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Importado já é 20% do consumo industrial
Setores que puxaram aumento das importações no consumo foram os intensivos em tecnologia, diz estudo do BNDES
Segundo avaliação do banco, importações foram favoráveis de 2004 a 2007, contendo descompasso entre oferta e demanda
JANAINA LAGE
ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO
As importações da indústria
brasileira bateram recorde em
2007 e atingiram 20,3% do
consumo no país de bens industrializados. Essa é a principal conclusão de um estudo do
BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) que será divulgado nos
próximos dias.
Os resultados da pesquisa
realimentam a discussão sobre
os efeitos do real forte para a
produção da indústria nacional, que hoje conhecerá nova
política para o setor, a ser apresentada com pompa pelo governo no Rio.
O estudo mede a participação
dos bens importados no consumo total, uma análise que leva
em conta a produção doméstica de bens industriais destinados ao mercado interno e as importações de produtos acabados e de insumos industriais.
Na avaliação do BNDES, a
maior presença de produtos
importados teve efeitos favoráveis para a economia no período de 2004 a 2007 e foi fundamental para evitar o descompasso entre oferta e demanda, o
que poderia gerar pressões inflacionárias. Neste período, o
PIB cresceu a um ritmo de 4,5%
ao ano e o consumo das famílias, de 4,9% ao ano.
"Na ausência dessas importações, a produção doméstica
não conseguiria atender a demanda e os preços seriam reajustados. O Brasil tem hoje um
patamar de inflação dentro da
meta do Banco Central. Sem as
importações, teria mais dificuldade de cumprir a meta", disse
Fernando Puga, do BNDES.
Na história econômica recente, nem sempre o aumento
das importações teve efeitos
benéficos. E mesmo hoje há
quem afirme que existe uma
desindustrialização em curso.
Durante a abertura comercial, no início da década de
1990, o BNDES avalia que a enxurrada de importados, acompanhada de uma queda na produção doméstica, resultou num
processo de desindustrialização. Em 1998, ainda no câmbio
fixo, a participação das importações atingiu 16,4%, mas despencou no ano seguinte por
conta da desvalorização do real.
Desta vez, o banco afirma que
não há sinais de desindustrialização porque a produção doméstica está crescendo impulsionada pelo mercado interno.
A receita de crescimento das
importações desde 2004 é
composta de real valorizado,
demanda aquecida e aumento
da produção doméstica. Nos
cálculos do BNDES, a taxa real
de câmbio chegou a um nível,
em 2007, 21% maior do que o
de 1997, o auge do período anterior de valorização do real.
As conclusões do estudo dividiram especialistas ouvidos pela Folha. O economista Francisco Pessoa, da LCA Consultores, diz que os números do
BNDES não sugerem que os setores que importaram mais tiveram produção menor-o que
seria um indicador de desindustrialização. Mas Pessoa diz
que o número pode ser encarado como um "sinal amarelo".
"Fico preocupado. Esse é um
processo que ainda não acabou.
É preciso analisar os setores e
as etapas da produção. Além
disso, a médio e longo prazo, há
o desequilíbrio da balança comercial provocado pelo crescimento das importações."
Segundo o BNDES, os setores que puxaram o aumento
das importações no consumo
foram os intensivos em tecnologia (materiais elétricos, equipamentos eletrônicos, instrumentos médicos e de automação industrial) e os que são intensivos em escala, como veículos, metalurgia e química.
De 2004 a 2007, a participação das importações no consumo cresceu 6,5%. O complexo
eletrônico, por exemplo, registrou alta de 11,7% na participação das importações e os instrumentos médicos, de controle e automação, de 24,8%.
Setores intensivos em tecnologia estão no foco da nova política industrial. Para Puga, o
país não pode abrir mão de fomentar setores estratégicos.
"No momento em que o país
aumenta sua internacionalização e se engaja nos mercados
mundiais, é preciso melhorar
sua competitividade", disse.
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