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Para o governo, câmbio vira maior risco para inflação
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com o ritmo de crescimento da economia menor
do que o esperado entre julho e setembro, as trajetórias
da taxa de câmbio e do preço
das commodities passam a
ser o maior risco para a inflação em 2010, na avaliação de
parte da equipe econômica.
Como o governo não tem
muito a fazer para controlar
essas duas variáveis, num cenário de crescimento mundial mais ou menos robusto
espera-se um impacto maior
das commodities na formação dos preços no Brasil, o
que justifica a preocupação.
Cabem, porém, algumas
ponderações. Tradicionalmente, o valor da cotação do
real e o preço desses produtos negociados internacionalmente (como alimentos e
minério) andam em sentido
oposto. Toda vez que as commodities sobem muito, o real
se aprecia, já que o Brasil é
um forte exportador nessa
área.
Em 2009, no entanto, a cotação do real subiu numa velocidade muito maior do que
o aumento verificado no preço das commodities. Com isso, o governo lucrou minimizando o impacto da altas de
preço de produtos tão importantes como alimentos
para inflação.
Para 2010, a expectativa é
de alta nas matérias-primas,
seja por uma retomada do
crescimento global ou por
um enfraquecimento do dólar num cenário mais recessivo. Há ainda o medo de economistas de que o mundo
volte a crescer aceleradamente e, ainda assim, países
ricos mantenham políticas
de juro baixo, enfraquecendo
o dólar, o que elevaria mais o
risco de alta de commodities.
Imposto
Por outro lado, o governo
brasileiro assumiu a política
de evitar uma apreciação
maior do real, com medidas
como a cobrança de impostos para o capital estrangeiro
que ingressa no país. Com isso, o impacto benéfico da
apreciação do câmbio para a
inflação tende a ser menor,
apesar de o Brasil esperar
grandes volumes de investimento externo nos próximos
anos.
O problema é que esses
não serão movimentos isolados. Some-se a isso uma economia com indústria, consumo das famílias e gastos públicos crescendo, desemprego caindo e ganhos reais de
renda.
Mesmo que o ritmo da recuperação seja menor, os fatores podem se somar. E há
ainda grande chance de nova
revisão dos números do
IBGE quando for divulgado o
retrato da economia no
quarto trimestre do ano.
Pelo que apontam indicadores de curto prazo da indústria, do varejo e do mercado de trabalho, a economia
pode mostrar um nível de
atividade mais acelerado do
que a fotografia do terceiro
trimestre. Mesmo sem um
superaquecimento, essa
combinação é tudo o que o
Banco Central precisa para
sustentar o discurso mais
conservador.
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