|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PROTECIONISMO
Americanos acenam com menos taxação sobre produtos, mas não falam em eliminar barreiras não-tarifárias
EUA lançam só proposta tarifária para Alca
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Os EUA apresentaram ontem a
sua primeira proposta para a criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). O país divulgou suas "ofertas" para atrair
países americanos às negociações.
Consideradas "ousadas" e
"abrangentes" pelo representante
de Comércio dos EUA, Robert
Zoellick, as propostas causaram
reação negativa do Itamaraty e
deverão aumentar ainda mais as
divergências entre Brasil e EUA.
Apesar disso, países da América
Central e andinos viram com
bons olhos as ofertas dos EUA.
A proposta americana limita-se
a reduzir todos os tipos de tarifas,
mas retira oficialmente da mesa
de negociações o tema que mais
interessa ao Brasil nas negociações da Alca: as barreiras não-tarifárias (dumping, subsídios internos, cotas e restrições fitossanitárias, entre outras) que afetam as
exportações brasileiras de produtos como aço, açúcar, suco de laranja e etanol, entre outros.
Zoellick deve discutir com a
missão brasileira, em encontro da
OMC em Tóquio nesta semana, as
barreiras não-tarifárias.
Além disso, os EUA definiram
um cronograma para reduzir as
tarifas de produtos agrícolas, colocando os itens que mais interessam ao Brasil no "fim da fila". Indagado durante o anúncio, Zoellick reconheceu que produtos como açúcar e suco de laranja, por
exemplo, só teriam suas tarifas
eliminadas após uma década.
Oficialmente, a proposta americana estabelece que as tarifas de
importação sobre produtos têxteis sejam eliminadas no prazo de
cinco anos a partir da entrada em
vigor do acordo de criação da Alca (entre 2005 e 2006).
Os EUA sugerem também que
cerca de 65% das importações
americanas de bens de consumo e
produtos industrializados e 56%
das importações agrícolas fiquem
isentas de impostos assim que a
Alca entrar em vigor.
As ofertas americanas apresentam diferentes taxas de redução
de barreiras comerciais para cada
uma das regiões do hemisfério
"para refletir a grande disparidade em tamanho e em desenvolvimento econômico entre os países
da Alca". Com base nessa oferta
diferenciada, os países do Caribe e
da América Central receberam as
melhores ofertas. O Mercosul foi
o mais prejudicado.
A oferta americana não é uma
concessão unilateral, mas uma
proposta a ser negociada e que
depende de reciprocidade.
Segundo Zoellick, "os EUA criaram um plano detalhado para o livre comércio no Hemisfério Ocidental" e "puseram todas as nossas tarifas sobre a mesa de negociações porque o livre comércio
beneficia a todos e nos une mais
como vizinhos".
Essa não é a opinião do embaixador brasileiro em Washington,
Rubens Barbosa. "Essa proposta
será recebida de maneira diferente pelos países. Os pequenos deverão aceitar. Outros, como os países do Mercosul, terão dúvidas."
Segundo Barbosa, o principal
problema foi a recusa americana
em negociar as barreiras não-tarifárias. O embaixador deu o exemplo do aço como símbolo da fragilidade da proposta americana.
Os EUA propuseram ontem eliminar imediatamente as tarifas
sobre as importações de aço. "No
entanto são as barreiras não-tarifárias que impedem a entrada do
aço brasileiro nos EUA", disse ele.
Texto Anterior: Internet: Provedores e Anatel discutem regulamentação Próximo Texto: Ofertas isolam Mercosul e Brasil de negociações Índice
|