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Desigualdade no país pára de cair em 2006
No ano passado, praticamente não houve mudança no grau de concentração de renda do trabalho, afirma estudo
Percentual de trabalhadores abaixo da linha de miséria também parou de cair
em 2006, segundo artigos editados pelo Ipea
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
A redução da desigualdade,
ocorrida principalmente de
2001 a 2005, dá sinais de que
está perdendo o fôlego. No ano
passado, praticamente não
houve mudança no grau de
concentração de renda do trabalho nas seis principais regiões metropolitanas. O mesmo aconteceu com a miséria:
depois de um período de queda
até 2005, o percentual de trabalhadores abaixo da linha de
miséria parou de cair em 2006.
Essas conclusões estão em
artigos editados no livro "Desigualdade de Renda no Brasil:
uma Análise da Queda Recente", que o Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada)
lança amanhã, no Rio.
O artigo que mais analisa o
comportamento da desigualdade em 2006 é do pesquisador
Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da FGV. Além dele, Ricardo Paes de Barros, Mirela de Carvalho, Samuel Franco e Rosane Mendonça -do
Ipea e da UFF- também destacam que a velocidade de queda
da desigualdade deve ter diminuindo substancialmente.
Para captar os movimentos
em 2006, os pesquisadores usaram a PME (Pesquisa Mensal
de Emprego) do IBGE. Ela tem
a vantagem de ser mais atualizada do que a Pnad (pesquisa
anual domiciliar do IBGE cujos
resultados de 2006 só serão conhecidos no segundo semestre), mas a desvantagem de se
referir apenas aos rendimentos
do trabalho em seis regiões metropolitanas.
A Pnad abrange todo Brasil e
todas as formas de renda, inclusive aposentadoria e Bolsa Família, entre outras.
O estudo de Neri mostra que
a desigualdade de renda do trabalho medida pelo índice de Gini vinha caindo nas seis principais regiões metropolitanas
(Rio, São Paulo, Porto Alegre,
Belo Horizonte, Recife e São
Paulo) desde 2002 até 2005,
num movimento similar ao detectado pela Pnad para todo o
Brasil. De 2005 para 2006, no
entanto, praticamente não
houve avanço na desconcentração da renda do trabalho nas
regiões metropolitanas.
Em março de 2002, o índice
de Gini medido pela PME estava em 0,633 (quanto mais próximo de 1, maior é a desigualdade). Em julho de 2005, chegou a
0,601. A partir daí, no entanto,
praticamente não houve mais
redução e, em junho de 2006, o
Gini era de 0,600.
A mesma tendência foi verificada quando Neri calculou pela
PME o índice de miséria entre
os trabalhadores de regiões
metropolitanas. Em junho de
2002, esse percentual era de
23,16%. Ele caiu anualmente
até chegar a 18,52% em 2005,
mas em junho de 2006 ficou estagnou em 18,57%.
Limite
Para Neri, a redução do ritmo
de queda da desigualdade sugere que as políticas públicas que
o Brasil usou para diminuir a
concentração de renda até
2005 chegaram a um limite. Ele
cita a alta do salário mínimo, a
ampliação do Bolsa Família e
os retornos da educação.
No caso do mínimo, como o
valor em 2006 já havia chegado
a R$ 350 (R$ 380 hoje), qualquer aumento terá pouco impacto na extrema pobreza, já
que essa população ganha menos do que isso e trabalha no
setor informal.
Em relação à educação, o
pesquisador afirma que boa
parte da redução da desigualdade até 2005 foi fruto "dos bons
investimentos feitos" durante
o governo Fernando Henrique
Cardoso. "As semeaduras dos
últimos anos, no entanto, não
foram muito boas. Tomara que
o "PAC da educação" reverta isso", afirma.
Quanto ao Bolsa Família
-cujo efeito ou não na redução
da desigualdade em 2006 só
poderá ser captado com precisão com a divulgação da nova
Pnad-, Neri defende que a ampliação foi um mérito de Lula,
mas que ele chegou a um limite
quando atingiu a meta de 11 milhões de famílias.
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