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OPINIÃO ECONÔMICA
Como salvar o Mercosul
OSWALDO MOREIRA DOUAT
A atual conjuntura não deve
alterar a importância estratégica do Mercosul para o Brasil.
Acredito que a dinâmica da política externa brasileira para os
próximos anos deve considerar
prioritário o aprofundamento
do Mercosul como peça-chave
para o projeto de inserção internacional do Brasil.
As motivações para o aprofundamento são muitas e deverão
ser o novo ponto de partida. As
condições oferecidas pelas economias, determinadas por um
criterioso balanço de ganhos e
perdas futuras em termos estratégicos e econômicos, apontam
nessa direção. A queda de 30%
do intercâmbio econômico do
Brasil com os sócios do Mercosul
entre os meses de janeiro e outubro de 1999, em relação ao mesmo período em 98, é suficiente
para demonstrar os prejuízos
dessa crise, sem falar no impacto
sobre os investimentos.
Existe, além disso, um forte
consenso entre o governo e o setor privado no Brasil sobre os
desafios que as negociações para
a integração hemisférica, um
acordo com a União Européia,
assim como as negociações no
âmbito multilateral, impõem
para os nossos países, exigindo
um firme posicionamento conjunto.
Esses aspectos determinam a
motivação para o avanço do
Mercosul. O enfraquecimento
do bloco só aumenta a vulnerabilidade das economias diante
da instabilidade cambial e é a
pior resposta que os países poderiam dar para a crise.
Se considerarmos que o Brasil
deverá retomar o crescimento
neste ano e que haverá melhora
da situação econômica dos demais sócios do Mercosul, é possível vislumbrar um ambiente
propício para uma melhoria do
clima dentro do Mercosul.
Isso poderia apoiar a superação do clímax de uma crise, mas
não resolverá os problemas de
caráter estrutural. Há, agora, a
necessidade de enfrentar o núcleo rígido da negociação, aproveitando a perspectiva de recuperação econômica para o tratamento de temas como coordenação macroeconômica, institucionalização, reestruturação de
atividades produtivas e redução
de assimetrias reguladoras.
Cumprida essa etapa e identificadas as potenciais alianças estratégicas prioritárias para a
alavancagem dos negócios do
Mercosul em relação a terceiros
mercados, deve-se identificar
grandes projetos de investimentos e ouvir prováveis investidores sobre as dificuldades percebidas para a viabilidade concreta
da implantação dos projetos.
Essa pesquisa contribuirá para a construção de um projeto
logístico que impulsione a integração econômica do Mercosul e
sua inserção no mercado mundial.
Uma ação dessa natureza não
dispensa enfrentar as dificuldades conhecidas para iniciar a
abordagem imediata de temas
como as políticas cambiais e outras sensibilidades de todos os
participantes do Mercosul. O caminho inicia-se pelo ajuste das
economias com austeridade fiscal, o avanço das negociações
que favoreçam a especialização
e a complementaridade econômica. E também a conclusão das
tarefas vinculadas à consolidação da União Aduaneira, com a
implementação de medidas de
facilitação de comércio, além do
desenvolvimento da infra-estrutura, que tem impacto sobre os
fluxos de comércio e as desigualdades regionais (transporte,
energia, comunicações).
Não resta a menor dúvida de
que é um longo e árduo caminho e que exigirá trabalho e
compreensão de todos, tanto dos
governos como da iniciativa privada. É difícil vencer uma guerra sem correr o risco de perder
batalhas importantes. As recentes crises causadas ao comércio
do Mercosul por alterações de
preços relativos das maiores economias indica-nos, claramente,
que o caminho dos acordos setoriais não é definitivo e que teremos de avançar na implantação
de mecanismos para a solução
de controvérsias.
Toda essa ação não pode deixar de levar em conta uma profunda reflexão sobre a importância de reforçar o poder de negociação do Mercosul nos foros
comerciais internacionais.
É necessário promover o relançamento do Mercosul, olhando
para esses aspectos antes mencionados com o sentimento de
que temos de assumir uma nova
identidade.
Só assim será possível salvar o
mais importante instrumento
de integração internacional
competitiva de que dispomos no
Cone Sul, bem como utilizar o
seu potencial conjunto para a
obtenção de expressivo ganho de
competitividade e consolidação
de um dos mais importantes
mercados de consumo do planeta.
Oswaldo Moreira Douat, 60, empresário,
é vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria e presidente do Conselho
de Integração Internacional da CNI.
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