São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2004

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MERCADO

Demora em perceber bom cenário para aplicar em Bolsa faz com que gestores deixem de obter resultados melhores

Aposta tardia inibe ganho maior com ações

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Apostas tardias de gestores prejudicaram o desempenho de fundos de ações e de multimercados em 2003.
Até abril, parcela significativa de economistas do mercado financeiro ainda resistia à redução dos juros -que beneficia a Bolsa- e havia até quem recomendasse a elevação de um ponto a dois pontos percentuais da taxa básica, a Selic.
Mesmo quando a inflação recuou, a Bolsa deslanchou e os juros começaram a cair, alguns gestores de fundos permaneceram com o pé atrás, temerosos de um revés do cenário de melhora.
"Muitos fundos não foram bem porque não quiseram entrar tão agressivamente em Bolsa. Acharam que não iria dar certo [a política macroeconômica do governo Lula]", afirma João Luiz Máscolo, professor do Ibmec.
"Quem não entrou por achar que as reformas não iriam passar, que [o ministro da Fazenda] Palocci iria se demitir e só ganhou confiança após a reforma da Previdência perdeu, em relação a fevereiro, alta de mais de 40%", diz Jorge Simino, consultor.
No início de 2003, o ceticismo era grande, lembra Ricardo Leal, professor do Instituto Coppead, da UFRJ. "Fundos ficaram numa posição muito defensiva, com ações de empresas que se beneficiariam da alta do dólar e títulos lastreados em dólar, sem grandes apostas em ações."
Quem, na contramão, apostou em ações no final de fevereiro pegou o processo inteiro de alta. Uma valorização de 97,34% no ano e de 116,09% desde o fim de fevereiro.
"No final de 2002, já sabíamos que o governo do PT seria responsável do ponto de vista fiscal e que o mercado se beneficiaria disso", diz Marcelo Cavalheiro, sócio da Hedging-Griffo.
A estratégia dos fundos que tiveram maior rentabilidade foi a de investir em empresas endividadas, principalmente em dólar, e sem hedge (proteção).
"Elas fariam o movimento reverso em relação ao ano anterior [quando despencaram com a alta do dólar]", diz Cavalheiro.
"Apostamos em histórias de virada, como Usiminas (430% de valorização no ano), Sadia (231% de alta no ano) e Random."
"Aplicamos desde o começo do ano em empresas endividadas em dólar, com possibilidade de inverter resultados negativos, como Braskem e Embratel", diz Helena Biasotto, da Banrisul Corretora, cujo fundo Performance foi o único dentre os que tentam superar o índice IBX a ultrapassar 90% de rentabilidade no ano. Subiu mais de 127% no período.

Ibovespa
A maioria dos fundos indexados ao Ibovespa (buscam reproduzir a carteira teórica do índice da Bovespa, composta de 54 papéis mais negociados) foram batidos em rentabilidade pelo índice.
Além da taxa de administração, é difícil reproduzir a carteira porque alguns papéis têm peso muito pequeno, de apenas 0,5% do Ibovespa. Muitas dessas ações, de empresas em dificuldades, que não eram mais acompanhadas, subiram 300%, 400%. Quem não tinha esses papéis ficou para trás.
Quando o fluxo de recursos é grande, como ocorreu em 2003, fundos indexados ao Ibovespa tendem a ter um desempenho melhor que outros fundos, segundo analistas. "Não ficaria preocupado se gestores ficaram abaixo do índice. Não tiraria de ações por isso, porque um ano é muito pouco", diz Marcelo Guterman, professor do Ibmec.
O mesmo ocorreu em multimercados tanto em relação a ações quanto em títulos da dívida soberana. Alguns desses fundos investiram em C-Bonds e em Global 40. Compraram C-Bond a 50% do valor de face, ainda no ano passado, e o papel foi para 90%. Pegaram toda a alta. Quem demorou a entrar em dívida soberana também se deu mal.



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