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DINHEIRO
Ministros do chamado G6 não conseguem em reunião em Londres destravar a Rodada Doha de Desenvolvimento
Fracassa acordo entre os grandes da OMC
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
Ministros de seis das principais
potências comerciais do planeta
passaram todo o frio sábado londrino trancados em reunião sem,
no entanto, conseguir "o clique",
como diria ao anoitecer o chanceler brasileiro Celso Amorim.
É a maneira elegante de dizer
que a Rodada Doha de Desenvolvimento, lançada na capital do
Qatar em 2001, continua emperrada quatro anos depois e mesmo
após ter passado o prazo originalmente definido para o seu encerramento (dezembro de 2005).
O ministro indiano de Comércio, Kamal Nath, também disse
que o "clique" ficou longe, ao afirmar que a reunião foi "útil, mas
necessitamos mais compreensão
das sensibilidades e possibilidades de cada parte".
Nath, como sempre o faz nessas
ocasiões, fez questão de enfatizar
que a Rodada Doha trata de desenvolvimento, não apenas de comércio. "A Índia tem 300 milhões
de pessoas vivendo com menos
de US$ 1 por dia. Precisamos de
uma rodada que, pelo menos, eleve sua renda para US$ 2 ao dia",
afirmou o ministro, referindo-se à
medida de pobreza geralmente
usada pelo Banco Mundial.
Amorim e Nath, únicos representantes de países em desenvolvimento, foram os mais enfáticos
em reconhecer que a enésima
reunião do que passou a ser chamado de G6 não produziu resultados. O G6 é formado também
por Estados Unidos, União Européia, Japão e Austrália.
Simulações
A rigor, a única novidade da
reunião de Londres (que se segue
a outro encontro similar, há apenas mês e meio, em Davos, na Suíça) foi o fato de que os ministros
puderam examinar as simulações
produzidas em Genebra, o QG da
Organização Mundial do Comércio, sobre os resultados dos cortes
de tarifas de importação tanto em
bens industriais como em agricultura.
Não que sejam números novos.
Roberto Azevedo, chefe do Departamento Econômico do Itamaraty e supervisor geral das negociações comerciais, diz que cada país já tinha suas próprias simulações. O que se fez agora foi
juntar todas num só pacote, uniformizando os números.
Robert Portman, o chefe do comércio exterior norte-americano,
chegou a dizer que as simulações
permitiram que todos vissem "o
bom, o mau e o feio" [dos resultados da liberalização].
Parte feia
A Folha quis saber qual era a
parte "feia" na visão dos Estados
Unidos, que, como maior potência do planeta, desempenha óbvio
papel decisivo em qualquer negociação comercial ou diplomática.
Portman preferiu responder
com a dificuldade que já é sabida
desde o início da negociação: "Fica claro que será preciso tomar
decisões políticas árduas. Agricultura é sempre um tema sensível.
Cortar tarifas agrícolas (o que
EUA e Brasil pedem da União Européia) é árduo. Cortar o apoio
doméstico (o que o Brasil e o G20
pedem dos Estados Unidos) é árduo. Cortar tarifas industriais é
complexo", respondeu.
Essas dificuldades, que são muito reais, explicam porque a Rodada Doha patina desde o lançamento, a ponto de o ministro
Amorim ter deixado claro que
não acredita que seja possível
cumprir o prazo de 30 de abril,
definido na Conferência Ministerial de Hong Kong para estabelecer o que o jargão comercial chama de modalidades.
Ou seja, definir os contornos e
os principais números da negociação.
Novo prazo
Já se fala abertamente de redefinir o prazo, enquanto o Brasil insiste na necessidade de uma reunião de cúpula para dar o impulso
político de que carecem os negociadores. Ou o "clique" que também ontem não foi obtido, apesar
de os ministros terem reiniciado a
reunião após uma entrevista coletiva conjunta, com previsão de
que varasse a noite.
Na coletiva, tiveram que passar
pelo constrangimento de ouvir,
na pergunta de um jornalista britânico, a reprodução da frase do
roqueiro Bob Geldorf segundo
quem uma reunião sem representantes africanos é "uma vergonha".
Peter Mandelson, comissário
europeu para o Comércio e anfitrião do encontro, respondeu que
a reunião do G6 era apenas uma
tentativa de encurtar distâncias
para submeter o eventual encurtamento ao conjunto de 150 países da OMC, em que vale o princípio de "um país, um voto".
Amorim aproveitou para dizer
que, na próxima oportunidade,
um país que representasse a África deveria, sim, ser chamado ao
pequeno grupo.
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