São Paulo, domingo, 12 de abril de 2009

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Mercado Aberto

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@grupofolha.com.br

Especulação engole lucro do setor produtivo em 2008, diz estudo

A análise do desempenho das empresas brasileiras não financeiras no ano passado revela uma grave distorção: os seus resultados se explicam mais por razões financeiras do que operacionais.
Segundo estudo realizado pelo grupo de conjuntura da Fundap (Fundação do Desenvolvimento Administrativo) com 239 empresas de grande porte, as despesas financeiras das indústrias (excluindo a Petrobras) saíram de um ganho de R$ 386 milhões em 2007 para perdas de R$ 38,2 bilhões no ano passado. Mesmo tendo registrado uma elevação de 25,5% no lucro da atividade nesse período (de R$ 60,8 bilhões para R$ 76,4 bilhões), o lucro líquido do setor recuou de R$ 43,6 bilhões para R$ 30,6 bilhões no mesmo período.
No segmento de serviços, as despesas financeiras saltaram 72,7%, de R$ 7,15 bilhões para R$ 12,35 bilhões, fazendo o lucro líquido recuar cerca de 5%, para R$ 22,7 bilhões. O lucro da atividade avançou 16,2%, alcançando R$ 46,7 bilhões.
"O expressivo resultado operacional foi dizimado pela especulação financeira", resume Geraldo Biasoto Junior, diretor-executivo da fundação. "Essas companhias apresentaram comportamento idêntico ao de corretoras e bancos."
Tal ousadia foi incentivada pela própria política econômica do país, explica Biasoto. "Por exemplo, há muito tempo, devido ao dólar baixo, os exportadores pegavam ACCs [Adiantamentos sobre Contratos de Câmbio] e colocavam em títulos para garantir a sua rentabilidade", diz. Além disso, a elevada taxa de juros paga por papéis públicos e outras aplicações atraía as empresas que não são do ramo financeiro.
"O ambiente se encontrava extremamente favorável, então elas se sentiram seguras para executar determinadas transações. Nem imaginavam que o cenário poderia mudar tão rapidamente", destaca Biasoto.
Embora muitas companhias estejam colocando a culpa dos problemas sofridos nos seus executivos da área financeira, daqui para a frente elas terão que assumir a responsabilidade pelo que acontece na sua tesouraria e redobrar a vigilância. "Certamente os conselhos de administração e as auditorias tomarão mais cuidado", prevê o diretor da Fundap.

"MADE IN BRAZIL"
Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedo), vai anunciar nesta semana um investimento de R$ 100 milhões da indústria de brinquedos no país para os próximos cinco anos. Ele diz que está disposto a reduzir em 5% o preço real dos produtos para ganhar competitividade ante a indústria chinesa, que hoje tem 45% de participação de mercado, contra 55% da brasileira. "A meta é que a indústria nacional fique com 75% de participação, tirando 20% da China. Vai ser uma mudança completa no negócio de brinquedos no Brasil", afirma. Costa também diz que vai assinar um documento com o governo, em que se compromete a criar 20 mil empregos. O plano tem a pretensão de permitir o acesso de 20 milhões de crianças brasileiras aos produtos.

PRIMEIRA CLASSE
A Agaxtur decidiu concorrer no mercado de turismo de alto luxo. A empresa, que abriu no final do ano passado uma loja no shopping Cidade Jardim, endereço sofisticado de São Paulo, agora lança um catálogo de roteiros sob uma marca para padrão elevado. "Com isso, a Agaxtur entra definitivamente nesse mercado", diz Aldo Leone Filho, presidente da empresa.

SEM DÓLAR
Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, é favorável à substituição do dólar no comércio entre Brasil e China por real e yuan. Segundo ele, o uso de moedas locais vai intensificar o comércio entre os dois países. A ideia de substituição do dólar por outras moedas no comércio internacional partiu inicialmente da China. No começo do mês, o presidente Lula propôs ao país o uso de real e yuan nas transações Brasil-China.

SEM CREDIBILIDADE
Para Tang, a substituição do dólar no comércio internacional é um processo que já começou e é irreversível. Segundo ele, os governos de muitos países não confiam mais no dólar por conta da crise mundial, que começou nos Estados Unidos.

RUSSO
Welber Barral, secretário de Comércio Exterior, comandará a delegação brasileira nas reuniões bilaterais com a Rússia entre os próximos dias 20 e 23. Na pauta, discussões sobre barreiras às exportações brasileiras de carne, cooperação econômica, defesa comercial e mecanismos financeiros.

LIDERANÇA
A Bookman Editora e a Insead acabam de lançar o livro "Experiências e Técnicas de Coaching" (416 pág e R$ 54), dos especialistas em liderança Manfred Kets de Vries, Konstantin Korotov e Elizabeth Florent-Treacy. Na obra, os autores discutem o papel do "coach" executivo e como a presença do profissional é cada vez mais requisitada nas empresas. Entre os temas abordados, está o desafio no desenvolvimento de lideranças.

SANDUÍCHE
A MegaMatte, rede de lanches saudáveis, inaugura neste mês sua primeira franquia em São Paulo. A meta da rede é abrir mais nove unidades até o final do ano.

VÔLEI
A Companhia de Seguros Aliança do Brasil, empresa do Banco do Brasil, vai neutralizar as emissões de carbono feitas durante o Circuito BB de Vôlei de Praia 2009. Em 2008, a empresa investiu R$ 5,4 milhões em responsabilidade socioambiental.

NO BAIRRO
Uma pesquisa com o perfil dos moradores do bairro do Tatuapé, em São Paulo, motivou o Santander a abrir sua quinta agência na região, com capacidade para atender 5.000 clientes. Segundo o estudo, a renda de 45% das famílias residentes no bairro supera 15 salários mínimos. Mesmo com a renda elevada, o perfil do morador do bairro é de um investidor conservador, que concentra metade de seus investimentos na caderneta de poupança. Para o Santander, há oportunidades na região.

com JOANA CUNHA, MARINA GAZZONI e DENYSE GODOY


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