre cada país".
Com o fim de semana pela frente e um feriado nos EUA na segunda, o mercado terá tempo para digerir o resultado do encontro. Hoje os ministros do G7 encontram, na Casa Branca, o presidente George W. Bush para discutir o mesmo assunto.


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