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VINICIUS TORRES FREIRE
Lucros americanos em baixa
Ganhos das empresas devem cair pela primeira vez em 5 anos; em duas semanas, clima piorou bem na economia
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O TEMPO fechou para as empresas americanas. Anunciados mais de 80% dos balanços das 500 grandes companhias do S&P 500, estima-se que o lucro total
no terceiro trimestre deva ficar cerca de 2% abaixo do registrado no
mesmo período do ano anterior, fato
inédito desde 2002. No caso de 2.991
empresas na Bolsa de Nova York
que apresentaram as contas, a queda
nos lucros é de 23%, os quais em média haviam crescido 17% nos três trimestres anteriores.
O consumidor desanima; cai a
perspectiva de vendas no grande varejo. A estimativa de perdas adicionais com derivativos de crédito nas
instituições financeiras, que começaram a semana em US$ 40 bilhões,
voou para o reino encantado da ruína, para mais de US$ 100 bilhões.
No mercado financeiro americano é geral o escárnio a respeito da
contabilidade ruinosa dos bancos, o
que de resto não apenas afeta a confiança econômica como transtorna
o crédito e a perspectiva de lucro de
setores que lhes fornecem equipamentos, como o de informática. A
ruína imobiliária, alavancada pela financeira, contamina outras indústrias, o consumidor e, por tabela, o varejo. Daí a estagnação na lucratividade e o clima nublado nas Bolsas.
As previsões para os lucros no trimestre final deste ano ainda giram
em torno de alta de 5%, mas vêm
sendo reduzidas. O desemprego
continua incrivelmente baixo, mas
existe enorme polêmica nos EUA
sobre tais indicadores. As vendas do
comércio não estão no vermelho.
Mas as exportações se recuperam
com força não só devido ao dólar barato, mas à contenção do consumo.
Mesmo a queda do déficit público
federal americano, de 3,6% do PIB
em 2004 para 1,2% neste ano, é vista
com suspeita: a arrecadação cresce
mais rápido que as despesas. Se a
coisa é assim agora, tende a piorar
bem com uma alta do desemprego
(o imposto sobre a renda individual
é 45% da receita federal), observa o
economista James Hamilton (Universidade da Califórnia, San Diego).
O Morgan Stanley estima o euro
em US$ 1,51 no final do ano -está
agora em US$ 1,467. Faça-se uma
conta simplória sobre a atratividade
dos ativos americanos. Um detentor
de euros que investiu no Dow Jones
no início do ano já perdeu quase 6%,
dada a desvalorização do dólar no
período. Para piorar, com mais dois
dias como quinta e sexta o Dow Jones entra no vermelho em 2007.
O dinheiro vai continuar a sair dos
Estados Unidos para os emergentes,
como nós -os emergentes têm agora 30% do PIB mundial, mas os valores em suas Bolsas são 11% do mercado mundial de ações. E os países
da Ásia e do Oriente Médio vão continuar a vender dólares.
Os economistas do Morgan Stanley e de outros bancões já começam
a falar numa até agora escarnecida
intervenção coordenada das autoridades econômicas da União Européia e dos EUA a fim de conter a desvalorização do dólar.
Mesmo que o petróleo pese menos, e de modo diferente, na economia, como argumenta gente respeitável como Olivier Blanchard, de
MIT, o barril a US$ 100 torna-se novo fator de tensão a afetar consumo
e preços -como o dólar barato.
Nas duas últimas semanas, o tempo fechou para a economia dos EUA.
vinit@uol.com.br
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