São Paulo, terça-feira, 12 de janeiro de 2010

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Agrofolha

Frio eleva preço do suco de laranja, mas não alivia setor

Geada na Flórida faz cotação voltar ao nível de há dois anos; em 2009, alta foi de 85%

Recuperação dos preços não dá o suporte definitivo ao setor, devido aos altos custos de produção e à contínua perda de renda

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

A baixa temperatura na Flórida (EUA) esquentou de vez os preços do suco de laranja, que voltaram aos patamares de há dois anos. Segunda maior produtora mundial de cítricos (São Paulo é o primeiro), a Flórida poderá perder 10% da safra, segundo algumas previsões.
Se isso ocorrer -o que é possível, porque a previsão é de continuidade de frio intenso na região-, haverá redução no abastecimento de suco.
O mercado já responde a essa eventual quebra de safra, elevando os preços nos últimos dias. Essa alta vem após aumento de 85% registrado em 2009, quando os preços se recuperaram devido à redução dos estoques.
Mas, se a alta nos preços do suco é um alívio para os produtores no momento, ainda está longe de dar um suporte definitivo a esse setor, em que crescem os custos de produção e há contínua perda de renda.
Os dados dos últimos anos mostram situação difícil tanto para o produtor como para as indústrias. "O suco abaixo de US$ 1.800 por tonelada não interessa a ninguém", diz Maurício Mendes, presidente da AgraFNP e membro do Gconci (Grupo de Consultores em Citros). E, apesar de todas as recentes altas, as negociações em Nova York indicavam US$ 1.920 por tonelada ontem.
Os próximos anos são decisivos para o setor, que precisa de reformas estruturais. Uma delas é o combate ao "greening", doença que avança sobre os pomares brasileiros e norte-americanos, reduzindo a safra e elevando os custos de produção.
Do lado da indústria, é necessária uma forte campanha de marketing. Mendes explica por quê. O suco perde terreno para produtos similares, como águas gaseificadas e sucos diversos, inclusive os derivados de soja, que são mais baratos.
De 2004 a 2008, o consumo mundial de suco de laranja caiu 22%, recuando de 2,7 milhões de toneladas para 2,1 milhões. Essa queda levou ao recuo na área de plantio da Flórida, que caiu 32% desde 1996. Já a oferta de laranja, que deve ser de 135 milhões de caixas nesta safra no Estado norte-americano, caiu 44% desde 2004.
Como maior produtor mundial, o Brasil também sente o reflexo da queda mundial de consumo. Na safra 1998/9, a produção de laranja foi de 423 milhões de caixas em São Paulo, volume que recua para 310 milhões em 2009/10.
A indústria não só se defrontou com queda de consumo em países ricos -União Europeia e EUA- como não viu vingar os prometidos mercados emergentes, como o da China. Neste último, o consumo de suco industrializado ainda está restrito a 68 mil toneladas por ano, com pouca variação em relação aos períodos anteriores.

Doença séria
"Os produtores não vivem apenas um risco de mercado, mas também um sério risco sanitário", diz Mendes. O "greening", doença que ataca os laranjais, exigindo até a erradicação da planta, avança pelos pomares brasileiros e norte-americanos com velocidade muito grande. Em 2004, apenas dois ou três municípios paulistas registravam a presença da doença -atualmente são 244.
A situação deve se complicar ainda mais, principalmente para os pequenos produtores, devido à saída do Fundecitrus da inspeção e da fiscalização do "greening". "Os grandes produtores têm recursos e profissionais especializados para detectar a doença; os pequenos não", diz Mendes.
Baixos preços e elevação de custos continuam retirando muitos produtores do setor. Isso já ocorreu em 1999 e em 2000, quando a citricultura perdeu 100 mil hectares para a cana-de-açúcar. Esse fenômeno pode acontecer de novo, diz Mendes, para quem o custo de US$ 4 por caixa não é viável para os produtores, que precisariam de US$ 5,70 apenas para cobrir os custos diretos de produção -sem depreciações de terra, de máquinas etc.
O problema é que US$ 5,70 por caixa elevaria os custos das indústrias para US$ 1.340 por tonelada apenas com a matéria-prima. Em uma análise superficial, o ponto de equilíbrio para indústria e produtores seria de US$ 2.000 por tonelada, segundo Mendes.
Os problemas de custos não se limitam aos produtores brasileiros, mas afetam também os americanos. Mas o Brasil, maior produtor mundial e com custos menores, deve determinar os ajustes de mercado.


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