São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

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Bancos estrangeiros iniciam corrida por US$ 4,3 tri na China

A partir de hoje, instituições financeiras poderão atuar no varejo do sistema bancário chinês, com oferta de serviços na moeda local

Principal desafio para as companhias multinacionais na disputa pelo mercado será a concorrência com os gigantes estatais do país

Paul Hilton - 19.out.06/Bloomberg
Mulher em frente a agência do maior banco estatal chinês, o ICBC, com ativos de US$ 850 bilhões

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Bancos estrangeiros poderão competir em pé de igualdade com os chineses a partir de hoje, quando termina o prazo de cinco anos para a abertura do setor financeiro da China fixado pela OMC (Organização Mundial do Comércio).
O que está em jogo é o mercado do país mais populoso do mundo -1,3 bilhão de pessoas-, que registra taxas anuais de crescimento de 9,6% desde 1978. O volume de depósitos atinge a fantástica soma de US$ 4,3 trilhões, ou 170% do PIB, mas são poucas as opções rentáveis de investimentos.
São os titulares desses depósitos que os estrangeiros tentarão conquistar a partir de hoje, quando poderão atuar sem restrições no varejo, com abertura de agência e oferta de serviços em yuans para pessoas físicas e jurídicas. Até agora, eles só podiam ter operações em dólares e restritas a empresas.
Multinacionais como Citibank, HSBC, Bank of American, Goldman Sachs e American Express já deram a largada na corrida, por meio da compra de participações minoritárias em bancos estatais chineses.
Alguns bancos já possuem agências na China e registraram no ano passado lucro total de US$ 446 milhões, pouco mais que o dobro do valor obtido em 2001. Mas o número total de suas agências é de apenas 214, comparado a cerca de 70 mil das instituições chinesas.
Agora, todos pretendem ampliar sua presença no mercado, que tem volume de empréstimos de US$ 2,9 trilhões, o equivalente a 120% do PIB, já considerada a expansão de 10,5% prevista para este ano. No Brasil, a relação é de pouco mais de 30% do PIB.
Apesar do enorme volume de dinheiro nos bancos, o sistema financeiro chinês é pouco sofisticado. O uso de cartões de crédito é incipiente e o financiamento ao consumo, quase inexistente. A afluente e cada vez maior classe média chinesa quer comprar carros, apartamentos e bens de consumo, operações que podem ser intermediadas pelos bancos.
O principal desafio no caminho dos estrangeiros será a concorrência com os gigantescos bancos estatais chineses, que têm ramificações em todo o país e concentram o maior volume de depósitos.
O maior deles, o ICBC (Industrial and Commercial Bank of China), possui ativos de US$ 850 bilhões, 18 mil agências e 355 mil funcionários.
O número de clientes da instituição reflete as proporções do país: 2,5 milhões de empresas e 150 milhões de pessoas físicas, universo equivalente à soma dos habitantes de Colômbia, Argentina, Peru, Equador e Venezuela.
Mas antes de saírem à caça de potenciais clientes, os bancos estrangeiros terão de cumprir as regras estabelecidas pelo governo para sua operação no país -divulgadas apenas no dia 15 de novembro, menos de um mês antes da data de abertura do mercado financeiro.
A principal delas é a exigência de criação de novas empresas na China -e não meras filiais-, com capital mínimo de US$ 125 milhões. Além disso, terão de fazer provisões de US$ 12,5 milhões para cada nova agência que abrirem no país.
Segundo o governo, a regra tem o objetivo de proteger os interesses dos depositantes, que correriam o risco de perder ativos, na hipótese de uma crise global do banco estrangeiro.
O organismo responsável pela regulamentação do setor bancário informou que pelo menos dez bancos estrangeiros já haviam manifestado interesse em criar empresas na China dentro das novas regras.


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