São Paulo, Quarta-feira, 12 de Janeiro de 2000


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OPINIÃO ECONÔMICA

Como salvar o Mercosul

OSWALDO MOREIRA DOUAT

A atual conjuntura não deve alterar a importância estratégica do Mercosul para o Brasil. Acredito que a dinâmica da política externa brasileira para os próximos anos deve considerar prioritário o aprofundamento do Mercosul como peça-chave para o projeto de inserção internacional do Brasil.
As motivações para o aprofundamento são muitas e deverão ser o novo ponto de partida. As condições oferecidas pelas economias, determinadas por um criterioso balanço de ganhos e perdas futuras em termos estratégicos e econômicos, apontam nessa direção. A queda de 30% do intercâmbio econômico do Brasil com os sócios do Mercosul entre os meses de janeiro e outubro de 1999, em relação ao mesmo período em 98, é suficiente para demonstrar os prejuízos dessa crise, sem falar no impacto sobre os investimentos.
Existe, além disso, um forte consenso entre o governo e o setor privado no Brasil sobre os desafios que as negociações para a integração hemisférica, um acordo com a União Européia, assim como as negociações no âmbito multilateral, impõem para os nossos países, exigindo um firme posicionamento conjunto.
Esses aspectos determinam a motivação para o avanço do Mercosul. O enfraquecimento do bloco só aumenta a vulnerabilidade das economias diante da instabilidade cambial e é a pior resposta que os países poderiam dar para a crise.
Se considerarmos que o Brasil deverá retomar o crescimento neste ano e que haverá melhora da situação econômica dos demais sócios do Mercosul, é possível vislumbrar um ambiente propício para uma melhoria do clima dentro do Mercosul.
Isso poderia apoiar a superação do clímax de uma crise, mas não resolverá os problemas de caráter estrutural. Há, agora, a necessidade de enfrentar o núcleo rígido da negociação, aproveitando a perspectiva de recuperação econômica para o tratamento de temas como coordenação macroeconômica, institucionalização, reestruturação de atividades produtivas e redução de assimetrias reguladoras.
Cumprida essa etapa e identificadas as potenciais alianças estratégicas prioritárias para a alavancagem dos negócios do Mercosul em relação a terceiros mercados, deve-se identificar grandes projetos de investimentos e ouvir prováveis investidores sobre as dificuldades percebidas para a viabilidade concreta da implantação dos projetos.
Essa pesquisa contribuirá para a construção de um projeto logístico que impulsione a integração econômica do Mercosul e sua inserção no mercado mundial.
Uma ação dessa natureza não dispensa enfrentar as dificuldades conhecidas para iniciar a abordagem imediata de temas como as políticas cambiais e outras sensibilidades de todos os participantes do Mercosul. O caminho inicia-se pelo ajuste das economias com austeridade fiscal, o avanço das negociações que favoreçam a especialização e a complementaridade econômica. E também a conclusão das tarefas vinculadas à consolidação da União Aduaneira, com a implementação de medidas de facilitação de comércio, além do desenvolvimento da infra-estrutura, que tem impacto sobre os fluxos de comércio e as desigualdades regionais (transporte, energia, comunicações).
Não resta a menor dúvida de que é um longo e árduo caminho e que exigirá trabalho e compreensão de todos, tanto dos governos como da iniciativa privada. É difícil vencer uma guerra sem correr o risco de perder batalhas importantes. As recentes crises causadas ao comércio do Mercosul por alterações de preços relativos das maiores economias indica-nos, claramente, que o caminho dos acordos setoriais não é definitivo e que teremos de avançar na implantação de mecanismos para a solução de controvérsias.
Toda essa ação não pode deixar de levar em conta uma profunda reflexão sobre a importância de reforçar o poder de negociação do Mercosul nos foros comerciais internacionais.
É necessário promover o relançamento do Mercosul, olhando para esses aspectos antes mencionados com o sentimento de que temos de assumir uma nova identidade.
Só assim será possível salvar o mais importante instrumento de integração internacional competitiva de que dispomos no Cone Sul, bem como utilizar o seu potencial conjunto para a obtenção de expressivo ganho de competitividade e consolidação de um dos mais importantes mercados de consumo do planeta.


Oswaldo Moreira Douat, 60, empresário, é vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria e presidente do Conselho de Integração Internacional da CNI.


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