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OPINIÃO ECONÔMICA
Inserção externa, uma questão em aberto
ANTONIO BARROS DE CASTRO
Desde quando a abertura
comercial começou a ser seriamente considerada neste país
(primeira metade dos anos 1980),
teve início uma discussão acerca
da futura especialização da economia brasileira. A discussão, no
entanto, pouco avançou. Recentemente as exportações parecem
dar sinais de haver deslanchado
-mas continua indefinida a
questão da especialização.
Contrariamente ao Brasil, o
Chile e o México redefiniram a
inserção externa de suas economias, de forma altamente especializada. O México chamou a si
atividades altamente empregadoras de mão-de-obra, enquanto o
Chile reforçou e renovou sua especialização em atividades baseadas no intenso uso de recursos
naturais. Aliás, segundo diferentes estudos publicados pela Cepal,
a América Latina em geral tendeu, igualmente, a especializar-se
nas últimas décadas. Se assim for,
o Brasil, ao confirmar sua estrutura econômica altamente diversificada, tornou-se uma exceção.
Será esse mais um aspecto problemático desta economia?
A resposta parece ser: depende
do que entendemos por especialização ou modalidade de inserção
externa.
Se entendemos por especialização o predomínio -especialmente no que toca às exportações-
de tais e quais atividades, caracterizadas pelo uso intenso de determinados fatores (mão-de-obra, recursos naturais, ou capital), estamos falando do velho
conceito ricardiano: têxteis na Inglaterra, vinhos em Portugal.
Desde um estudo clássico de
Leontieff ("Studies in the Structure of the American Economy",
1953) se sabe, no entanto, que os
países ricos não necessariamente
se especializam ricardianamente.
Seu comércio externo é determinado (cada vez mais, ao que tudo
indica) por "habilidades e conhecimentos". Nessas condições, e como mostrou Porter em 1990, a especialização contemporânea entre as nações industrializadas é
por produtos -e não por grandes
setores ou pela intensidade no uso
de fatores.
Cabe insistir em que a especialização por produtos, característica
das trocas entre desenvolvidos, reflete, em grande medida, a posse
ou domínio de conhecimentos
(científicos, práticos, não-codificados etc.) e habilidades, como
intuíra Leontieff. Resta acrescentar que esses conhecimentos estão
incessantemente evoluindo -por
esforço das empresas e com o
apoio dos chamados Sistemas
Nacionais de Inovação. Logra-se
com isso erguer uma proteção
móvel e relativamente leve, para
as vantagens auferidas por esse tipo de especialização.
Retornando ao Brasil, parece-me possível afirmar que o baixo
grau de especialização setorial
(ou ricardiana) pode ser considerado uma vantagem. Falta, no
entanto, ir fundo na diferenciação dos produtos. Ou, como ouvi
dizer recentemente numa discussão no IPT, na construção da
identidade própria dos produtos.
Por isso estou convencido de que
as políticas de apoio à inovação
devem assumir um lugar de grande destaque neste país, convicção
seguramente compartilhada por
aqueles que lograram renovar,
nos últimos três anos, os instrumentos e fontes de recursos disponíveis para esse gênero de políticas.
Definitivamente nossos problemas no tocante à inserção internacional não decorrem da frustração das expectativas ricardianas da maioria daqueles que defenderam, pioneiramente, a abertura desta economia. E essa percepção deveria estar muito presente na formulação da estratégia
brasileira diante do complexo desafio colocado pela hipótese Alca.
Antonio Barros de Castro, 58, professor titular da UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro) e ex-presidente do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), escreve às
quartas, a cada 15 dias, nesta coluna.
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