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Economistas já veem taxa de juro real de 5% neste ano
Oportunidade de ter Selic baixa é defendida por analistas de diferentes tendências
Para especialistas, não há mérito do BC, mas impacto da crise; exemplo vem do México, que saiu de crise nos anos 90 com taxa de 4,5%
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise global teve como subproduto ajudar o Brasil a derrubar a taxa real de juros, que desconta a inflação projetada em
12 meses, para um dos menores
patamares experimentados durante o período de estabilidade.
Com a redução ontem na Selic
[taxa básica], o país passa a ter
juro real de 6,5% ao ano, segundo a consultoria UpTrend -só
perde para maio de 2008
(6,4%), quando a Selic também
estava em 11,25% e a inflação
dos alimentos não preocupava.
Confirmadas as previsões de
que a Selic chegue a 9,5% ainda
em 2009, feitas por Bradesco e
Itaú após a divulgação do PIB
de 2008, o Brasil terminará este ano com juro real da ordem
de 5% ao ano, patamar de outros países emergentes, como
México e alguns asiáticos antes
do agravamento da crise. O juro
real de 5% leva em conta a previsão de inflação de 4,45%, como constava na última pesquisa do BC com os bancos.
Até então, o país só teve taxas
reais tão baixas -ou negativas- em períodos de hiperinflação, quando os preços subiam mais rápido do que a indexação da dívida pública.
A possibilidade de o país consolidar o juro real em "patamares civilizados" é visto como
uma das poucas unanimidades
entre economistas de diferentes tendências. Além de diminuir o custo da dívida pública,
abre mercados que dependem
de prazos longos e taxas baixas,
como financiamento imobiliário e de infraestrutura.
Segundo Ricardo Carneiro,
da Unicamp, o país tem uma
oportunidade histórica. "O juro
alto era uma desvantagem, que
agora vira vantagem", disse
Carneiro (leia à pág. B5).
Para o economista John
Welch, do Banco Itaú, o Brasil
poderia aproveitar a experiência do México após 1995, que
emergiu da crise que praticamente quebrou o país com taxas reais de 4,5% e 5%. "Demorou quatro anos, mas o México
conseguiu reduzir o juro real. O
México tinha a seu favor um
endividamento menor, mas o
sistema bancário não era tão
forte", disse Welch, que analisava a região nos bancos Lehman Brothers e Bear Stearns.
Jason Vieira, autor do estudo
da UpTrend sobre juro real,
lembra que países que antes tinham "taxas civilizadas" estão
agora com juro real próximo de
zero ou negativo, como Itália
(-0,1%) e Holanda (-0,5%).
"Não há mérito nenhum do BC.
É mais o impacto da crise."
Para Fernando Cardim, da
UFRJ, "foi necessário um dramático desabamento da economia para o BC começar a contemplar taxas próximas a 10%.
Não há mérito do BC nisso".
Marcio Holland, da FGV,
destaca que a taxa real de juros
é importante, mas não será determinante para impulsionar a
economia. "Não é suficiente
para reverter as tendências."
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