São Paulo, sábado, 12 de janeiro de 2008

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análise

Meta menor poderia levar à alta da Selic

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

No centro da meta de inflação, o resultado do IPCA em 2007 mostra que estavam certos os membros do governo que defendiam a manutenção da meta de 4,5% para 2009, assunto que motivou debates dentro e fora da equipe econômica em meados do ano passado, na visão de especialistas do mercado financeiro.
Isso porque uma meta de 4% mesmo para o final de 2009 poderia levar o Copom (Comitê de Política Monetária) a elevar os juros já no início de 2008. Hoje, a taxa básica da economia brasileira está em 11,25%, e os analistas de mercado prevêem uma eventual retomada nos cortes somente a partir do segundo semestre.
"Confirmou-se que a meta de 4,5% era a mais razoável e compatível com o crescimento econômico, o cenário externo [mais pessimista] e a inflação dos alimentos. Quem estava com a razão era quem defendia a meta de 4,5%, e não quem pensava em 4%. Para chegar a 4% [no ano que vem], teria de dar uma força nos juros [em 2008]", disse José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.
Para Flavio Serrano, economista da corretora López León, o mais importante é que o núcleo da inflação, que desconsidera preços voláteis como energia e alimentos, segue estável. Segundo Serrano, mesmo que meta de inflação tivesse recuado para 4% em 2009, o núcleo estável da inflação minimizaria a necessidade de um aumento nos juros. "Não se sabe até que ponto o choque no preço dos alimentos é pontual ou não. É provável que o IPCA desacelere em janeiro. O alvo de 4,5% é uma referência. Em 2006, o IPCA ficou abaixo [do centro da meta] porque os [preços dos] alimentos caíram. A meta tem uma linha e intervalo de tolerância exatamente para acomodar esses choques", disse.
"Grande parte do aumento foi de alimentos, que é uma tendência mundial. Até a metade do ano [quando foi estabelecida a meta para 2009], esperava-se um ponto a menos do que veio. O padrão de inflação vem num ritmo alto nos últimos meses", disse Nuno de Almeida, professor do Ibmec-SP.
Para Almeida, o resultado do IPCA em 2007 não esvazia a discussão de eventual redução na meta de inflação no futuro. "Continua com razão o Banco Central de pensar em perseguir uma meta menor. A inflação é alta e teria um espaço para isso. Se a meta fosse de 4% e a inflação ficasse em 4,2%, não teria qualquer complicação. Em longo prazo, a meta poderia ser menor", disse.
Para Serrano, o Banco Central pode perfeitamente seguir uma meta virtual menor do que os 4,5%, como chegou a afirmar Henrique Meirelles, presidente da instituição. "Não esvazia a discussão de meta virtual abaixo do centro teórico, em torno de 4,25%. Não fica evidente aumento de juros [para cumprir meta menor]. Não dá para falar quem estava certo nessa discussão."


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