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"CUSTO BRASIL"
Para Febraban, depósito compulsório e carga tributária explicam diferenças entre país e demais economias
"Spread" brasileiro é o maior do mundo
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil tem o maior "spread"
-diferença entre o custo do dinheiro para instituições financeiras e o quanto elas cobram para
emprestar para consumidores e
empresas- do mundo.
Em 2003, a média brasileira foi
de 43,7 pontos percentuais ao
ano. Isso quer dizer que, no ano
passado, os bancos brasileiros pagaram taxas anuais médias de
23,4% para captar recursos e emprestar para pessoas físicas e jurídicas a juros de 67,1% ao ano.
A diferença entre essas taxas é
mais de 11 vezes a dos principais
países emergentes, cujo "spread"
médio foi de 3,9 pontos percentuais em 2003. Além do lucro dos
bancos, o "spread" bancário inclui despesas administrativas,
inadimplência e impostos.
É o que mostra um levantamento realizado pelo Iedi (Instituto de
Estudos para Desenvolvimento
Industrial) com base em dados
informados ao FMI (Fundo Monetário Internacional) pelas autoridades monetárias de 126 países.
Segundo a Febraban (Federação
Brasileira dos Bancos), os elevados depósitos compulsórios
-montante que os bancos são
obrigados a depositar no Banco
Central- e os impostos explicam
o tamanho do "spread" brasileiro.
Na comparação com as economias, emergentes ou não, que informam ao Fundo suas taxas, o
Brasil bate o Paraguai, cujo
"spread" é de 37,6 pontos percentuais. Em terceiro vem São Tomé
e Príncipe, na África, com 20 pontos; em quarto, o Quirguistão, na
Ásia, com 19,9 pontos.
Se o dado utilizado for o do Banco Central, que além das taxas
prefixadas para empresas e consumidores leva em conta as pós-fixadas -em baixa no ano passado devido à queda da taxa básica-, o "spread" brasileiro cai para 31,9 pontos percentuais, ficando em segundo lugar.
O número informado pela Febraban, que também leva em conta apenas as taxas prefixadas, é
parecido com o do FMI: para a
entidade, o "spread" bancário
brasileiro foi de 41,5 pontos percentuais no ano passado.
Segundo dados da federação,
esse número caiu 0,94 ponto percentual em relação a 2002, quando o "spread" era de 42,46 pontos.
Composição
O "spread" no Brasil compõe-se
de 32% de margem de lucro dos
bancos, 28% de impostos diretos
e indiretos, 16% de inadimplência
e 24% de despesas administrativas, de acordo com dados da consultoria Austin Asis e do BC.
Explica-se: assim como um supermercado "inclui" no preço do
produto, além da margem de lucro, seus gastos operacionais e
com impostos, as instituições financeiras chegam ao "preço" do
dinheiro calculando suas despesas administrativas e o risco de
não receber o dinheiro de volta,
entre outros. A soma desses fatores é o "spread".
"No Brasil, todos esses itens são
elevados, seja devido à instabilidade da economia, que eleva o
custo da inadimplência, seja por
causa das dificuldades que os
bancos têm para executar garantias, seja ainda por causa do baixo
volume de crédito na economia
brasileira", diz Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi.
O baixo volume de crédito, diz o
economista Alberto Borges Matías, sócio da ABM Consulting, é
um ponto-chave para explicar o
"spread" brasileiro. Isso porque,
diz ele, sem escala as despesas administrativas crescem.
O custo estrutural dos bancos
brasileiros -que é a soma das
despesas administrativas e com
pessoal dividida pela carteira de
crédito do banco- é de cerca de
16%, segundo a consultoria. Para
bancos internacionais, esse número é de 4%, em média.
"O "spread" se perde no custo estrutural", afirma Matías. Segundo
ele, a rentabilidade dos bancos
brasileiros é de 13%, similar à de
bancos em outros países. Historicamente, boa parte do lucro dos
bancos no Brasil vem de aplicações em títulos da dívida pública.
O baixo volume de crédito ofertado é conseqüência do fato de
que aplicar em títulos da dívida
-ou seja, emprestar para o governo- é mais rentável e menos
arriscado do que emprestar para
pessoas físicas e jurídicas.
De acordo com a ABM Consulting, cerca de 35% das aplicações
de bancos brasileiros são em títulos públicos. A média internacional é de 8%, segundo a consultoria.
A oferta de crédito no país é de
28,7% em relação ao PIB (Produto Interno Bruto), um dos percentuais mais baixos do mundo. No
Chile, por exemplo, essa relação é
de 65,7%; no Japão, de 102,5%, e
nos Estados Unidos, de 63,3%.
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