São Paulo, domingo, 11 de outubro de 2009

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EUA mantêm discurso de dólar forte

JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

Defender a política de dólar forte está se tornando uma tarefa árdua para os Estados Unidos. Na semana passada, o governo lançou mão de três dos principais representantes da equipe econômica para convencer os mercados mundiais de que o país permanece comprometido com essa política.
Em discurso, Larry Summers, conselheiro econômico da Casa Branca, Tim Geithner, secretário do Tesouro, e Ben Bernanke, presidente do Fed (o banco central americano), repetiram o mantra. A sinalização de Bernanke de que o governo pretende apertar a política monetária tão logo perceba sinais suficientes de recuperação da economia surtiu efeito na cotação da moeda, que voltou a subir na sexta.
O dólar está em queda há sete meses, e o receio é que a injeção de recursos feita pelo governo para dinamizar a economia no auge da crise se transforme em inflação.
Dólar e petróleo já foram vistos como um casamento perfeito, mas uma reportagem divulgada pelo jornal britânico "The Independent" levantou dúvidas ao dizer que estava em discussão a substituição do dólar por uma cesta de moedas como referência para o valor do barril. A reportagem foi desmentida, mas, independentemente disso, assustou o mercado. O resultado foi uma corrida de investidores para outros ativos como o ouro, que bateu recorde.
A flutuação acentuada da moeda ocorre em meio a um cenário em que diversos países sugerem que o dólar seja substituído como moeda de reserva internacional. Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que a desvalorização do dólar é um movimento de correção necessário para equilibrar as contas externas americanas, mas que o seu futuro como moeda de reserva permanece garantido num horizonte de curto e médio prazo.
Na prática, mesmo que haja um consenso de que o dólar não é mais o referencial adequado, a complexidade da equação, com a quantidade de reservas internacionais em dólar no caixa dos países emergentes, desestimula mudanças abruptas.
"Os EUA são o principal mercado consumidor de petróleo. Algumas pessoas gostam de fantasiar sobre inflação, especular comprando ouro, mas não há evidência de que qualquer mudança drástica seria viável neste momento. Abandonar o dólar como moeda de reserva afetaria o desempenho das exportações de emergentes como China e Brasil", disse à Folha Robert Scott, do Economic Policy Institute.
Para John Williamson, do Peter Institute for International Economics, no curto prazo, no entanto, o dólar deverá continuar em queda.
Do ponto de vista da economia real, um dólar mais desvalorizado representa maior competitividade para as exportações americanas.


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