São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

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PECUÁRIA

Cerca de 600 animais que deveriam ser mortos foram abatidos em frigorífico após autorização do governo do PR

Fazenda suspeita de aftosa vendeu carne

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

Cerca de 600 cabeças de gado que deveriam ser mortas para eliminar o foco de aftosa do Paraná já foram abatidas em frigorífico, antes da confirmação da doença pelo Ministério da Agricultura, e o produto já foi comercializado no mercado interno. O transporte da fazenda ao frigorífico foi autorizado pela Seab (Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná).
A informação é de André Carioba, proprietário e gerente da fazenda Cachoeira, de São Sebastião da Amoreira (367 km ao norte de Curitiba). Ele acompanhou ontem, no auditório da Seab, em Curitiba, a reunião do Conesa (Conselho Estadual de Saúde Agropecuária) em que foi decidido o abate imediato dos 1.800 animais interditados na propriedade desde a confirmação do foco, em 6 de dezembro.
Por 17 votos a 1 e cinco abstenções, o conselho confirmou o que já se esperava: o setor agropecuário e industrial de alimentos no Estado referendou à Seab a morte dos animais e a destruição das carcaças na fazenda Cachoeira.
O argumento da maioria foi que isso favoreceria o restabelecimento, em seis meses, do comércio internacional da carne bovina brasileira. Era o que também o Ministério da Agricultura esperava que o Paraná fizesse para atender às normas da OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) sobre o comércio de carne de área infectada com aftosa.
Carioba entrou com uma medida cautelar na Justiça contra o abate e afirma que não vai autorizar a vigilância sanitária animal a entrar na propriedade ""para matar gado sadio". Desde a confirmação dos primeiros casos de aftosa em Mato Grosso do Sul, no fim de setembro, a propriedade da família Carioba não registrou nenhuma morte de animal pelos sintomas da aftosa, afirma.
A revelação do proprietário de que parte do gado já virou carne -abatida no Frigomax de Arapongas (PR)- ocorreu quando jornalistas perguntaram por que o ministério, ao anunciar o foco, disse que havia 2.202 animais na fazenda, enquanto a Seab e o fazendeiro falam em 1.800 cabeças.
Ele disse que, de 17 de outubro a 6 de dezembro (quando o foco do Paraná foi confirmado), a Cachoeira movimentou, para abate comercial, de 500 a 600 cabeças. "Não sei com exatidão", afirmou.
Ele disse que os animais percorreram o trecho rodoviário entre a fazenda e o frigorífico em um caminhão baú lacrado e que técnicos da Agricultura federais e estaduais acompanharam o transporte. ""Pedi e recebi autorização para vender, e essa carne foi para o comércio com selo do Sif [Serviço de Inspeção Federal]. O resto vocês têm que perguntar para a secretaria da Agricultura", disse.
O diretor-geral da Seab, Newton Pohl Ribas, tratou de justificar a autorização dizendo que, no período do transporte, a Cachoeira ""não era foco [de aftosa] nem seu gado estava em investigação". A condição para a OIE devolver em seis meses o certificado de área livre de aftosa com vacinação é que todo o plantel da área afetada seja abatido na propriedade.
O diretor-geral da Seab disse que o abate confirmado ontem ocorre ainda neste mês. Antes o Conesa fará avaliação para indenizar a fazenda Cachoeira. O valor estimado do prejuízo do fazendeiro só com o gado é de R$ 1,37 milhão. A matança deve exigir de oito a dez dias.


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