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MARCOS CINTRA
São Paulo encolheu, e empobreceu
A cidade de São Paulo
precisa de um líder que
atue no sentido de retomar
seu dinamismo histórico
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A CIDADE de São Paulo, a locomotiva do Brasil, está perdendo força.
O país sempre acreditou na pujança da economia paulista e, principalmente, da paulistana. Com orgulho,
todos consideravam a cidade uma
antevisão do que seria o Brasil do futuro. A imagem da cidade era de
uma metrópole rica, dinâmica, moderna -um modelo enfim ao resto
do país. Mas, acima de tudo, São
Paulo era uma vistosa afirmação da
capacidade de trabalho, da inteligência e da criatividade contidas no
"gigante adormecido", pronto a despertar e a surpreender o mundo.
Mas infelizmente, analisando alguns dados do IBGE e do Seade referentes aos últimos anos, percebe-se
que a economia paulistana vem
minguando em relação ao restante
do país. Presencia-se uma perturbadora realidade, ignorada por muitos,
principalmente pelas autoridades
responsáveis pela gestão da cidade,
que nunca se colocaram como arautos do inconformismo com essa decadência.
Vale lembrar que, em 1980, o PIB
da cidade de São Paulo representava
15,8% do PIB brasileiro -quase o
dobro do que representa hoje. Porém, o mais alarmante é que o PIB
paulistano vem sofrendo perdas absolutas, e não apenas relativas.
A preços de 2000, o PIB paulistano era de R$ 110,3 bilhões em 1980.
Aumentou para R$ 141,2 bilhões em
1996, e desde então vem caindo, chegando a apenas R$ 107,9 bilhões em
2003. São Paulo encolheu 23,5% entre 1996 e 2003. Para ilustrar ainda
mais a decadência da economia paulistana, cabe apontar que, enquanto
o PIB brasileiro, a preços de 2000,
cresceu 63,6% entre 1980 e 2003, o
de São Paulo caiu 2,2%.
Mas há outros dados preocupantes. Segundo o Seade, o rendimento
médio real familiar caiu de R$ 3.820
em 1986 para R$ 1.570 em 2004; e o
rendimento médio real familiar per
capita despencou de R$ 1.230 para
R$ 660 no mesmo período. Caíram
pela metade.
Entre 1991 e 2005, o rendimento
médio real dos paulistanos ocupados na indústria foi reduzido de R$
1.480 em 1991 para R$ 1.340 em
2005; no comércio, de R$ 1.240 para
R$ 950; nos serviços, de R$ 1.530 para R$ 1.360.
São Paulo não apenas encolheu,
mas também empobreceu.
É hora de rever conceitos e de indagar o que vem faltando para São
Paulo se manter na vanguarda do
país. Será carência de lideranças, de
políticos competentes, de empresários dinâmicos, ou de trabalhadores
educados? Ou será apenas um movimento histórico inevitável, fruto da
realização das oportunidades não-aproveitadas existentes nas demais
regiões do país? Mas isso explicaria
a queda relativa de São Paulo, jamais
o seu empobrecimento.
Lembro de Nova York em franca
decadência lá pelos anos 80, até que
surgiram alguns grandes prefeitos,
que reverteram a degradação da cidade, dando-lhe novo entusiasmo e
transformando-a na atual capital
mundial. Rudolph Giuliani é o que
mais chamou a atenção por sua liderança inquestionável, mas não se
pode esquecer as contribuições importantes de Ed Koch e de outros líderes políticos que revitalizaram
aquela cidade norte-americana.
É hora de encontrar lideranças semelhantes em São Paulo, que recuperem nossa auto-estima e conduzam a cidade para ser aquilo que, há
alguns anos, todos pensavam que viria ser.
São Paulo precisa de um líder que
atue no sentido de retomar seu dinamismo histórico. Não é possível
permanecer indiferente ao processo
acelerado de degradação econômica
e social que a cidade vive. O território paulistano continua sendo um
local inigualável de oportunidades
que poderiam ser exploradas de tal
forma a se restabelecer a imagem de
riqueza e modernidade do passado.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE , 60,
doutor pela Universidade Harvard (EUA), professor titular
e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas, foi deputado federal (1999-2003). É autor de "A verdade sobre o Imposto Único" (LCTE, 2003). Escreve às segundas-feiras, a
cada 15 dias, nesta coluna.
Internet: www.marcoscintra.org
mcintra@marcoscintra.org
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