São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2004

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LEITE DERRAMADO

Ex-presidente do grupo é envolvido, por antigo subalterno, em nova fraude, acerca de apropriação de descontos

Ex-chefe da Parmalat é acusado de desvio

Paolo Cocco/France Presse
Caminhão transportando leite para a Parmalat atravessa a entrada da fábrica em Collechio, próximo a Parma, sede da empresa


DA REDAÇÃO

O ex-diretor financeiro da Parmalat Fausto Tonna acusou o ex-presidente do grupo Calisto Tanzi de apropriar-se indevidamente do dinheiro proveniente de descontos que a sueca Tetra Pak concedia à empresa italiana.
A Tetra Pak fabrica embalagens. Por uma estratégia empresarial, ela fornecia seus produtos para a Parmalat com desconto em relação à tabela oficial, uma prática comum para clientes com grande demanda. Calisto Tanzi, porém, em vez de utilizar o abatimento para diminuir o custo de sua produção, preferia embolsar a diferença, segundo declarou Tonna.
As informações foram reproduzidas pelo jornal italiano "La Repubblica", baseadas em informações dos investigadores locais.
Não foi informado qual era o desconto concedido pela empresa, nem qual a quantidade de dinheiro que Tanzi teria desviado.
Mas, segundo o antigo subalterno, o ex-presidente teria desviado mais do que os 500 milhões que ele alega ter retirado da Parmalat.
No interrogatório a que foi submetido, no sábado, Tonna estimou em vários milhões de euros os fundos que Tanzi desviava para suas contas pessoais e que procediam dos descontos aplicados pela Tetra Pak, que fornecia os invólucros para o leite e os sucos de frutas produzidos pela Parmalat.
Tonna, que está preso na Itália, explicou que a Tetra Pak não sabia o que acontecia na Parmalat e que o dinheiro era repartido entre vários dirigentes do grupo.
Ele admitiu aos investigadores que trabalhou para ocultar um rombo financeiro que pode chegar a quase 10 bilhões nas contas do grupo, mas insistiu que sempre agiu sob ordens de Tanzi, que também está detido.

Novo rumo
A partir desta semana, os promotores do caso na Itália pretendem focar a investigação nos grupos bancários envolvidos com a Parmalat.
Um ex-executivo do Bank of America, terceiro maior banco dos EUA, está preso. O escritório da instituição foi vasculhado em Milão na semana passada. A Justiça quer saber se o banco sabia das operações contábeis fraudulentas da fabricante de alimentos. O banco diz que vai cooperar.
Nesta semana, executivos de dois dos principais bancos italianos (Capitalia e Banca Intesa) devem ser interrogados. O Capitalia é o que tem a maior exposição à Parmalat.
Investigadores tentam descobrir como foi possível que a Parmalat tivesse um rombo financeiro em suas contas sem que ninguém soubesse. E quer determinar qual o grau de envolvimento dos executivos da companhia, das filiais pelo mundo, dos bancos e das empresas de auditoria.
Uma das questões que os promotores querem fazer ao presidente do Capitalia, Cesari Geronzi, é se ele pressionou a Parmalat a comprar a fabricante de leite Eurolat da Cirio em 1999, por 330 milhões.
O banco era um dos principais credores da Cirio, em liquidação após não ter pago uma dívida de 1 bilhão em 2002.
Hoje, está marcada uma reunião dos detentores de títulos da Parmalat, na Itália, para discutir a crise na empresa. Analistas, porém, acham que ela deve ser adiada.

Com agências internacionais


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