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São Paulo, quarta-feira, 12 de março de 2003

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SABATINA

Líder do governo no Congresso discorda de Candiota, provável novo diretor

Indicado de Lula para o BC é contestado por Mercadante

LEONARDO SOUZA
NEY HAYASHI DA CRUZ

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o cargo de diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Augusto Candiota foi contestado ontem, em sua sabatina na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, pelo líder do governo no Congresso, senador Aloizio Mercadante (PT-SP).
Mercadante fez questão de discordar do peso da política monetária sobre o crescimento da economia dado por Candiota em seu discurso. De uma maneira geral, o diretor responsável por essa área administra a taxa básica de juros, hoje em 26,5% ao ano.
Candiota disse que era "muito importante enfatizar que a política monetária não é e jamais será a causa para a definição do crescimento econômico do país". Ele disse que "o crescimento é consequência de compromissos assumidos pelo governo federal" e que a "política monetária a ser perseguida nada mais é do que a consequência desses compromissos e o instrumento de reação para a estabilidade da moeda".
"Você rompeu com toda a teoria keynesiana -formulada pelo economista inglês John Maynard Keynes no século passado. Nós não temos liberdade de política monetária", disse Mercadante, que pediu a palavra para discordar de Candiota. Segundo o senador, a política monetária tem sido "prisioneira" da volatilidade do mercado financeiro.
Mercadante disse que o BC no Brasil hoje não pode, a exemplo do que tem feito o Federal Reserve (o BC americano), cortar os juros para estimular o crescimento.
Nos últimos anos, o BC elevou várias vezes a taxa básica de juros para encarecer o crédito e, assim, reduzir a atividade econômica, com o objetivo de conter as pressões inflacionárias. As altas dos juros foram criticadas pelo PT quando o partido era oposição.
Candiota disse que "não devemos aceitar o fato de que somos capazes de conviver e nos adaptar a qualquer nível de taxa de juros" e que a política monetária precisa ser redesenhada "em busca da redução dos juros reais". Ele não explicou o significado da declaração, mas uma interpretação plausível é a necessidade de evitar a manutenção da taxa básica em níveis elevados por muito tempo.
Mercadante foi o único dos 26 senadores presentes à sessão a discordar abertamente de Candiota, apesar de ter exaltado por diversas vezes sua capacidade profissional. Dos senadores de oposição, cuja maioria compôs a base parlamentar do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Candiota recebeu muitos elogios.
Apesar da divergência entre Mercadante e o provável futuro diretor, o clima da sessão foi tranquilo. Além de Candiota, também foram sabatinados Paulo Sérgio Cavalheiro (para a diretoria de Fiscalização) e João Antônio Fleury Teixeira (Administração).
Os três foram aprovados por unanimidade pelos 26 senadores presentes, dos 27 que compõem a CAE. O senador Pedro Simon (PMDB-RS) não compareceu. Os indicados precisam passar pelo plenário do Senado, que costuma referendar a aprovação.


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