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Medidas geram ceticismo em parte da equipe econômica
Mudança no câmbio é vista como ineficaz diante do cenário mundial de queda do dólar
Para especialistas, cobrança de estrangeiros é "tiro no pé", por acabar com um benefício que o investimento traz para o perfil da dívida pública
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A maré é de desvalorização
do dólar no mundo todo. Os
EUA enfrentam sua maior crise
econômica da história recente,
os juros por lá estão em queda e
os investidores buscam alternativas mais rentáveis em economias ricas e, sobretudo, nas
exportadoras de commodities,
produtos que vivem um boom
de alta. É o caso do Brasil.
Adotar medidas para evitar
que o real siga o caminho trilhado pelas demais moedas é
remar contra a maré, com grande chance de morrer na praia,
que vive um momento de tormentas. Não à toa a proposta do
governo de adotar medidas para tentar conter a valorização
do real diante do dólar desagradou ao próprio governo.
Boa parte da equipe econômica não gostou e, num fato raro, a notícia desagradou aos
técnicos da Fazenda e do Banco
Central. Ontem, enquanto uns
foram pegos de surpresa com a
notícia de que o anúncio estava
previsto para hoje, outros lamentavam o voto vencido.
Reclamação
A principal queixa? As medidas, sejam elas quais forem, não
vão adiantar para conter a
apreciação do câmbio.
A avaliação é que, além do fato de o dólar estar perdendo valor mundo afora, o preço das
commodities está em trajetória
de alta, e o Brasil, à beira de receber o selo das agências internacionais de boa economia para investir (o chamado "grau de
investimento").
Com isso, não adiantaria encarecer a entrada de investidores estrangeiros, aumentando a
cobrança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) ou
mesmo elevando o percentual
dos dólares obtidos com exportações que os empresários podem deixar no exterior.
Hoje, o Brasil permite que
30% das receitas com vendas
externas sejam mantidas no exterior. Porém, segundo estimativas da AEB (Associação de
Comércio Exterior do Brasil), o
valor realizado não chega a 3%.
"Se vier, a medida será muito
bem-vinda para reduzir custos
e melhorar a eficiência da indústria, mas não terá impacto
na taxa de câmbio", defende José Augusto de Castro, vice-presidente da entidade.
Já a cobrança gradativa de
IOF nas operações de renda fixa dos estrangeiros foi considerada "um tiro no pé" pela área
econômica. Segundo técnicos
ouvidos pela Folha, isso deverá
acabar com um benefício que
os estrangeiros trazem para a
dívida pública, com alongamento dos prazos de vencimento e redução dos custos,
sem gerar nenhum ganho em
relação à taxa de câmbio.
Para o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, não
haveria "momento pior" para
discutir o assunto. "Especulações com o real não são feitas
apenas com dinheiro que entra
no país, e controlar o fluxo de
ingresso de qualquer forma
não vai mudar a trajetória do
câmbio", afirma.
Para o economista Fábio
Akira, do banco JPMorgan, "o
momento é de ficar parado na
política monetária e cambial
para esperar os desdobramentos da crise externa". Isso porque, argumenta, por mais que
não tenham efeitos práticos, as
medidas criam um ruído desnecessário.
(SHEILA D'AMORIM E VALDO CRUZ)
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