São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2008

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Lula tende a elevar superávit primário para conter inflação

Presidente estuda cenários para subir meta de 3,8% do PIB para 4,5% ou 5%

Petista passou a analisar aperto fiscal maior devido a risco de aumento da inflação e temor de efeito da alta dos juros na economia

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A tendência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é elevar a meta de superávit primário, segundo apurou a Folha. A meta atual é de 3,8% do PIB (Produto Interno Bruto). Lula analisa dois cenários: aumentá-la a 4,5% ou 5% do PIB.
Uma elevação para 4,5% seria mais suave, avalia Lula, porque exigiria menor esforço fiscal. A área econômica trabalha com o cenário de que, no atual ritmo de gastos, o superávit de 2008 tende a ser de 4,1% -0,3 ponto percentual acima da meta de 3,8%. Um esforço adicional de 0,4 ponto percentual equivaleria a mais R$ 11 bilhões. Já um esforço de 0,9 ponto percentual para atingir 5% do PIB demandaria mais R$ 25,5 bilhões.
Lula fez reunião na quarta-feira passada no Palácio do Planalto para analisar a elevação do superávit, como revelou a Folha no sábado. Na sexta-feira, o presidente discutiu a proposta com seu autor, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, que prefere a meta de 5%.
Segundo a Folha apurou, Lula disse que não entregaria um país "destroçado" ao sucessor e que estava preocupado com a alta da inflação. Em comício no interior da Bahia, chegou a falar que o Brasil não cresceria a taxas chinesas. Ou seja, sinalizou disposição de frear um pouco o aquecimento da economia.
O presidente, porém, resiste a cortar investimentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) para elevar o superávit. Belluzzo disse que não seria necessário atingir o PAC, porque poderia haver uma combinação de recursos que virão de aumento da arrecadação de impostos com um corte de gastos em áreas extra-PAC. O economista também argumentou que um enxugamento de gastos públicos seria compensado com aumento dos investimentos do setor privado.
Belluzzo também conversou na sexta-feira com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que fazia parte da comitiva de Lula na Bahia. Antiga opositora de tentativas anteriores de elevar o superávit, Dilma demonstrou simpatia pela idéia, mas não discutiu em detalhes o grau de elevação da meta. Ela teria maior inclinação por uma elevação de 3,8% para 4,5%.
A proposta de uma meta de 5% defendida por Belluzzo é apoiada pelos ministros Guido Mantega (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento), pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, pelo presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, e pelo economista Delfim Netto.
Todos eles, porém, consideram que já seria uma vitória uma elevação para 4,5% do PIB. Na opinião dos ministros e dos conselheiros econômicos de Lula, essa decisão deveria ser anunciada rapidamente.
Lula passou a discutir a elevação do superávit primário porque está assustado com o risco de aumento da inflação, sobretudo com a alta do preço dos alimentos de consumo popular. Ele teme também o efeito negativo da dosagem do remédio tradicional que o BC (Banco Central) aplica para combater a inflação: elevar os juros.
Por isso, o presidente quer bater o martelo antes da próxima reunião do Banco Central sobre juros, que acontecerá na primeira semana de junho. A taxa básica, a Selic, está hoje em 11,75%. A intenção de Lula é elevar o aperto fiscal para combater o risco de inflação, tentar amenizar a alta dos juros e financiar investimentos brasileiros no exterior.
Os recursos que excederem os 3,8% do PIB seriam usados para financiar o chamado fundo soberano (instrumento sob controle da Fazenda para comprar dólares e financiar projetos de investimento privado e público do Brasil no exterior). Esse formato pode ser bem visto pelo mercado, pois não aqueceria ainda mais a economia interna.


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