São Paulo, quinta-feira, 12 de março de 2009

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Crise global coloca cúpula do G20 sob pressão para achar soluções já

Preocupação original era reformar arquitetura do sistema financeiro global

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

A incessante pressão da crise global está forçando uma mudança de enfoque para as duas reuniões que o G20 (as maiores economias do mundo) farão em Londres, no sábado (ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais) e em 2 de abril (presidentes e premiês).
A preocupação original do grupo era reformar a arquitetura do sistema financeiro global de forma a evitar a repetição no futuro de crises como "A Grande Recessão", como a batizou Dominique Strauss-Kahn, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional.
Mas exatamente por ser tão "Grande" há uma intensa pressão para que o G20 defina uma bala de prata que possa matar o vampiro da crise.
Ontem, a pressão veio do mais importante líder do G20, o americano Barack Obama.
O presidente dos EUA repetiu o apelo de seu principal assessor econômico, Lawrence Summers, para uma ação conjunta. Obama citou as medidas já tomadas em seu país contra a crise, mas disse que elas não serão suficientes se outros países não fizerem o mesmo, "de forma coordenada e que não se limitem ao âmbito doméstico".
Seu secretário do Tesouro, Timothy Geithner, que estava ao lado de Obama, foi ainda mais específico, ao dizer que os países do G20 devem aumentar as despesas públicas -e pelo tempo que seja necessário.
"Nós achamos que é fundamental que o G20 tome medidas concretas e importantes pelo tempo que corresponda à duração provável da crise."
Obama, de todo modo, fez um aceno aos europeus, ao falar do segundo objetivo do G20, que seria "garantir que estamos nos movendo na direção de uma reforma das regras [financeiras] para assegurar que não veremos mais riscos sistêmicos [como os atuais] ou sabermos como evitá-los no futuro".
Os europeus reagiram ao apelo de Summers, reforçado ontem por seu chefe. Acham que já fizeram o suficiente. Queimar mais dinheiro público aumentaria os já imensos déficits públicos, o que tende a criar novos problemas a curto prazo. Entendem que tanto quanto estimular a economia é fundamental desenhar regras que impeçam os abusos -pelos quais culpam os EUA- que estão na origem da crise atual.
As divergências têm levado alguns jornais a especular com o risco de fracasso das reuniões do G20, uma hipótese de alguma maneira assumida até pelo anfitrião do encontro de sábado, Alistair Darling, o ministro britânico das Finanças.

"Do dia para a noite"
Darling, em entrevista na Associação da Imprensa Estrangeira de Londres, admitiu: "Não há um remédio instantâneo ou solução do dia para a noite para a crise. Não devemos esperar um consenso integral imediato, mas podemos começar a construir esse consenso ao reconhecer que nosso interesse comum não está em contradição com o de cada país individualmente e, de fato, pode ser complementar".
O ministro britânico também comentou que o Reino Unido, a França e a Alemanha -as três principais economias da Europa- já fizeram muito para estimular a demanda, embora os EUA continuem cobrando mais.
Além disso, Darling tocou em um ponto que as autoridades norte-americanas têm evitado: "Se não se resolver o problema dos bancos, não se resolverá o problema da economia".
Não adiantaria despejar mais recursos para estimular a demanda enquanto o sistema financeiro estiver virtualmente paralisado. Sem crédito, não há economia que funcione.
O titular britânico das Finanças defendeu uma reforma que cubra "todos os tipos de risco aos consumidores, aos mercados e às economias", inclusive os paraísos fiscais.
Aí, a divergência é com a poderosa CBI (Confederação Britânica da Indústria), cujo presidente, Martin Broughton, vaticinou ontem, em entrevista ao "Financial Times", que a reunião do G20 pode ser uma "catástrofe", se se insistir naquilo que ele considera "totalmente irrelevante" -a regulação defendida por Alistair Darling.


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