São Paulo, quinta-feira, 12 de março de 2009

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Economistas já veem taxa de juro real de 5% neste ano

Oportunidade de ter Selic baixa é defendida por analistas de diferentes tendências

Para especialistas, não há mérito do BC, mas impacto da crise; exemplo vem do México, que saiu de crise nos anos 90 com taxa de 4,5%


TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise global teve como subproduto ajudar o Brasil a derrubar a taxa real de juros, que desconta a inflação projetada em 12 meses, para um dos menores patamares experimentados durante o período de estabilidade. Com a redução ontem na Selic [taxa básica], o país passa a ter juro real de 6,5% ao ano, segundo a consultoria UpTrend -só perde para maio de 2008 (6,4%), quando a Selic também estava em 11,25% e a inflação dos alimentos não preocupava.
Confirmadas as previsões de que a Selic chegue a 9,5% ainda em 2009, feitas por Bradesco e Itaú após a divulgação do PIB de 2008, o Brasil terminará este ano com juro real da ordem de 5% ao ano, patamar de outros países emergentes, como México e alguns asiáticos antes do agravamento da crise. O juro real de 5% leva em conta a previsão de inflação de 4,45%, como constava na última pesquisa do BC com os bancos.
Até então, o país só teve taxas reais tão baixas -ou negativas- em períodos de hiperinflação, quando os preços subiam mais rápido do que a indexação da dívida pública.
A possibilidade de o país consolidar o juro real em "patamares civilizados" é visto como uma das poucas unanimidades entre economistas de diferentes tendências. Além de diminuir o custo da dívida pública, abre mercados que dependem de prazos longos e taxas baixas, como financiamento imobiliário e de infraestrutura.
Segundo Ricardo Carneiro, da Unicamp, o país tem uma oportunidade histórica. "O juro alto era uma desvantagem, que agora vira vantagem", disse Carneiro (leia à pág. B5).
Para o economista John Welch, do Banco Itaú, o Brasil poderia aproveitar a experiência do México após 1995, que emergiu da crise que praticamente quebrou o país com taxas reais de 4,5% e 5%. "Demorou quatro anos, mas o México conseguiu reduzir o juro real. O México tinha a seu favor um endividamento menor, mas o sistema bancário não era tão forte", disse Welch, que analisava a região nos bancos Lehman Brothers e Bear Stearns.
Jason Vieira, autor do estudo da UpTrend sobre juro real, lembra que países que antes tinham "taxas civilizadas" estão agora com juro real próximo de zero ou negativo, como Itália (-0,1%) e Holanda (-0,5%). "Não há mérito nenhum do BC. É mais o impacto da crise."
Para Fernando Cardim, da UFRJ, "foi necessário um dramático desabamento da economia para o BC começar a contemplar taxas próximas a 10%. Não há mérito do BC nisso".
Marcio Holland, da FGV, destaca que a taxa real de juros é importante, mas não será determinante para impulsionar a economia. "Não é suficiente para reverter as tendências."


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