São Paulo, sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

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Para o governo, câmbio vira maior risco para inflação

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com o ritmo de crescimento da economia menor do que o esperado entre julho e setembro, as trajetórias da taxa de câmbio e do preço das commodities passam a ser o maior risco para a inflação em 2010, na avaliação de parte da equipe econômica.
Como o governo não tem muito a fazer para controlar essas duas variáveis, num cenário de crescimento mundial mais ou menos robusto espera-se um impacto maior das commodities na formação dos preços no Brasil, o que justifica a preocupação.
Cabem, porém, algumas ponderações. Tradicionalmente, o valor da cotação do real e o preço desses produtos negociados internacionalmente (como alimentos e minério) andam em sentido oposto. Toda vez que as commodities sobem muito, o real se aprecia, já que o Brasil é um forte exportador nessa área.
Em 2009, no entanto, a cotação do real subiu numa velocidade muito maior do que o aumento verificado no preço das commodities. Com isso, o governo lucrou minimizando o impacto da altas de preço de produtos tão importantes como alimentos para inflação.
Para 2010, a expectativa é de alta nas matérias-primas, seja por uma retomada do crescimento global ou por um enfraquecimento do dólar num cenário mais recessivo. Há ainda o medo de economistas de que o mundo volte a crescer aceleradamente e, ainda assim, países ricos mantenham políticas de juro baixo, enfraquecendo o dólar, o que elevaria mais o risco de alta de commodities.

Imposto
Por outro lado, o governo brasileiro assumiu a política de evitar uma apreciação maior do real, com medidas como a cobrança de impostos para o capital estrangeiro que ingressa no país. Com isso, o impacto benéfico da apreciação do câmbio para a inflação tende a ser menor, apesar de o Brasil esperar grandes volumes de investimento externo nos próximos anos.
O problema é que esses não serão movimentos isolados. Some-se a isso uma economia com indústria, consumo das famílias e gastos públicos crescendo, desemprego caindo e ganhos reais de renda.
Mesmo que o ritmo da recuperação seja menor, os fatores podem se somar. E há ainda grande chance de nova revisão dos números do IBGE quando for divulgado o retrato da economia no quarto trimestre do ano.
Pelo que apontam indicadores de curto prazo da indústria, do varejo e do mercado de trabalho, a economia pode mostrar um nível de atividade mais acelerado do que a fotografia do terceiro trimestre. Mesmo sem um superaquecimento, essa combinação é tudo o que o Banco Central precisa para sustentar o discurso mais conservador.


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