São Paulo, domingo, 11 de novembro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Lucros americanos em baixa


Ganhos das empresas devem cair pela primeira vez em 5 anos; em duas semanas, clima piorou bem na economia

O TEMPO fechou para as empresas americanas. Anunciados mais de 80% dos balanços das 500 grandes companhias do S&P 500, estima-se que o lucro total no terceiro trimestre deva ficar cerca de 2% abaixo do registrado no mesmo período do ano anterior, fato inédito desde 2002. No caso de 2.991 empresas na Bolsa de Nova York que apresentaram as contas, a queda nos lucros é de 23%, os quais em média haviam crescido 17% nos três trimestres anteriores.
O consumidor desanima; cai a perspectiva de vendas no grande varejo. A estimativa de perdas adicionais com derivativos de crédito nas instituições financeiras, que começaram a semana em US$ 40 bilhões, voou para o reino encantado da ruína, para mais de US$ 100 bilhões.
No mercado financeiro americano é geral o escárnio a respeito da contabilidade ruinosa dos bancos, o que de resto não apenas afeta a confiança econômica como transtorna o crédito e a perspectiva de lucro de setores que lhes fornecem equipamentos, como o de informática. A ruína imobiliária, alavancada pela financeira, contamina outras indústrias, o consumidor e, por tabela, o varejo. Daí a estagnação na lucratividade e o clima nublado nas Bolsas.
As previsões para os lucros no trimestre final deste ano ainda giram em torno de alta de 5%, mas vêm sendo reduzidas. O desemprego continua incrivelmente baixo, mas existe enorme polêmica nos EUA sobre tais indicadores. As vendas do comércio não estão no vermelho. Mas as exportações se recuperam com força não só devido ao dólar barato, mas à contenção do consumo.
Mesmo a queda do déficit público federal americano, de 3,6% do PIB em 2004 para 1,2% neste ano, é vista com suspeita: a arrecadação cresce mais rápido que as despesas. Se a coisa é assim agora, tende a piorar bem com uma alta do desemprego (o imposto sobre a renda individual é 45% da receita federal), observa o economista James Hamilton (Universidade da Califórnia, San Diego).
O Morgan Stanley estima o euro em US$ 1,51 no final do ano -está agora em US$ 1,467. Faça-se uma conta simplória sobre a atratividade dos ativos americanos. Um detentor de euros que investiu no Dow Jones no início do ano já perdeu quase 6%, dada a desvalorização do dólar no período. Para piorar, com mais dois dias como quinta e sexta o Dow Jones entra no vermelho em 2007.
O dinheiro vai continuar a sair dos Estados Unidos para os emergentes, como nós -os emergentes têm agora 30% do PIB mundial, mas os valores em suas Bolsas são 11% do mercado mundial de ações. E os países da Ásia e do Oriente Médio vão continuar a vender dólares.
Os economistas do Morgan Stanley e de outros bancões já começam a falar numa até agora escarnecida intervenção coordenada das autoridades econômicas da União Européia e dos EUA a fim de conter a desvalorização do dólar.
Mesmo que o petróleo pese menos, e de modo diferente, na economia, como argumenta gente respeitável como Olivier Blanchard, de MIT, o barril a US$ 100 torna-se novo fator de tensão a afetar consumo e preços -como o dólar barato. Nas duas últimas semanas, o tempo fechou para a economia dos EUA.

vinit@uol.com.br


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