São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2008

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Quase "falida", Islândia é o espelho da crise

DA REDAÇÃO

À beira da bancarrota, a Islândia foi ontem a leilão, no site e-bay. Trata-se, é claro, de uma piada, retirada no fim da tarde pelo portal, quando já atingia lances de 12 milhões. O anúncio dizia que o comprador encontrará "um ambiente habitável, cavalos islandeses e uma situação relativamente desordenada". Dizia ainda que "Groenlândia e Björk não estão incluídas".
É mentira que a Islândia esteja à venda. Mas o resto é verdade. O país tem um dos mais altos IDH do planeta, cavalos formidáveis e a Groenlândia não faria parte do pacote porque é uma província dinamarquesa. Já a situação financeira está de fato longe da ordem.
O país da cantora Björk nacionalizou seus três maiores bancos nesta semana, viu a moeda perder 25% de seu valor em um só dia, interrompeu a Bolsa até segunda-feira, está correndo atrás de empréstimos e tem uma dívida bancária nove vezes maior que o PIB de US$ 14 bilhões da ilha, situada no Atlântico Norte.
Na segunda-feira, o premiê Geir H. Haarde disse em cadeia nacional: "Há um perigo real, cidadãos, de que a economia da Islândia, no pior caso, pode ir para o ralo junto com os bancos, e o resultado pode ser uma falência nacional".
A Islândia tem apenas 320 mil habitantes, mas uma eventual quebra do país pode respingar com força nos vizinhos europeus. Tanto que o Reino Unido prometeu ir à Justiça caso os investimentos de 300 mil britânicos sejam prejudicados. A Suécia teme pelo mesmo.
Apesar de pequenina, a Islândia ilustra bem a atual crise. O país se aproveitou do crédito farto dos últimos anos. A desregulamentação e o boom na Bolsa alimentaram o rápido crescimento do setor bancário, que ofuscou o restante da economia. Com dinheiro de sobra, os islandeses adquiriram empresas mundo afora.
Com a mesma facilidade com que chegou, o dinheiro debandou, deixando os bancos locais com dificuldades para refinanciar suas pesadas dívidas.
Para não quebrar, o país saiu com o pires na mão, mas as portas se fecharam. Tanto que o premiê criticou severamente os "aliados ocidentais". E a ajuda veio do leste, com o oferecimento de 4 bilhões da Rússia.
O novo papel da Rússia como salvadora desperta a preocupação e a ironia dos islandeses. Muita gente teme que os russos peçam em troca a saída do país da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Na capital Reikjavik, circulam e-mails mostrando a "nova" moeda do país com uma efígie do primeiro-ministro russo Vladimir Putin.
O país era reconhecido pela estabilidade e tinha os mais altos índices de confiança, outorgados pelas agências de classificação de risco. Mas a tempestade que assolou a ilha fez os islandeses vislumbrarem um cenário quase surreal, que inclui medidas como uma tentativa de impor câmbio fixo à coroa islandesa e uma visita do FMI.
O panorama não parece promissor à Islândia-além das finanças, o país se preocupa com o aquecimento global. Se a temperatura continuar subindo, a ilha pode submergir.

Com agências internacionais



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