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ANÁLISE
Resultado não abala perspectiva positiva
FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A informação que, compreensivelmente, deverá constar nas manchetes é um tanto
frustrante: o PIB brasileiro, ao
crescer 1,3% na passagem do 2º
para o 3º trimestre, avançou
menos do que, em média, projetavam bancos, consultorias e
demais analistas econômicos
(2%). Mas o vasto conjunto de
informações divulgado ontem
pelo IBGE sugere que a avaliação geral, positiva, sobre a trajetória recente e as perspectivas da atividade econômica no
Brasil não sofreu abalo.
O IBGE trouxe a público não
apenas os resultados no PIB no
período julho-setembro mas
também os números revistos
dos trimestres precedentes,
desde o início de 2007. Esses
números mudaram, até bastante: a queda do PIB na passagem
de 2008 para 2009 foi menor
do que se estimou inicialmente
(a contração acumulada entre
outubro de 2008 e março de
2009 passou de 4,3% para
3,8%), e a retomada no 2º trimestre se deu a um ritmo mais
moderado do que apontava o
primeiro cálculo (o crescimento sobre o 1º trimestre foi revisto de 1,9% para 1,1%). A história que os novos números contam, porém, é essencialmente a mesma: a guinada
recessiva da economia brasileira, em seguida ao travamento
global do crédito, foi muito forte (em especial porque a indústria brasileira, confiando na tese da "marolinha", carregava
estoques altos e, por isso, efetuou o corte de produção mais
drástico da sua história). Mas
essa guinada foi também breve:
já no 2º trimestre a economia
voltava a crescer, graças sobretudo ao fato de que, pela primeira vez em décadas, a política econômica tinha margem de
manobra para estimular a demanda interna num contexto
de contração da liquidez global;
e ao fato de que no Brasil a demanda interna tem peso particularmente alto (as exportações de bens não chegam a 13%
do PIB, metade da média mundial).
No 3º trimestre, a retomada
prosseguiu, a um ritmo, conforme se esperava, ligeiramente
superior ao do 2º. A perspectiva
para o fechamento do ano permanece a de uma variação do
PIB próxima de zero, e, para
2010, uma alta da ordem de 5%
(ou mais) continua a ser a expectativa predominante.
Cabe, aqui, uma advertência
sobre o contraste entre o ritmo
do PIB apurado pelo IBGE,
com alta mais moderada do que
se avaliava no 2º e 3º trimestres, e o ritmo da demanda interna, tão dinâmico quanto se
estimava. Esse contraste está
ligado a um aspecto técnico da
medição do PIB, que é a variação de estoques.
Embora as informações sobre estoques sejam muito imperfeitas, não resta dúvida de
que, desde o final de 2008, suas
flutuações na indústria brasileira têm sido muito fortes.
E
essas movimentações têm tido
um peso extraordinário nos
números do PIB. Para ter uma
ideia: embora a variação de estoques tenha peso de apenas
1,2% na composição do PIB, se
excluíssemos a queda dos estoques do cálculo do PIB, a alta
deste no 3º trimestre saltaria
de 1,3% para 2,3%.
Um comentário final: os novos números do IBGE indicam
que a retomada do investimento teve início já no 2º trimestre
e se acelerou no 3º, sinalizando
menor risco, à frente, de gargalos de oferta a pressionar a inflação.
FERNANDO SAMPAIO, economista, é
sócio-diretor da LCA Consultores.
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