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FOLHAINVEST
Inflação, IR e taxas comem rendimentos; cenário deve mudar
Fundos dão ganho real de apenas 0,38% em 2003
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O investidor que aplicou seu dinheiro nos fundos de investimento em 2003 teve que se contentar
até agora com um lucro modesto.
Segundo dados do site Fortuna,
os fundos mais conservadores, os
DI, deram um ganho médio de
8,23% no ano. Mas o rendimento
líquido foi de apenas 0,38%, até o
último dia 6. Isso porque é necessário descontar a taxa de administração dos fundos, o Imposto de
Renda e a inflação (IPCA até março, mais a projeção de abril).
Mas esse cenário tende a mudar.
O recuo do dólar, os magros ganhos da caderneta de poupança, a
valorização dos títulos do governo, a manutenção da taxa Selic
em 26,5% ao ano e a queda da inflação elevam o ganho real dos
fundos, que já começam a atrair
mais dinheiro. A captação líquida
(diferença entre aplicações e resgates) já chega a R$ 21,4 bilhões
neste ano, segundo dados da Anbid (Associação Nacional dos
Bancos de Investimento).
O caminhão de dinheiro que entrou nos fundos, entretanto, não é
novo. Ou seja, não vem das sobras
do salário. "Os orçamentos familiares estão apertados, o desemprego é alto. O que está acontecendo é remanejamento de poupança; esse é dinheiro de migração, de quem havia fugido para o
dólar, a caderneta de poupança e
os CDBs [Certificados de Depósitos Bancários] em 2002 e está retornando", afirma o consultor Fábio Colombo.
"A rentabilidade dos fundos ficou mais atrativa, pois, além da
Selic alta, eles ganharam com a
valorização das LFTs [Letras Financeiras do Tesouro Nacional],
principal papel das carteiras de
renda fixa", diz Marcelo D'Agosto, diretor do site Fortuna.
Desde o final de 2002, o Banco
Central vem recomprando LFTs e
alongando seus prazos, oferecendo para isso uma taxa de juros um
ponto percentual acima da Selic.
"Os ganhos dos fundos DI
(8,23%) superaram a taxa do CDI
[Certificado de Depósito Interbancário", que ficou em 7,94%",
diz D'Agosto. A taxa do CDI é o
juro praticado nas operações entre bancos.
Mais que a inflação
Essa política -Selic alta e recuperação das LFTs-, aliada à curva descendente que a inflação começa a traçar, permitiu que o rendimento bruto dos fundos DI e de
renda fixa superasse a inflação
acumulada neste ano. A taxa de
inflação acumulada do IPCA do
IBGE neste ano, até abril, está projetada em 6%. Os fundos DI e os
de renda fixa representam mais
de 60% das aplicações em fundos
e chegaram a amargar rentabilidade negativa no início do ano.
Quem ficou na poupança está
com rendimento real negativo de
1,37% no ano -o rendimento
bruto está positivo em 4,76%-, e
quem correu para o dólar viu a
moeda se desvalorizar em 18,26%
(pela cotação do paralelo).
Os CDBs, com um rendimento
médio de 9,32% (sem descontar
IR e IOF), estão muito próximos
dos ganhos dos fundos DI e de
renda fixa. O que não estimula o
pequeno investidor.
O ganho real dos investidores
de fundos, no entanto, ainda é pequeno. "Por isso o governo deve
ter cuidado se reduzir a taxa básica de juros", diz D'Agosto. "Se ela
for feita de forma atabalhoada,
pode pôr a perder a recuperação
dessas aplicações."
De acordo com ele, se a taxa básica de juros cair, os investidores
terão a percepção de uma queda
nos rendimentos dos fundos indexados à Selic. Isso afetaria principalmente os fundos DI e os de
renda fixa.
Esses fundos estão com suas
carteiras muito concentradas em
títulos prefixados. Até março,
77% do total de títulos em poder
dos fundos de investimento eram
pós-fixados, rendendo a taxa Selic; 10% eram indexados ao câmbio; 10% ao IGP-M; e só 3% eram
prefixados. "Em abril, aumentou
54% o total de títulos prefixados
nos fundos, mas ainda é muito
pouco", diz D'Agosto.
Aumentar prefixados
Na sua opinião, o Banco Central
deveria aumentar o estoque de
papéis prefixados no mercado para manter a confiança do investidor nessas aplicações quando as
taxas de juros começarem a cair.
Dessa forma, evitaria nova onda
de volatilidade (oscilação) nos
fundos.
Quando cai a taxa Selic, os fundos que têm papéis pós-fixados
passam a render menos, acompanhando o novo patamar dos juros. Já os que carregam papéis
prefixados levam vantagem porque a rentabilidade do fundo fica
travada num patamar mais alto.
Se cair a Selic, os títulos prefixados se valorizam, pois pagam
uma taxa maior do que a em vigor
no mercado.
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