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Votorantim perde R$ 2,2 bi com câmbio
Prejuízo de empresas com operações de proteção cambial passa de R$ 5 bi; Sadia e Aracruz já haviam divulgado perda
Anúncios de prejuízos
podem estar próximos do
fim, segundo analistas;
Petrobras e Embraer
também assumem perdas
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
O grupo Votorantim comunicou ontem perdas de R$ 2,2
bilhões provenientes de operações financeiras com câmbio.
Foi o maior prejuízo reportado
por uma empresa brasileira
desde o início da crise de crédito. A Sadia já havia reconhecido
prejuízo de R$ 760 milhões, e a
Aracruz informara perda contábil de R$ 1,950 bilhão. Somados, os prejuízos já beiram os
R$ 5 bilhões.
A CSN também deve perder
boa parte de seu lucro no terceiro trimestre devido a esse tipo de operação. A siderúrgica
informou, no entanto, que nos
últimos cinco anos lucrou US$
845 milhões com essas operações e que as perdas atuais não
terão impacto no caixa.
Essas empresas fizeram operações financeiras para se proteger contra a valorização do
real, que reduzia o lucro obtido
com suas exportações. Com a
desvalorização súbita da moeda desde agosto, depois de quatro anos de alta, os exportadores que apostavam a favor do
real tiveram os prejuízos.
À noite, a Petrobras divulgou
nota oficial em que assumia
perdas de cerca de US$ 62 milhões com operações no mercado de derivativos em dólar.
Também a Embraer, no final
da noite, divulgou comunicado
informando que vai contabilizar despesas de ajustes de posições de derivativos no valor de
R$ 178 milhões.
Sem atender a pedido de entrevista, o Votorantim informou, por meio de nota, que tomou tal decisão para preservar
seus ativos, "adequando seus
investimentos futuros ao novo
cenário mundial". O grupo Votorantim tem operações nas
áreas de cimento, papel e celulose e financeira, entre outras.
"Se tais empresas fazem esse
tipo de operação há muito tempo, certamente estão devolvendo agora um pouco do muito
que ganharam", diz Nathan
Blanche, sócio da consultoria
Tendências.
Para Blanche, apesar de não
ser possível estimar as perdas
totais das empresas exportadoras com operações financeiras
de câmbio, os anúncios de prejuízos podem estar perto do
fim. "Os principais cadáveres já
apareceram", diz Blanche. "As
empresas de menor porte não
têm linhas de crédito para
grandes estragos, e as que divulgam informações trimestrais já estão vindo a público."
Alberto Dwek, gerente da
área de câmbio da corretora
Souza Barros, também acredita
que os anúncios de perdas possam estar chegando ao fim. Segundo Dwek, apesar de enfrentarem situações diferentes da
brasileira, outros países também têm problema de hedge
(proteção cambial) semelhantes. O trabalho conjunto para
resolver tais problemas pode
dar resultados em breve.
"Estamos perto de estancar a
hemorragia", diz Dwek. "O remédio a ser dado ao paciente é
outro problema, mas o mais urgente já foi feito."
Estilingada forte
O economista Roberto Troster, sócio da Integral-Trust,
afirma, no entanto, que o Banco
Central foi lento ao reagir à
desvalorização cambial. "Não
se pode deixar o câmbio oscilar
com tanta virulência num período tão curto, sob a ameaça
de colocar a operação das empresas em risco", diz Troster.
A estilingada do câmbio, que
subiu quase 50% desde agosto,
deverá fazer com que pelo menos uma das empresas do grupo Votorantim, a VCP, tenha
prejuízo. De acordo com Felipe
Ruppenthal, analista do banco
Geração Futuro, mais de 90%
da dívida de R$ 2,9 bilhões da
VCP é atrelada ao dólar.
Com isso, em vez de lucro, a
empresa deverá ter prejuízo de
R$ 250 milhões no terceiro trimestre, pelos cálculos de Ruppenthal. O resultado financeiro
também será negativo em R$
430 milhões. Para o ano, o banco não fechou suas estimativas.
Mesmo assim, a VCP deu a
entender que continua levando
adiante o processo de fusão
com a Aracruz, que formará a
maior empresa de celulose do
mundo. Apesar de o fechamento do negócio ter sido postergado no início da semana, Valdir
Roque, diretor de finanças e relações com investidores da
VCP, deixou o cargo para assumir a mesma posição na Aracruz. O posto estava vago desde
que Isac Zagury pediu afastamento, em razão do prejuízo
com as operações cambiais.
"A mudança na gestão financeira é boa para as duas empresas e indica que a negociação
envolvendo VCP, Safra e Lorentzen [controladores da Aracruz] está em andamento", escreveu Lika Takahashi, do Banco Fator, a investidores. "Essa
mudança sugere que a VCP
quer acompanhar as operações
financeiras da Aracruz depois
dos recentes anúncios do prejuízo de R$ 1,95 bilhão."
Mesmo assim, as ações da
VCP -única de capital aberta
que pertence ao grupo- tiveram ontem queda de 8%.
No comunicado em que
anunciou o prejuízo, o grupo
Votorantim informou que a relação entre sua dívida líquida e
o lucro operacional (medido
antes de juros, impostos e depreciação) do grupo é de 2,4 vezes. O caixa disponível do Votorantim é de R$ 10 bilhões.
Tais números seriam suficientes para dar liquidez às
operações do grupo, que faturou R$ 31 bilhões e teve geração
de caixa de R$ 8,1 bilhões em
2007. Para este ano, a estimativa é de R$ 34 bilhões de receita
e caixa de R$ 8,4 bilhões.
Petrobras
Segundo a Petrobras, a perda
de US$ 62 milhões com operações no mercado de derivativos
em dólar é decorrente de contratos feitos pela Petrobras
Distribuidora para obter proteção cambial (hedge) por causa
da comercialização de querosene de aviação (cerca de US$ 22
milhões) e de operações com
derivativos de petróleo fechadas nas Bolsas de Nova York e
Londres e no mercado de balcão (US$ 40 milhões) pela holding e outras subsidiárias.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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