São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

foco

Financeiras fecham no centro do Rio, e clientes desaparecem em SP

LUIZA BANDEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
RAFAEL BRANDIMARTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Só no cruzamento entre as ruas do Rosário e Gonçalves Dias, no centro do Rio de Janeiro, três das quatro financeiras ali instaladas estão fechadas. Em menos de um mês, filiais da BMG, da ASB e da Finasa fecharam as portas.
A situação se repete em outros locais do bairro financeiro da cidade. Nas instituições de crédito abertas, o movimento é pequeno. Gerentes de lojas afirmam que a procura caiu até 80%. O aumento nos juros e a redução do prazo para quitar a dívida afastam os clientes.
Um militar da Aeronáutica que não quis se identificar contou que fez uma simulação de tomada de crédito há um mês, mas resolveu esperar. Ontem, fechou negócio pagando juros de 2,3%, bem acima do 1,9% oferecido anteriormente -acréscimo de quase R$ 50 em cada uma das 48 parcelas. "Infelizmente, não deu para esperar a crise passar", disse.
Na maioria das instituições, a crise americana provocou aumento na taxa de juros para empréstimo consignado, modalidade que permite o desconto na folha de pagamento. Algumas restringiram o crédito aos aposentados, com juros atingindo o limite máximo de 2,5% estabelecido pelo Ministério do Planejamento.
Em outros locais, a insegurança financeira levou à suspensão dessa operação, já que ela faz uma análise menos rígida no histórico do cliente. A opção oferecida é o parcelamento em cheques, descontados mês a mês. Os juros para essa modalidade chegam a 12,5%.
A funcionária pública Luege Oliveira, 44, iniciou pesquisa mesmo sem precisar de dinheiro imediato. "Vim ver se dá para esperar passar a recessão ou se é melhor fazer [o empréstimo] agora", afirmou ela, após receber proposta de crédito consignado com juros de 1,9% -o máximo para servidores do município é 2%.
O reflexo da crise econômica no mercado de crédito é percebido pelo sumiço dos panfletos que anunciavam "Dinheiro fácil" em cada esquina da avenida Rio Branco.
"O dinheiro realmente está mais caro", diz Renata Luz, operadora da BV Financeira. Ela explica que, além do aumento na taxa de juros, o crédito está mais criterioso em relação à situação bancária e ao tempo de serviço do candidato ao empréstimo.
A assessoria da Finasa afirmou que o fechamento das lojas não tem relação com a crise e faz parte de um processo de reestruturação. Também por meio da assessoria, o BMG disse estar operando normalmente. A ASB, que já fechou 140 lojas no país, não comentou o assunto.
No centro velho de São Paulo, a situação era a mesma: o movimento de clientes era praticamente nulo em financeiras como Fininvest, Taií e Cacique.
De acordo com um gerente que não quis se identificar, o movimento de clientes "caiu muito" nas últimas semanas. "O que está acontecendo é nítido", disse, "basta dar uma olhada na São Bento [rua famosa por concentrar várias financeiras]".
Com cerca de uma dúzia delas ao longo do trecho que vai do largo São Bento à praça do Patriarca, havia mais lojas vazias do que clientes à procura de empréstimos.
À caça de novos clientes em meio ao frio, um jovem "promotor" de financeira resumiu a situação: "As financeiras estão secas". "Hoje, acho que entrou só um cliente durante todo o dia", disse outro.


Texto Anterior: Consumidor reduz compra à vista em SP
Próximo Texto: Moto Honda dá férias parciais a 2.300
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.