São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Consumidor deve comprar o que pode pagar, afirma Lula

Presidente diz que o Natal será "extraordinário", mas pede aos brasileiros que gastem apenas o que couber na renda

Aos críticos, Lula responde que não foi otimista demais e sim realista, pois conhece as condições do Brasil para enfrentar a crise externa

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A crise financeira internacional não vai atrapalhar as festas de final de ano, disse ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Nós vamos ter um Natal extraordinário no Brasil. A crise não chega do mesmo tamanho em todos os países do mundo. Se chegar [aqui], será em uma proporção muito menor do que está chegando aos Estados Unidos, onde é o epicentro da crise, ou à Europa", afirmou, recomendando em seguida: "Todos nós precisamos nos preparar para comprar tudo aquilo que a gente sonha comprar no Natal e torcer para que o Ano Novo seja infinitamente melhor".
Os comentários foram feitos pela manhã, em Brasília, durante entrevista a alguns portais da internet. À tarde, quando participava de almoço com um grupo de presidentes de empresas brasileiras e americanas, Lula voltou ao assunto, lançando uma ressalva. "Pode continuar comprando, sim, mas comprando o necessário, o que o salário pode pagar."
O presidente respondeu às críticas de que teria subestimado a crise -na semana passada, ele disse que as suas conseqüências seriam apenas uma "marolinha" para o país. "Tenho mostrado mais otimismo do que alguns gostariam que eu mostrasse, porém eu tento ser realista. Não sou chegado a vender catástrofe quando não estou vendo catástrofe. Conheço o Brasil e outras crises que o Brasil já enfrentou, e sei que a economia agora está em melhores condições de passar por essas turbulências porque está sólida, produtiva", frisou.
Ainda em Brasília, Lula destacou que jamais criará pânico e que não anunciará nenhum pacote pois, segundo ele, esse tipo de medida levou o país "a quebrar a cara várias vezes." "Quando vou visitar alguém no hospital, quando alguém está doente, não fico contando pra ele quantas pessoas já morreram daquela doença; eu fico contando das pessoas que se curaram", disse.
Lula ressaltou que, se necessário, ajudará empresas brasileiras em dificuldades a conseguir empréstimos. No entanto, de acordo com Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil, que também participou do encontro com os empresários na capital paulista, esse eventual auxílio não será um "presente". "O governo não foi procurado por nenhuma companhia, mas, se for, o que pode oferecer é crédito, e os financiamentos são pagos", afirmou.
Quanto aos bancos, Lula explicou que não se trata de ajudar a instituição financeira em si, mas de garantir que os correntistas tenham acesso ao dinheiro. "Não há nenhum sinal de que os bancos estejam metidos no "subprime". Se estiverem, vai aparecer em algum momento. As pessoas podem [tentar] esconder isso. É como boletim de criança que tira nota baixa e quer esconder do pai. Não adianta, um dia aparece."
Mas ele esclareceu que a situação das instituições financeiras brasileiras é diferente da das americanas e européias. "Não se pode permitir que alguém financie o que não tem. No Brasil, a alavancagem é normalmente de 9 a 10 vezes. Nos EUA, chegou a 35 vezes. Outra coisa é essa figura do bônus. Tem uma quantidade enorme de diretores e de gerentes que estabelecem metas entre eles e, depois, para cumprir essas metas fazem qualquer coisa. E acontece o que aconteceu", afirmou.

Rodada Doha
"A melhor resposta que podemos dar na hora da crise é fechar [o acordo comercial da Rodada] Doha", disse Lula. Na próxima semana, ele viajará à Índia e empregará esse argumento para tentar convencer o primeiro-ministro Manmohan Singh a assinar o tratado que, segundo o presidente, favorecerá os países que produzem riqueza real e não financeira, a qual é efêmera. "O domínio da economia virtual acabou."


Texto Anterior: Governo deve reforçar investimentos em 2009
Próximo Texto: Consumidor reduz compra à vista em SP
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.