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MERCADO FINANCEIRO
Motivos para o corte: inflação bem-comportada e necessidade de sinalizar perspectiva de crescimento
Para analistas, Selic cai ao menos para 16%
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Inflação bem-comportada e necessidade de sinalizar perspectiva
de crescimento devem levar o
Banco Central a reduzir no mínimo em 0,25 ponto percentual (para 16% ao ano) os juros nesta semana, dizem analistas de bancos.
A cada mês fica mais claro que o
temor do BC de que houvesse significativo repasse de preços para o
varejo não se confirmou.
O Copom (Comitê de Política
Monetária) se reúne amanhã e divulga a taxa básica de juros da
economia, a Selic, no final da tarde de quarta-feira.
"É preciso consolidar a perspectiva de que haverá crescimento e
que 3,5% será o piso, e não o teto",
diz Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco.
Barros afirma esperar uma queda de pelo menos 0,25 ponto percentual, mas diz que "se a opção
for por meio ponto, a decisão seria bem recebida e não acarretaria
risco ao Banco Central".
Receio infundado
O receio do Copom, descrito na
ata de janeiro, de repasse de preços para o varejo, não ocorreu, dizem analistas. "Os formadores de
preços estão bem-comportados.
O BC falou grosso com eles. E precisa falar fino com os investidores
[dar perspectiva de crescimento],
diz Barros."
Analistas afirmam que o mercado não reagiria mal se a inflação
fechasse o ano um pouco acima
do centro da meta. "Ninguém se
surpreenderá se ficar até um ponto acima de 5,5%", diz Barros.
Isso, porém, não retira do BC o
papel de reafirmar seu compromisso com o centro da meta de inflação para este ano, como tem
feito, para não gerar expectativa
de repasse de preços, dizem economistas.
Para eles, esse debate não deve
partir do BC, que cumpre as metas estabelecidas. O regime de metas admite folga da inflação até
8%. Mas cautela excessiva pode
causar problemas.
Corte agressivo
"Mantido o atual cenário, se não
cortar os juros agora, o BC terá de
reduzi-los agressivamente no segundo semestre, caso a inflação
vá a zero", diz Paulo Tenani, do
Citigroup Asset Management. Ele
espera queda de 0,5 ponto percentual da Selic.
As prévias da inflação medida
pelo IGP-M e pelo IGP-DI de
março demonstraram arrefecimento do IPA industrial. Além da
queda de preços dos combustíveis, houve recuo em outros produtos do grupo.
Para Tenani, não há motivo para susto com a alta do núcleo do
IPCA de março, que subiu de
0,48% em fevereiro para 0,76% no
mês passado "por razão transitória. A inflação cheia de foi 0,47%,
menor do que o esperado. Anualizada, essa taxa dá 4,5%".
Para Zeina Latif, economista do
HSBC, o núcleo veio decepcionante e o IPCA caiu graças ao recuo dos preços do álcool.
"Sem essa colaboração, que é
pontual, o índice teria vindo bem
mais alto, de 0,65%", diz Latif, que
aposta em redução de 0,25 ponto
percentual na Selic. "É razoável
que o BC seja cauteloso e aguarde
mais informações. A cada mês,
confirma-se que os repasses de
preços não são elevados."
Atividade
Sustentada por bens de capital e
de consumo durável, "a produção
industrial veio pior, embicada para baixo", diz Marcelo Salomon,
economista-chefe do Unibanco.
Ele também espera corte de meio
ponto. "Seria uma importante sinalização para estimular as expectativas positivas", diz.
Analistas assinalam que o cenário externo ainda favorável e o desempenho das contas externas do
país permitem a estabilidade do
câmbio, o que facilita o cumprimento da meta de inflação. O BC
deveria aproveitar o momento
para cortar os juros, afirmam.
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