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Agrofolha
Frio eleva preço do suco de laranja, mas não alivia setor
Geada na Flórida faz cotação voltar ao nível de há dois anos; em 2009, alta foi de 85%
Recuperação dos preços não dá o suporte definitivo ao setor, devido aos altos custos de produção e à contínua perda de renda
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
A baixa temperatura na Flórida (EUA) esquentou de vez os
preços do suco de laranja, que
voltaram aos patamares de há
dois anos. Segunda maior produtora mundial de cítricos (São
Paulo é o primeiro), a Flórida
poderá perder 10% da safra, segundo algumas previsões.
Se isso ocorrer -o que é possível, porque a previsão é de
continuidade de frio intenso na
região-, haverá redução no
abastecimento de suco.
O mercado já responde a essa
eventual quebra de safra, elevando os preços nos últimos
dias. Essa alta vem após aumento de 85% registrado em
2009, quando os preços se recuperaram devido à redução
dos estoques.
Mas, se a alta nos preços do
suco é um alívio para os produtores no momento, ainda está
longe de dar um suporte definitivo a esse setor, em que crescem os custos de produção e há
contínua perda de renda.
Os dados dos últimos anos
mostram situação difícil tanto
para o produtor como para as
indústrias. "O suco abaixo de
US$ 1.800 por tonelada não interessa a ninguém", diz Maurício Mendes, presidente da
AgraFNP e membro do Gconci
(Grupo de Consultores em Citros). E, apesar de todas as recentes altas, as negociações em
Nova York indicavam US$
1.920 por tonelada ontem.
Os próximos anos são decisivos para o setor, que precisa de
reformas estruturais. Uma delas é o combate ao "greening",
doença que avança sobre os pomares brasileiros e norte-americanos, reduzindo a safra e elevando os custos de produção.
Do lado da indústria, é necessária uma forte campanha de
marketing. Mendes explica por
quê. O suco perde terreno para
produtos similares, como águas
gaseificadas e sucos diversos,
inclusive os derivados de soja,
que são mais baratos.
De 2004 a 2008, o consumo
mundial de suco de laranja caiu
22%, recuando de 2,7 milhões
de toneladas para 2,1 milhões.
Essa queda levou ao recuo na
área de plantio da Flórida, que
caiu 32% desde 1996. Já a oferta de laranja, que deve ser de
135 milhões de caixas nesta safra no Estado norte-americano,
caiu 44% desde 2004.
Como maior produtor mundial, o Brasil também sente o
reflexo da queda mundial de
consumo. Na safra 1998/9, a
produção de laranja foi de 423
milhões de caixas em São Paulo, volume que recua para 310
milhões em 2009/10.
A indústria não só se defrontou com queda de consumo em
países ricos -União Europeia e
EUA- como não viu vingar os
prometidos mercados emergentes, como o da China. Neste
último, o consumo de suco industrializado ainda está restrito a 68 mil toneladas por ano,
com pouca variação em relação
aos períodos anteriores.
Doença séria
"Os produtores não vivem
apenas um risco de mercado,
mas também um sério risco sanitário", diz Mendes. O "greening", doença que ataca os laranjais, exigindo até a erradicação da planta, avança pelos pomares brasileiros e norte-americanos com velocidade muito
grande. Em 2004, apenas dois
ou três municípios paulistas registravam a presença da doença
-atualmente são 244.
A situação deve se complicar
ainda mais, principalmente para os pequenos produtores, devido à saída do Fundecitrus da
inspeção e da fiscalização do
"greening". "Os grandes produtores têm recursos e profissionais especializados para detectar a doença; os pequenos não",
diz Mendes.
Baixos preços e elevação de
custos continuam retirando
muitos produtores do setor. Isso já ocorreu em 1999 e em
2000, quando a citricultura
perdeu 100 mil hectares para a
cana-de-açúcar. Esse fenômeno pode acontecer de novo, diz
Mendes, para quem o custo de
US$ 4 por caixa não é viável para os produtores, que precisariam de US$ 5,70 apenas para
cobrir os custos diretos de produção -sem depreciações de
terra, de máquinas etc.
O problema é que US$ 5,70
por caixa elevaria os custos das
indústrias para US$ 1.340 por
tonelada apenas com a matéria-prima. Em uma análise superficial, o ponto de equilíbrio
para indústria e produtores seria de US$ 2.000 por tonelada,
segundo Mendes.
Os problemas de custos não
se limitam aos produtores brasileiros, mas afetam também os
americanos. Mas o Brasil,
maior produtor mundial e com
custos menores, deve determinar os ajustes de mercado.
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