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SABATINA
Líder do governo no Congresso discorda de Candiota, provável novo diretor
Indicado de Lula para o BC é contestado por Mercadante
LEONARDO SOUZA
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Indicado pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva para o cargo
de diretor de Política Monetária
do Banco Central, Luiz Augusto
Candiota foi contestado ontem,
em sua sabatina na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do
Senado, pelo líder do governo no
Congresso, senador Aloizio Mercadante (PT-SP).
Mercadante fez questão de discordar do peso da política monetária sobre o crescimento da economia dado por Candiota em seu
discurso. De uma maneira geral, o
diretor responsável por essa área
administra a taxa básica de juros,
hoje em 26,5% ao ano.
Candiota disse que era "muito
importante enfatizar que a política monetária não é e jamais será a
causa para a definição do crescimento econômico do país". Ele
disse que "o crescimento é consequência de compromissos assumidos pelo governo federal" e que
a "política monetária a ser perseguida nada mais é do que a consequência desses compromissos e o
instrumento de reação para a estabilidade da moeda".
"Você rompeu com toda a teoria keynesiana -formulada pelo
economista inglês John Maynard
Keynes no século passado. Nós
não temos liberdade de política
monetária", disse Mercadante,
que pediu a palavra para discordar de Candiota. Segundo o senador, a política monetária tem sido
"prisioneira" da volatilidade do
mercado financeiro.
Mercadante disse que o BC no
Brasil hoje não pode, a exemplo
do que tem feito o Federal Reserve
(o BC americano), cortar os juros
para estimular o crescimento.
Nos últimos anos, o BC elevou
várias vezes a taxa básica de juros
para encarecer o crédito e, assim,
reduzir a atividade econômica,
com o objetivo de conter as pressões inflacionárias. As altas dos
juros foram criticadas pelo PT
quando o partido era oposição.
Candiota disse que "não devemos aceitar o fato de que somos
capazes de conviver e nos adaptar
a qualquer nível de taxa de juros"
e que a política monetária precisa
ser redesenhada "em busca da redução dos juros reais". Ele não explicou o significado da declaração, mas uma interpretação plausível é a necessidade de evitar a
manutenção da taxa básica em níveis elevados por muito tempo.
Mercadante foi o único dos 26
senadores presentes à sessão a
discordar abertamente de Candiota, apesar de ter exaltado por
diversas vezes sua capacidade
profissional. Dos senadores de
oposição, cuja maioria compôs a
base parlamentar do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso,
Candiota recebeu muitos elogios.
Apesar da divergência entre
Mercadante e o provável futuro
diretor, o clima da sessão foi tranquilo. Além de Candiota, também
foram sabatinados Paulo Sérgio
Cavalheiro (para a diretoria de
Fiscalização) e João Antônio
Fleury Teixeira (Administração).
Os três foram aprovados por
unanimidade pelos 26 senadores
presentes, dos 27 que compõem a
CAE. O senador Pedro Simon
(PMDB-RS) não compareceu. Os
indicados precisam passar pelo
plenário do Senado, que costuma
referendar a aprovação.
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