São Paulo, segunda-feira, 12 de abril de 2004

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MERCADO FINANCEIRO

Motivos para o corte: inflação bem-comportada e necessidade de sinalizar perspectiva de crescimento

Para analistas, Selic cai ao menos para 16%

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Inflação bem-comportada e necessidade de sinalizar perspectiva de crescimento devem levar o Banco Central a reduzir no mínimo em 0,25 ponto percentual (para 16% ao ano) os juros nesta semana, dizem analistas de bancos.
A cada mês fica mais claro que o temor do BC de que houvesse significativo repasse de preços para o varejo não se confirmou.
O Copom (Comitê de Política Monetária) se reúne amanhã e divulga a taxa básica de juros da economia, a Selic, no final da tarde de quarta-feira.
"É preciso consolidar a perspectiva de que haverá crescimento e que 3,5% será o piso, e não o teto", diz Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco.
Barros afirma esperar uma queda de pelo menos 0,25 ponto percentual, mas diz que "se a opção for por meio ponto, a decisão seria bem recebida e não acarretaria risco ao Banco Central".

Receio infundado
O receio do Copom, descrito na ata de janeiro, de repasse de preços para o varejo, não ocorreu, dizem analistas. "Os formadores de preços estão bem-comportados. O BC falou grosso com eles. E precisa falar fino com os investidores [dar perspectiva de crescimento], diz Barros."
Analistas afirmam que o mercado não reagiria mal se a inflação fechasse o ano um pouco acima do centro da meta. "Ninguém se surpreenderá se ficar até um ponto acima de 5,5%", diz Barros.
Isso, porém, não retira do BC o papel de reafirmar seu compromisso com o centro da meta de inflação para este ano, como tem feito, para não gerar expectativa de repasse de preços, dizem economistas.
Para eles, esse debate não deve partir do BC, que cumpre as metas estabelecidas. O regime de metas admite folga da inflação até 8%. Mas cautela excessiva pode causar problemas.

Corte agressivo
"Mantido o atual cenário, se não cortar os juros agora, o BC terá de reduzi-los agressivamente no segundo semestre, caso a inflação vá a zero", diz Paulo Tenani, do Citigroup Asset Management. Ele espera queda de 0,5 ponto percentual da Selic.
As prévias da inflação medida pelo IGP-M e pelo IGP-DI de março demonstraram arrefecimento do IPA industrial. Além da queda de preços dos combustíveis, houve recuo em outros produtos do grupo.
Para Tenani, não há motivo para susto com a alta do núcleo do IPCA de março, que subiu de 0,48% em fevereiro para 0,76% no mês passado "por razão transitória. A inflação cheia de foi 0,47%, menor do que o esperado. Anualizada, essa taxa dá 4,5%".
Para Zeina Latif, economista do HSBC, o núcleo veio decepcionante e o IPCA caiu graças ao recuo dos preços do álcool.
"Sem essa colaboração, que é pontual, o índice teria vindo bem mais alto, de 0,65%", diz Latif, que aposta em redução de 0,25 ponto percentual na Selic. "É razoável que o BC seja cauteloso e aguarde mais informações. A cada mês, confirma-se que os repasses de preços não são elevados."

Atividade
Sustentada por bens de capital e de consumo durável, "a produção industrial veio pior, embicada para baixo", diz Marcelo Salomon, economista-chefe do Unibanco. Ele também espera corte de meio ponto. "Seria uma importante sinalização para estimular as expectativas positivas", diz.
Analistas assinalam que o cenário externo ainda favorável e o desempenho das contas externas do país permitem a estabilidade do câmbio, o que facilita o cumprimento da meta de inflação. O BC deveria aproveitar o momento para cortar os juros, afirmam.


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