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MERCADO
Demora em perceber bom cenário para aplicar em Bolsa faz com que gestores deixem de obter resultados melhores
Aposta tardia inibe ganho maior com ações
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Apostas tardias de gestores prejudicaram o desempenho de fundos de ações e de multimercados
em 2003.
Até abril, parcela significativa
de economistas do mercado financeiro ainda resistia à redução
dos juros -que beneficia a Bolsa- e havia até quem recomendasse a elevação de um ponto a
dois pontos percentuais da taxa
básica, a Selic.
Mesmo quando a inflação recuou, a Bolsa deslanchou e os juros começaram a cair, alguns gestores de fundos permaneceram
com o pé atrás, temerosos de um
revés do cenário de melhora.
"Muitos fundos não foram bem
porque não quiseram entrar tão
agressivamente em Bolsa. Acharam que não iria dar certo [a política macroeconômica do governo
Lula]", afirma João Luiz Máscolo,
professor do Ibmec.
"Quem não entrou por achar
que as reformas não iriam passar,
que [o ministro da Fazenda] Palocci iria se demitir e só ganhou
confiança após a reforma da Previdência perdeu, em relação a fevereiro, alta de mais de 40%", diz
Jorge Simino, consultor.
No início de 2003, o ceticismo
era grande, lembra Ricardo Leal,
professor do Instituto Coppead,
da UFRJ. "Fundos ficaram numa
posição muito defensiva, com
ações de empresas que se beneficiariam da alta do dólar e títulos
lastreados em dólar, sem grandes
apostas em ações."
Quem, na contramão, apostou
em ações no final de fevereiro pegou o processo inteiro de alta.
Uma valorização de 97,34% no
ano e de 116,09% desde o fim de
fevereiro.
"No final de 2002, já sabíamos
que o governo do PT seria responsável do ponto de vista fiscal e
que o mercado se beneficiaria disso", diz Marcelo Cavalheiro, sócio
da Hedging-Griffo.
A estratégia dos fundos que tiveram maior rentabilidade foi a
de investir em empresas endividadas, principalmente em dólar, e
sem hedge (proteção).
"Elas fariam o movimento reverso em relação ao ano anterior
[quando despencaram com a alta
do dólar]", diz Cavalheiro.
"Apostamos em histórias de virada, como Usiminas (430% de
valorização no ano), Sadia (231%
de alta no ano) e Random."
"Aplicamos desde o começo do
ano em empresas endividadas em
dólar, com possibilidade de inverter resultados negativos, como
Braskem e Embratel", diz Helena
Biasotto, da Banrisul Corretora,
cujo fundo Performance foi o único dentre os que tentam superar o
índice IBX a ultrapassar 90% de
rentabilidade no ano. Subiu mais
de 127% no período.
Ibovespa
A maioria dos fundos indexados ao Ibovespa (buscam reproduzir a carteira teórica do índice
da Bovespa, composta de 54 papéis mais negociados) foram batidos em rentabilidade pelo índice.
Além da taxa de administração,
é difícil reproduzir a carteira porque alguns papéis têm peso muito
pequeno, de apenas 0,5% do Ibovespa. Muitas dessas ações, de
empresas em dificuldades, que
não eram mais acompanhadas,
subiram 300%, 400%. Quem não
tinha esses papéis ficou para trás.
Quando o fluxo de recursos é
grande, como ocorreu em 2003,
fundos indexados ao Ibovespa
tendem a ter um desempenho
melhor que outros fundos, segundo analistas. "Não ficaria preocupado se gestores ficaram abaixo
do índice. Não tiraria de ações por
isso, porque um ano é muito pouco", diz Marcelo Guterman, professor do Ibmec.
O mesmo ocorreu em multimercados tanto em relação a
ações quanto em títulos da dívida
soberana. Alguns desses fundos
investiram em C-Bonds e em Global 40. Compraram C-Bond a
50% do valor de face, ainda no
ano passado, e o papel foi para
90%. Pegaram toda a alta. Quem
demorou a entrar em dívida soberana também se deu mal.
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