São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2008

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Câmbio reduz competitividade da indústria

Analistas se dividem sobre visão do BNDES de que o recorde nas importações não causou desindustrialização no país

Carga tributária e custos de logísticas elevados são outras dificuldades que enfraquecem indústria do país diante de estrangeiras

DA SUCURSAL DO RIO

O impacto do recorde de importações pela indústria divide especialistas ouvidos pela Folha. Se, de um lado, a maior presença de importados ajudou a controlar a alta de preços, o dólar barato reduziu a competitividade da indústria nacional ao encarecer os produtos brasileiros no exterior, segundo José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Exportadores do Brasil).
Para ele, o estudo não leva em conta o "lado B" do dólar barato. "Algumas indústrias, como a de eletrodomésticos, já estão transferindo sua linha de produção para o exterior. O Brasil se tornou um país caro para produzir. É como se o câmbio tivesse eliminado as barreiras tarifárias", disse.
Nos cálculos da AEB, uma taxa de câmbio compatível com a importação de máquinas e equipamentos e com a retomada do crescimento das exportações seria de R$ 2,20 a R$ 2,40.
"As exportações só crescem em preço, mas não em quantidade. Isso significa que uma parte desses produtos está sendo destinada ao mercado interno ou simplesmente está deixando de ser produzida", disse Castro.
Para Julio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), o país não pode depender apenas do bom desempenho do mercado interno.
"Praticamente nenhum país levou adiante sua industrialização com foco somente no mercado interno. Nada garante que ele manterá o mesmo ritmo nos próximos anos, e é preciso olhar para o horizonte nos próximos dez anos. Temos problemas na nossa estrutura industrial terrivelmente fortes apesar do mercado interno estar minimizando esse processo", disse.
O diretor do departamento de Comércio Exterior da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Roberto Giannetti da Fonseca, diz que a pesquisa do BNDES precisa ser desmembrada em análises setoriais e que alguns setores da indústria já vivem uma "desindustrialização" por causa da valorização do real. Neste ano, o dólar já recuou 5,12% diante do real. Em 2007, perdeu 16,85%
"A estatística, vista de forma isolada, não revela o impacto do câmbio sobre os diversos setores. É preciso ver o nível de ocupação, o uso da capacidade instalada. Alguns segmentos estão, sim, vivendo uma desindustrialização, mas isso não ocorre de forma homogênea", afirma Fonseca.
O diretor da Fiesp cita setores que vivem realidades distintas: "A produção de aço chegou ao limite, a indústria está no teto da capacidade instalada e começou a importar, para evitar desabastecimento do mercado interno. Já nas indústrias de móveis e calçados há fechamento de fábricas e demissões".

Carga tributária
Segundo Fonseca, muitos setores da indústria têm sido prejudicados não apenas pelo câmbio sobrevalorizado: "É preciso lembrar que temos uma carga tributária muito pesada, custos de logística elevados, outras dificuldades".
Na avaliação de Sergio Vale, da MB Associados, o risco de desindustrialização não existe mais.
"Desindustrialização significa, no limite, falar em desaparecimento de alguns setores, e isso não está acontecendo", disse. Para o economista, o país não tem condições de manter o mesmo ritmo de crescimento do ano passado, mas ainda tem fôlego para crescer com base no mercado interno.
"Ainda não estamos com o ritmo de crescimento adequado, mas dá para crescer 4,7% este ano", disse.
(JANAINA LAGE e ROBERTO MACHADO)


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