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Crise global coloca cúpula do G20 sob pressão para achar soluções já
Preocupação original era reformar arquitetura do sistema financeiro global
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
A incessante pressão da crise
global está forçando uma mudança de enfoque para as duas
reuniões que o G20 (as maiores
economias do mundo) farão
em Londres, no sábado (ministros da Fazenda e presidentes
de bancos centrais) e em 2 de
abril (presidentes e premiês).
A preocupação original do
grupo era reformar a arquitetura do sistema financeiro global
de forma a evitar a repetição no
futuro de crises como "A Grande Recessão", como a batizou
Dominique Strauss-Kahn, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional.
Mas exatamente por ser tão
"Grande" há uma intensa pressão para que o G20 defina uma
bala de prata que possa matar o
vampiro da crise.
Ontem, a pressão veio do
mais importante líder do G20,
o americano Barack Obama.
O presidente dos EUA repetiu o apelo de seu principal assessor econômico, Lawrence
Summers, para uma ação conjunta. Obama citou as medidas
já tomadas em seu país contra a
crise, mas disse que elas não serão suficientes se outros países
não fizerem o mesmo, "de forma coordenada e que não se limitem ao âmbito doméstico".
Seu secretário do Tesouro,
Timothy Geithner, que estava
ao lado de Obama, foi ainda
mais específico, ao dizer que os
países do G20 devem aumentar
as despesas públicas -e pelo
tempo que seja necessário.
"Nós achamos que é fundamental que o G20 tome medidas concretas e importantes
pelo tempo que corresponda à
duração provável da crise."
Obama, de todo modo, fez
um aceno aos europeus, ao falar do segundo objetivo do G20,
que seria "garantir que estamos
nos movendo na direção de
uma reforma das regras [financeiras] para assegurar que não
veremos mais riscos sistêmicos
[como os atuais] ou sabermos
como evitá-los no futuro".
Os europeus reagiram ao
apelo de Summers, reforçado
ontem por seu chefe. Acham
que já fizeram o suficiente.
Queimar mais dinheiro público
aumentaria os já imensos déficits públicos, o que tende a
criar novos problemas a curto
prazo. Entendem que tanto
quanto estimular a economia é
fundamental desenhar regras
que impeçam os abusos -pelos
quais culpam os EUA- que estão na origem da crise atual.
As divergências têm levado
alguns jornais a especular com
o risco de fracasso das reuniões
do G20, uma hipótese de alguma maneira assumida até pelo
anfitrião do encontro de sábado, Alistair Darling, o ministro
britânico das Finanças.
"Do dia para a noite"
Darling, em entrevista na Associação da Imprensa Estrangeira de Londres, admitiu:
"Não há um remédio instantâneo ou solução do dia para a
noite para a crise. Não devemos
esperar um consenso integral
imediato, mas podemos começar a construir esse consenso
ao reconhecer que nosso interesse comum não está em contradição com o de cada país individualmente e, de fato, pode
ser complementar".
O ministro britânico também comentou que o Reino
Unido, a França e a Alemanha
-as três principais economias
da Europa- já fizeram muito
para estimular a demanda, embora os EUA continuem cobrando mais.
Além disso, Darling tocou em
um ponto que as autoridades
norte-americanas têm evitado:
"Se não se resolver o problema
dos bancos, não se resolverá o
problema da economia".
Não adiantaria despejar mais
recursos para estimular a demanda enquanto o sistema financeiro estiver virtualmente
paralisado. Sem crédito, não há
economia que funcione.
O titular britânico das Finanças defendeu uma reforma que
cubra "todos os tipos de risco
aos consumidores, aos mercados e às economias", inclusive
os paraísos fiscais.
Aí, a divergência é com a poderosa CBI (Confederação Britânica da Indústria), cujo presidente, Martin Broughton, vaticinou ontem, em entrevista ao
"Financial Times", que a reunião do G20 pode ser uma "catástrofe", se se insistir naquilo
que ele considera "totalmente
irrelevante" -a regulação defendida por Alistair Darling.
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