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Queda de 18% leva NY à maior retração semanal da história
FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
O pânico generalizado dominou os mercados, e a Bolsa de
Nova York completou ontem
oitos dias seguidos de perdas.
Fechou a pior semana de todos
os seus 112 anos de história. A
queda fez o índice Dow Jones
fechar em 8.451,19 pontos, com
perda de 128 pontos, o equivalente a 1,49%. Na semana, evaporaram-se 1.874 pontos do índice, e a baixa atingiu 18,15%
-o mercado acionário americano perdeu US$ 2,4 trilhões
do seu valor no período, cerca
de dois PIBs do Brasil em 2007.
O pregão de ontem foi marcado pela grande volatilidade
dos preços das ações. O índice
criado em 1896 por Charles
Dow oscilou de 7.883 ao máximo de 8.901 pontos, uma variação inédita e histórica de mais
de mil pontos num único dia.
Desde o seu recorde de valorização, em 9 de outubro do ano
passado, o principal índice da
Bolsa de Nova York perdeu
5.713 pontos, o equivalente a
40% de seu valor.
No final da manhã, o presidente George W. Bush fez um
pronunciamento para tentar
acalmar os mercados. O efeito
foi nulo. Um sinal de que inexiste confiança na eficácia das
ações tomadas até agora por
Washington e por governos de
outros países para conter os
efeitos da crise financeira.
A incerteza tomou conta de
maneira profunda dos mercados globais. Ainda nos EUA, o
índice S&P 500 perdeu 1,18% e
completou 18,2% de desvalorização na semana. O Nasdaq,
que mede o desempenho das
ações do setor de tecnologia, ficou quase estável ontem, com
alta de 0,27% -mas insuficiente para conter um tombo total
de 15,3% na semana. Essa foi a
tônica das Bolsas pelo mundo.
"Creio que o pânico tende a
passar e o mercado encontrará
o seu fundo quando os governos conseguirem desenhar
uma ação coordenada, proativa
e que possa tratar o problema
de maneira global. Aí haverá
mais confiança", disse à Folha
René Kern, diretor-executivo
do General Atlantic, um fundo
de investimento que controla
um patrimônio de aproximadamente US$ 16 bilhões.
Kern se refere aos esforços
que estão em curso, em Wa-
shington, com vários encontros de ministros da Fazenda
dos países do G7 (os mais ricos
do mundo) e do G20 (aí incluído o Brasil). Hoje, o G20 tem
reunião no final do dia para
tentar montar estratégias comuns de contenção da crise.
Há uma espécie de sentimento em Wall Street sobre o
total descontrole do movimento vendedor. Nenhum agente
oficial conseguiu descobrir
uma forma de estancar a sangria. Em certa medida, como
disse um operador ao "Wall
Street Journal", até mecanismos que poderiam ajudar parecem hoje estar atrapalhando.
"Você não está conseguindo
deixar que haja uma queda
bem grande num dia para fazer
um expurgo", disse James
Baer, executivo da Uhlmann
Price Securities. No crash de
1987, após a queda de 22,6%
em 19 de outubro, o mercado
foi aos poucos se ajustando.
Há também muita incerteza
sobre o tamanho do impacto na
economia real. Shelly Lazarus,
presidente mundial da agência
de propaganda Ogilvy & Mather, disse à Folha ter sentido
apenas um início de cortes,
"mas nada significativo", nos
orçamentos de seus clientes.
Segundo ela, empresas como
a Ford na Europa, sua cliente,
ainda não fizeram ajustes em
gasto com publicidade. "É claro
que sabemos o que pode vir por
aí, mas não está totalmente claro o tamanho do impacto."
Boataria e notícias reais
Em meio a tantos sinais trocados, ontem foi um dia dominado por boatos. A Casa Branca
teve de negar oficialmente a intenção de decretar feriado bancário nos mercados financeiros
com o suposto objetivo de refazer o marco regulatório do setor. A General Motors e a Ford
afirmaram que estão considerando entrar em concordata.
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