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Banco não ganha dinheiro com título público, afirma Barbosa
Mastrangelo Reino - 31.out.08/Folha Imagem
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Fábio Barbosa, presidente da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), para quem a "sensação de paralisação" permanecerá e se traduzirá num novo patamar do mercado de crédito, reduzindo o crescimento econômico no Brasil e no resto do mundo
EM SÃO PAULO
A crise atual desencadeará
processo de concentração bancária no Brasil, mas isso não diminuirá a concorrência e nem
prejudicará o consumidor, defende o presidente da Febraban
e do Santander, Fábio Barbosa.
Ele diz ainda que o país precisa
de bancos fortes para financiar
grandes projetos e rechaça a
idéia de que os bancos ganhem
dinheiro com os títulos públicos. Leia a seguir os principais
trechos da entrevista:
FOLHA - É melhor deixar dinheiro
no BC sem rendimento a emprestar?
FABIO BARBOSA - Os recursos no
compulsório rendem 100% do
CDI. Qualquer um que for aplicar dinheiro hoje, vai receber
102% do CDI [de remuneração]. Não sei de onde saiu essa
idéia de que banco ganha mantendo dinheiro em títulos públicos. Dinheiro para o banco
custa 102% do CDI. Comprar
por 102% e vender por 100%
não me parece um bom negócio. Agora, o BC disse que para
aquela parte do compulsório
vai render zero. Aí ficou pior
ainda. Obviamente que existe
um estímulo adicional para que
se faça alguma coisa. Isso é política monetária.O dinheiro que
ele está mandando emprestar é
o seu, não é meu. E as pessoas
querem o dinheiro delas protegido. As pessoas batem no banco, mas querem que o seu dinheiro esteja lá garantido.
FOLHA - Mas há disposição de emprestar e comprar carteiras?
BARBOSA - Os bancos privados
compraram R$ 6 bilhões, fora o
BB e a Caixa. Essas compras demoram. Você quer que eu compre carteira sem saber se ela está em ordem, se tem documentação, sem saber se os sistemas
batem? É lógico que não. A população pressiona o banco para
emprestar mas esquece que é o
dinheiro dela que está lá. O
banco não tem dinheiro, é só o
intermediário. Para cada R$
100 [emprestados], só R$ 10 são
do banco, R$ 90 são de outros.
FOLHA - Tem carteira boa no mercado para os bancos comprarem?
BARBOSA - Tem. Não sei se para
o todo liberado. Mas tem bastante. A maior parte das dificuldades que tivemos no início teve a ver com tecnologia, com
compatibilização de arquivos,
problemas de documentação,
de análise de risco que é responsabilidade prudencial saber
se a carteira está boa.
FOLHA - Isso será suficientes para
reverter a falta de liquidez?
BARBOSA - O ponto importante
é que o crédito vai voltar, mas
não como antes. Porque foi o
excesso de crédito no mundo
que gerou essa crise. Ora, não
podemos querer que ele volte
como antes. E como não vai
voltar a ser como antes, a sensação de falta de crédito ficará.
FOLHA - O que é mais importante,
crescer ou controlar a inflação?
BARBOSA - Acho que temos que
compatibilizar. O mundo é do
"e". O mundo do "ou" é muito fácil. Temos que buscar o crescimento e manter o olho na inflação. É a ditadura do "e" e não a
do "ou" porque fazer um ou outro é fácil. O difícil é compatibilizar e fazer, no limite da questão da prudência inflacionária,
política contracíclicas.
FOLHA - O sistema bancário iniciou
processo de concentração com Itaú-Unibanco e BB-Nossa Caixa?
BARBOSA - Economias fortes
precisam de bancos fortes. Costumo lembrar que dos seis
maiores bancos do mundo hoje, três são chineses. E assim foi
com bancos ingleses, americanos, japoneses, depois bancos
americanos novamente e, agora, chineses. Então economias
fortes têm que ter bancos fortes
para acompanhar as empresas.
Para dar respaldo às necessidades dos projetos que o país e as
empresas têm é preciso banco
grande. Não dá para falar em
operações grandes se o bancos
são pequenos. E haverá mais
concorrência.
FOLHA - Como assim?
BARBOSA - Porque são bancos
mais parrudos, mais fortes,
mais agressivos, que investem
mais. Acho que o que precisa é
assegurar que existem boas regras que permitem a concorrência. É a transparência, mobilidade, e isso é o que tem sido
feito no mundo a fora. Em termos de concentração, comparado com países da Europa, dos
EUA, o Brasil não é um país que
tem concentração bancária.
FOLHA - Como os bancos vêem a
MP 443 que viabiliza estatizações de
bancos? Há reclamações porque os
públicos têm acesso a fonte de recursos mais barata. Falta equilíbrio?
BARBOSA - A possibilidade
aberta aos bancos públicos de
irem às compras foi num cenário muito específico, de fragilidade da economia mundial. Fala-se em estabelecer prazo. Foi
uma mudança prudente e temporária, é assim que entendo.
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