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São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2003

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FOLHAINVEST


Inflação, IR e taxas comem rendimentos; cenário deve mudar

Fundos dão ganho real de apenas 0,38% em 2003

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O investidor que aplicou seu dinheiro nos fundos de investimento em 2003 teve que se contentar até agora com um lucro modesto. Segundo dados do site Fortuna, os fundos mais conservadores, os DI, deram um ganho médio de 8,23% no ano. Mas o rendimento líquido foi de apenas 0,38%, até o último dia 6. Isso porque é necessário descontar a taxa de administração dos fundos, o Imposto de Renda e a inflação (IPCA até março, mais a projeção de abril).
Mas esse cenário tende a mudar. O recuo do dólar, os magros ganhos da caderneta de poupança, a valorização dos títulos do governo, a manutenção da taxa Selic em 26,5% ao ano e a queda da inflação elevam o ganho real dos fundos, que já começam a atrair mais dinheiro. A captação líquida (diferença entre aplicações e resgates) já chega a R$ 21,4 bilhões neste ano, segundo dados da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento).
O caminhão de dinheiro que entrou nos fundos, entretanto, não é novo. Ou seja, não vem das sobras do salário. "Os orçamentos familiares estão apertados, o desemprego é alto. O que está acontecendo é remanejamento de poupança; esse é dinheiro de migração, de quem havia fugido para o dólar, a caderneta de poupança e os CDBs [Certificados de Depósitos Bancários] em 2002 e está retornando", afirma o consultor Fábio Colombo.
"A rentabilidade dos fundos ficou mais atrativa, pois, além da Selic alta, eles ganharam com a valorização das LFTs [Letras Financeiras do Tesouro Nacional], principal papel das carteiras de renda fixa", diz Marcelo D'Agosto, diretor do site Fortuna.
Desde o final de 2002, o Banco Central vem recomprando LFTs e alongando seus prazos, oferecendo para isso uma taxa de juros um ponto percentual acima da Selic.
"Os ganhos dos fundos DI (8,23%) superaram a taxa do CDI [Certificado de Depósito Interbancário", que ficou em 7,94%", diz D'Agosto. A taxa do CDI é o juro praticado nas operações entre bancos.

Mais que a inflação
Essa política -Selic alta e recuperação das LFTs-, aliada à curva descendente que a inflação começa a traçar, permitiu que o rendimento bruto dos fundos DI e de renda fixa superasse a inflação acumulada neste ano. A taxa de inflação acumulada do IPCA do IBGE neste ano, até abril, está projetada em 6%. Os fundos DI e os de renda fixa representam mais de 60% das aplicações em fundos e chegaram a amargar rentabilidade negativa no início do ano.
Quem ficou na poupança está com rendimento real negativo de 1,37% no ano -o rendimento bruto está positivo em 4,76%-, e quem correu para o dólar viu a moeda se desvalorizar em 18,26% (pela cotação do paralelo).
Os CDBs, com um rendimento médio de 9,32% (sem descontar IR e IOF), estão muito próximos dos ganhos dos fundos DI e de renda fixa. O que não estimula o pequeno investidor.
O ganho real dos investidores de fundos, no entanto, ainda é pequeno. "Por isso o governo deve ter cuidado se reduzir a taxa básica de juros", diz D'Agosto. "Se ela for feita de forma atabalhoada, pode pôr a perder a recuperação dessas aplicações."
De acordo com ele, se a taxa básica de juros cair, os investidores terão a percepção de uma queda nos rendimentos dos fundos indexados à Selic. Isso afetaria principalmente os fundos DI e os de renda fixa.
Esses fundos estão com suas carteiras muito concentradas em títulos prefixados. Até março, 77% do total de títulos em poder dos fundos de investimento eram pós-fixados, rendendo a taxa Selic; 10% eram indexados ao câmbio; 10% ao IGP-M; e só 3% eram prefixados. "Em abril, aumentou 54% o total de títulos prefixados nos fundos, mas ainda é muito pouco", diz D'Agosto.

Aumentar prefixados
Na sua opinião, o Banco Central deveria aumentar o estoque de papéis prefixados no mercado para manter a confiança do investidor nessas aplicações quando as taxas de juros começarem a cair. Dessa forma, evitaria nova onda de volatilidade (oscilação) nos fundos.
Quando cai a taxa Selic, os fundos que têm papéis pós-fixados passam a render menos, acompanhando o novo patamar dos juros. Já os que carregam papéis prefixados levam vantagem porque a rentabilidade do fundo fica travada num patamar mais alto.
Se cair a Selic, os títulos prefixados se valorizam, pois pagam uma taxa maior do que a em vigor no mercado.


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