São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2008

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Queda de 18% leva NY à maior retração semanal da história

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

O pânico generalizado dominou os mercados, e a Bolsa de Nova York completou ontem oitos dias seguidos de perdas. Fechou a pior semana de todos os seus 112 anos de história. A queda fez o índice Dow Jones fechar em 8.451,19 pontos, com perda de 128 pontos, o equivalente a 1,49%. Na semana, evaporaram-se 1.874 pontos do índice, e a baixa atingiu 18,15% -o mercado acionário americano perdeu US$ 2,4 trilhões do seu valor no período, cerca de dois PIBs do Brasil em 2007.
O pregão de ontem foi marcado pela grande volatilidade dos preços das ações. O índice criado em 1896 por Charles Dow oscilou de 7.883 ao máximo de 8.901 pontos, uma variação inédita e histórica de mais de mil pontos num único dia.
Desde o seu recorde de valorização, em 9 de outubro do ano passado, o principal índice da Bolsa de Nova York perdeu 5.713 pontos, o equivalente a 40% de seu valor.
No final da manhã, o presidente George W. Bush fez um pronunciamento para tentar acalmar os mercados. O efeito foi nulo. Um sinal de que inexiste confiança na eficácia das ações tomadas até agora por Washington e por governos de outros países para conter os efeitos da crise financeira.
A incerteza tomou conta de maneira profunda dos mercados globais. Ainda nos EUA, o índice S&P 500 perdeu 1,18% e completou 18,2% de desvalorização na semana. O Nasdaq, que mede o desempenho das ações do setor de tecnologia, ficou quase estável ontem, com alta de 0,27% -mas insuficiente para conter um tombo total de 15,3% na semana. Essa foi a tônica das Bolsas pelo mundo.
"Creio que o pânico tende a passar e o mercado encontrará o seu fundo quando os governos conseguirem desenhar uma ação coordenada, proativa e que possa tratar o problema de maneira global. Aí haverá mais confiança", disse à Folha René Kern, diretor-executivo do General Atlantic, um fundo de investimento que controla um patrimônio de aproximadamente US$ 16 bilhões.
Kern se refere aos esforços que estão em curso, em Wa- shington, com vários encontros de ministros da Fazenda dos países do G7 (os mais ricos do mundo) e do G20 (aí incluído o Brasil). Hoje, o G20 tem reunião no final do dia para tentar montar estratégias comuns de contenção da crise.
Há uma espécie de sentimento em Wall Street sobre o total descontrole do movimento vendedor. Nenhum agente oficial conseguiu descobrir uma forma de estancar a sangria. Em certa medida, como disse um operador ao "Wall Street Journal", até mecanismos que poderiam ajudar parecem hoje estar atrapalhando.
"Você não está conseguindo deixar que haja uma queda bem grande num dia para fazer um expurgo", disse James Baer, executivo da Uhlmann Price Securities. No crash de 1987, após a queda de 22,6% em 19 de outubro, o mercado foi aos poucos se ajustando.
Há também muita incerteza sobre o tamanho do impacto na economia real. Shelly Lazarus, presidente mundial da agência de propaganda Ogilvy & Mather, disse à Folha ter sentido apenas um início de cortes, "mas nada significativo", nos orçamentos de seus clientes.
Segundo ela, empresas como a Ford na Europa, sua cliente, ainda não fizeram ajustes em gasto com publicidade. "É claro que sabemos o que pode vir por aí, mas não está totalmente claro o tamanho do impacto."

Boataria e notícias reais
Em meio a tantos sinais trocados, ontem foi um dia dominado por boatos. A Casa Branca teve de negar oficialmente a intenção de decretar feriado bancário nos mercados financeiros com o suposto objetivo de refazer o marco regulatório do setor. A General Motors e a Ford afirmaram que estão considerando entrar em concordata.


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