São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2008

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Importado já é 20% do consumo industrial

Setores que puxaram aumento das importações no consumo foram os intensivos em tecnologia, diz estudo do BNDES

Segundo avaliação do banco, importações foram favoráveis de 2004 a 2007, contendo descompasso entre oferta e demanda

JANAINA LAGE
ROBERTO MACHADO

DA SUCURSAL DO RIO

As importações da indústria brasileira bateram recorde em 2007 e atingiram 20,3% do consumo no país de bens industrializados. Essa é a principal conclusão de um estudo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) que será divulgado nos próximos dias.
Os resultados da pesquisa realimentam a discussão sobre os efeitos do real forte para a produção da indústria nacional, que hoje conhecerá nova política para o setor, a ser apresentada com pompa pelo governo no Rio.
O estudo mede a participação dos bens importados no consumo total, uma análise que leva em conta a produção doméstica de bens industriais destinados ao mercado interno e as importações de produtos acabados e de insumos industriais.
Na avaliação do BNDES, a maior presença de produtos importados teve efeitos favoráveis para a economia no período de 2004 a 2007 e foi fundamental para evitar o descompasso entre oferta e demanda, o que poderia gerar pressões inflacionárias. Neste período, o PIB cresceu a um ritmo de 4,5% ao ano e o consumo das famílias, de 4,9% ao ano.
"Na ausência dessas importações, a produção doméstica não conseguiria atender a demanda e os preços seriam reajustados. O Brasil tem hoje um patamar de inflação dentro da meta do Banco Central. Sem as importações, teria mais dificuldade de cumprir a meta", disse Fernando Puga, do BNDES.
Na história econômica recente, nem sempre o aumento das importações teve efeitos benéficos. E mesmo hoje há quem afirme que existe uma desindustrialização em curso.
Durante a abertura comercial, no início da década de 1990, o BNDES avalia que a enxurrada de importados, acompanhada de uma queda na produção doméstica, resultou num processo de desindustrialização. Em 1998, ainda no câmbio fixo, a participação das importações atingiu 16,4%, mas despencou no ano seguinte por conta da desvalorização do real.
Desta vez, o banco afirma que não há sinais de desindustrialização porque a produção doméstica está crescendo impulsionada pelo mercado interno. A receita de crescimento das importações desde 2004 é composta de real valorizado, demanda aquecida e aumento da produção doméstica. Nos cálculos do BNDES, a taxa real de câmbio chegou a um nível, em 2007, 21% maior do que o de 1997, o auge do período anterior de valorização do real.
As conclusões do estudo dividiram especialistas ouvidos pela Folha. O economista Francisco Pessoa, da LCA Consultores, diz que os números do BNDES não sugerem que os setores que importaram mais tiveram produção menor-o que seria um indicador de desindustrialização. Mas Pessoa diz que o número pode ser encarado como um "sinal amarelo".
"Fico preocupado. Esse é um processo que ainda não acabou. É preciso analisar os setores e as etapas da produção. Além disso, a médio e longo prazo, há o desequilíbrio da balança comercial provocado pelo crescimento das importações."
Segundo o BNDES, os setores que puxaram o aumento das importações no consumo foram os intensivos em tecnologia (materiais elétricos, equipamentos eletrônicos, instrumentos médicos e de automação industrial) e os que são intensivos em escala, como veículos, metalurgia e química.
De 2004 a 2007, a participação das importações no consumo cresceu 6,5%. O complexo eletrônico, por exemplo, registrou alta de 11,7% na participação das importações e os instrumentos médicos, de controle e automação, de 24,8%.
Setores intensivos em tecnologia estão no foco da nova política industrial. Para Puga, o país não pode abrir mão de fomentar setores estratégicos. "No momento em que o país aumenta sua internacionalização e se engaja nos mercados mundiais, é preciso melhorar sua competitividade", disse.


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