São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 2008

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Banco não ganha dinheiro com título público, afirma Barbosa

Mastrangelo Reino - 31.out.08/Folha Imagem
Fábio Barbosa, presidente da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), para quem a "sensação de paralisação" permanecerá e se traduzirá num novo patamar do mercado de crédito, reduzindo o crescimento econômico no Brasil e no resto do mundo

EM SÃO PAULO

A crise atual desencadeará processo de concentração bancária no Brasil, mas isso não diminuirá a concorrência e nem prejudicará o consumidor, defende o presidente da Febraban e do Santander, Fábio Barbosa.
Ele diz ainda que o país precisa de bancos fortes para financiar grandes projetos e rechaça a idéia de que os bancos ganhem dinheiro com os títulos públicos. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

 

FOLHA - É melhor deixar dinheiro no BC sem rendimento a emprestar?
FABIO BARBOSA
- Os recursos no compulsório rendem 100% do CDI. Qualquer um que for aplicar dinheiro hoje, vai receber 102% do CDI [de remuneração]. Não sei de onde saiu essa idéia de que banco ganha mantendo dinheiro em títulos públicos. Dinheiro para o banco custa 102% do CDI. Comprar por 102% e vender por 100% não me parece um bom negócio. Agora, o BC disse que para aquela parte do compulsório vai render zero. Aí ficou pior ainda. Obviamente que existe um estímulo adicional para que se faça alguma coisa. Isso é política monetária.O dinheiro que ele está mandando emprestar é o seu, não é meu. E as pessoas querem o dinheiro delas protegido. As pessoas batem no banco, mas querem que o seu dinheiro esteja lá garantido.

FOLHA - Mas há disposição de emprestar e comprar carteiras?
BARBOSA
- Os bancos privados compraram R$ 6 bilhões, fora o BB e a Caixa. Essas compras demoram. Você quer que eu compre carteira sem saber se ela está em ordem, se tem documentação, sem saber se os sistemas batem? É lógico que não. A população pressiona o banco para emprestar mas esquece que é o dinheiro dela que está lá. O banco não tem dinheiro, é só o intermediário. Para cada R$ 100 [emprestados], só R$ 10 são do banco, R$ 90 são de outros.

FOLHA - Tem carteira boa no mercado para os bancos comprarem?
BARBOSA
- Tem. Não sei se para o todo liberado. Mas tem bastante. A maior parte das dificuldades que tivemos no início teve a ver com tecnologia, com compatibilização de arquivos, problemas de documentação, de análise de risco que é responsabilidade prudencial saber se a carteira está boa.

FOLHA - Isso será suficientes para reverter a falta de liquidez?
BARBOSA
- O ponto importante é que o crédito vai voltar, mas não como antes. Porque foi o excesso de crédito no mundo que gerou essa crise. Ora, não podemos querer que ele volte como antes. E como não vai voltar a ser como antes, a sensação de falta de crédito ficará.

FOLHA - O que é mais importante, crescer ou controlar a inflação?
BARBOSA
- Acho que temos que compatibilizar. O mundo é do "e". O mundo do "ou" é muito fácil. Temos que buscar o crescimento e manter o olho na inflação. É a ditadura do "e" e não a do "ou" porque fazer um ou outro é fácil. O difícil é compatibilizar e fazer, no limite da questão da prudência inflacionária, política contracíclicas.

FOLHA - O sistema bancário iniciou processo de concentração com Itaú-Unibanco e BB-Nossa Caixa?
BARBOSA
- Economias fortes precisam de bancos fortes. Costumo lembrar que dos seis maiores bancos do mundo hoje, três são chineses. E assim foi com bancos ingleses, americanos, japoneses, depois bancos americanos novamente e, agora, chineses. Então economias fortes têm que ter bancos fortes para acompanhar as empresas. Para dar respaldo às necessidades dos projetos que o país e as empresas têm é preciso banco grande. Não dá para falar em operações grandes se o bancos são pequenos. E haverá mais concorrência.

FOLHA - Como assim?
BARBOSA
- Porque são bancos mais parrudos, mais fortes, mais agressivos, que investem mais. Acho que o que precisa é assegurar que existem boas regras que permitem a concorrência. É a transparência, mobilidade, e isso é o que tem sido feito no mundo a fora. Em termos de concentração, comparado com países da Europa, dos EUA, o Brasil não é um país que tem concentração bancária.

FOLHA - Como os bancos vêem a MP 443 que viabiliza estatizações de bancos? Há reclamações porque os públicos têm acesso a fonte de recursos mais barata. Falta equilíbrio?
BARBOSA
- A possibilidade aberta aos bancos públicos de irem às compras foi num cenário muito específico, de fragilidade da economia mundial. Fala-se em estabelecer prazo. Foi uma mudança prudente e temporária, é assim que entendo.


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