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Consumidor deve comprar o que pode pagar, afirma Lula
Presidente diz que o Natal será "extraordinário", mas pede aos brasileiros que gastem apenas o que couber na renda
Aos críticos, Lula responde que não foi otimista demais e sim realista, pois conhece as condições do Brasil para enfrentar a crise externa
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A crise financeira internacional não vai atrapalhar as festas
de final de ano, disse ontem o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. "Nós vamos ter um Natal
extraordinário no Brasil. A crise não chega do mesmo tamanho em todos os países do
mundo. Se chegar [aqui], será
em uma proporção muito menor do que está chegando aos
Estados Unidos, onde é o epicentro da crise, ou à Europa",
afirmou, recomendando em seguida: "Todos nós precisamos
nos preparar para comprar tudo aquilo que a gente sonha
comprar no Natal e torcer para
que o Ano Novo seja infinitamente melhor".
Os comentários foram feitos
pela manhã, em Brasília, durante entrevista a alguns portais da internet. À tarde, quando participava de almoço com
um grupo de presidentes de
empresas brasileiras e americanas, Lula voltou ao assunto,
lançando uma ressalva. "Pode
continuar comprando, sim,
mas comprando o necessário, o
que o salário pode pagar."
O presidente respondeu às
críticas de que teria subestimado a crise -na semana passada,
ele disse que as suas conseqüências seriam apenas uma
"marolinha" para o país. "Tenho mostrado mais otimismo
do que alguns gostariam que eu
mostrasse, porém eu tento ser
realista. Não sou chegado a
vender catástrofe quando não
estou vendo catástrofe. Conheço o Brasil e outras crises que o
Brasil já enfrentou, e sei que a
economia agora está em melhores condições de passar por
essas turbulências porque está
sólida, produtiva", frisou.
Ainda em Brasília, Lula destacou que jamais criará pânico
e que não anunciará nenhum
pacote pois, segundo ele, esse
tipo de medida levou o país "a
quebrar a cara várias vezes."
"Quando vou visitar alguém no
hospital, quando alguém está
doente, não fico contando pra
ele quantas pessoas já morreram daquela doença; eu fico
contando das pessoas que se
curaram", disse.
Lula ressaltou que, se necessário, ajudará empresas brasileiras em dificuldades a conseguir empréstimos. No entanto,
de acordo com Dilma Rousseff,
ministra da Casa Civil, que
também participou do encontro com os empresários na capital paulista, esse eventual auxílio não será um "presente".
"O governo não foi procurado
por nenhuma companhia, mas,
se for, o que pode oferecer é
crédito, e os financiamentos
são pagos", afirmou.
Quanto aos bancos, Lula explicou que não se trata de ajudar a instituição financeira em
si, mas de garantir que os correntistas tenham acesso ao dinheiro. "Não há nenhum sinal
de que os bancos estejam metidos no "subprime". Se estiverem, vai aparecer em algum
momento. As pessoas podem
[tentar] esconder isso. É como
boletim de criança que tira nota baixa e quer esconder do pai.
Não adianta, um dia aparece."
Mas ele esclareceu que a situação das instituições financeiras brasileiras é diferente da
das americanas e européias.
"Não se pode permitir que alguém financie o que não tem.
No Brasil, a alavancagem é normalmente de 9 a 10 vezes. Nos
EUA, chegou a 35 vezes. Outra
coisa é essa figura do bônus.
Tem uma quantidade enorme
de diretores e de gerentes que
estabelecem metas entre eles e,
depois, para cumprir essas metas fazem qualquer coisa. E
acontece o que aconteceu",
afirmou.
Rodada Doha
"A melhor resposta que podemos dar na hora da crise é fechar [o acordo comercial da Rodada] Doha", disse Lula. Na
próxima semana, ele viajará à
Índia e empregará esse argumento para tentar convencer o
primeiro-ministro Manmohan
Singh a assinar o tratado que,
segundo o presidente, favorecerá os países que produzem riqueza real e não financeira, a
qual é efêmera. "O domínio da
economia virtual acabou."
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