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LUÍS NASSIF
A conceituação do Fome Zero
O fome Zero era uma idéia
à procura de um conceito.
Agora, é um conceito à procura
de um modelo institucional inovador. Em uma hora de conversa franca, o ministro extraordinário de Segurança Alimentar e
Combate à Fome, José Graziano, expôs à coluna os próximos
passos do programa.
O Fome Zero é um programa
"transversal", para coordenar
ações de vários setores do governo. No governo, seu poder será o
de livrar do contingenciamento
os programas de outros ministérios que entrem debaixo do seu
guarda-chuva. Nos setores não-governamentais, o fato de ser
um poderoso incentivador de
ação voluntária.
Pelo seu diagnóstico, os dois
principais fatores de perpetuação da miséria são a falta de organização social e de infra-estrutura. Sua estratégia será, primeiro, organizar as famílias por
meio de assistencialismo.
O cartão será o ponto de partida por gerar demanda local. E
também por ser o mecanismo
que permitirá a afirmação das
redes de conselhos estaduais e
municipais. Graziano admite
que obrigar os beneficiados a
prestar contas de seus gastos ao
conselho é tutela. Mas é essa tutela que garantirá poder político
ao conselho para enfrentar o poder do prefeito em regiões não-organizadas.
Paralelamente à distribuição
do cartão, haverá um conjunto
de ações de cunho social, mas
com reflexos políticos, visando
reduzir a influência da indústria da seca. O cartão evitará a
cesta básica, e o projeto Cisternas (que permite recolher água
da chuva no inverno) evitará o
carro-pipa, as duas principais
armas da indústria da seca.
Cada Estado será obrigado a
constituir um conselho e um órgão executor de políticas sociais,
que poderá ser a Secretaria de
Promoção Social ou da Agricultura. O que importa é ter um interlocutor. O passo seguinte será
o treinamento de multiplicadores, como foi feito em Guariba
(PI). Em cada Estado o modelo
será implantado inicialmente
em 20 municípios.
Para evitar manipulação política, as políticas estaduais serão
acompanhadas por um representante do Fome Zero e um
funcionário de carreira da Conab. Os multiplicadores serão
técnicos ligados à Embrapa,
Pastoral, Ministério da Educação. Graziano admite que o viés
maior dos conselhos será de petistas e padres das comunidades
de base, mais atuantes pela própria formação. Mas se diz surpreendido com a adesão dos
evangélicos.
O diferencial será a tentativa
de articular outros órgãos -públicos e privados- para ajudar
a criar mercado e desenvolvimento auto-sustentado nas regiões de pobreza absoluta.
O ponto de partida será um estudo preparado pelo IFC, mapeando as maiores carências em
mil cidades. Com base nesse
diagnóstico, se tentará articular
ONGs, empresas e governo. Em
Guariba, por exemplo, as ações
de sustentabilidade serão o programa da Conab, de compra
antecipada de safra da agricultura familiar, e a implantação
do seguro-safra especificamente
para agricultura familiar no
Nordeste. Em Acuan, será um
projeto turístico desenvolvido
pelo Ministério do Turismo com
apoio do Banco Mundial.
O conceito está amadurecido.
Lembro apenas que, para que a
coordenação seja eficaz, será necessário ao Fome Zero montar
um modelo inovador de ação
institucional -do mesmo modo que foi feito no Alfabetização
Solidária.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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