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Câmbio reduz competitividade da indústria
Analistas se dividem sobre visão do BNDES de que o recorde nas importações não causou desindustrialização no país
Carga tributária e custos de logísticas elevados são outras dificuldades que enfraquecem indústria do país diante de estrangeiras
DA SUCURSAL DO RIO
O impacto do recorde de importações pela indústria divide
especialistas ouvidos pela Folha. Se, de um lado, a maior
presença de importados ajudou
a controlar a alta de preços, o
dólar barato reduziu a competitividade da indústria nacional
ao encarecer os produtos brasileiros no exterior, segundo José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Exportadores do Brasil).
Para ele, o estudo não leva
em conta o "lado B" do dólar
barato. "Algumas indústrias,
como a de eletrodomésticos, já
estão transferindo sua linha de
produção para o exterior. O
Brasil se tornou um país caro
para produzir. É como se o
câmbio tivesse eliminado as
barreiras tarifárias", disse.
Nos cálculos da AEB, uma taxa de câmbio compatível com a
importação de máquinas e
equipamentos e com a retomada do crescimento das exportações seria de R$ 2,20 a R$ 2,40.
"As exportações só crescem
em preço, mas não em quantidade. Isso significa que uma
parte desses produtos está sendo destinada ao mercado interno ou simplesmente está deixando de ser produzida", disse
Castro.
Para Julio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto
de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), o país não
pode depender apenas do bom
desempenho do mercado interno.
"Praticamente nenhum país
levou adiante sua industrialização com foco somente no mercado interno. Nada garante que
ele manterá o mesmo ritmo
nos próximos anos, e é preciso
olhar para o horizonte nos próximos dez anos. Temos problemas na nossa estrutura industrial terrivelmente fortes apesar do mercado interno estar
minimizando esse processo",
disse.
O diretor do departamento
de Comércio Exterior da Fiesp
(Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo), Roberto
Giannetti da Fonseca, diz que a
pesquisa do BNDES precisa ser
desmembrada em análises setoriais e que alguns setores da
indústria já vivem uma "desindustrialização" por causa da valorização do real. Neste ano, o
dólar já recuou 5,12% diante do
real. Em 2007, perdeu 16,85%
"A estatística, vista de forma
isolada, não revela o impacto
do câmbio sobre os diversos setores. É preciso ver o nível de
ocupação, o uso da capacidade
instalada. Alguns segmentos
estão, sim, vivendo uma desindustrialização, mas isso não
ocorre de forma homogênea",
afirma Fonseca.
O diretor da Fiesp cita setores que vivem realidades distintas: "A produção de aço chegou ao limite, a indústria está
no teto da capacidade instalada
e começou a importar, para evitar desabastecimento do mercado interno. Já nas indústrias
de móveis e calçados há fechamento de fábricas e demissões".
Carga tributária
Segundo Fonseca, muitos setores da indústria têm sido prejudicados não apenas pelo câmbio sobrevalorizado: "É preciso
lembrar que temos uma carga
tributária muito pesada, custos
de logística elevados, outras dificuldades".
Na avaliação de Sergio Vale,
da MB Associados, o risco de
desindustrialização não existe
mais.
"Desindustrialização significa, no limite, falar em desaparecimento de alguns setores, e isso não está acontecendo", disse. Para o economista, o país
não tem condições de manter o
mesmo ritmo de crescimento
do ano passado, mas ainda tem
fôlego para crescer com base no
mercado interno.
"Ainda não estamos com o
ritmo de crescimento adequado, mas dá para crescer 4,7%
este ano", disse.
(JANAINA LAGE e ROBERTO MACHADO)
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