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Lula tende a elevar superávit primário para conter inflação
Presidente estuda cenários para subir meta de 3,8% do PIB para 4,5% ou 5%
Petista passou a analisar aperto fiscal maior devido a risco de aumento da inflação e temor de efeito da alta dos juros na economia
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A tendência do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva é elevar a meta de superávit primário, segundo apurou a Folha. A
meta atual é de 3,8% do PIB
(Produto Interno Bruto). Lula
analisa dois cenários: aumentá-la a 4,5% ou 5% do PIB.
Uma elevação para 4,5% seria mais suave, avalia Lula, porque exigiria menor esforço fiscal. A área econômica trabalha
com o cenário de que, no atual
ritmo de gastos, o superávit de
2008 tende a ser de 4,1% -0,3
ponto percentual acima da meta de 3,8%. Um esforço adicional de 0,4 ponto percentual
equivaleria a mais R$ 11 bilhões. Já um esforço de 0,9
ponto percentual para atingir
5% do PIB demandaria mais
R$ 25,5 bilhões.
Lula fez reunião na quarta-feira passada no Palácio do Planalto para analisar a elevação
do superávit, como revelou a
Folha no sábado. Na sexta-feira, o presidente discutiu a proposta com seu autor, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo,
que prefere a meta de 5%.
Segundo a Folha apurou,
Lula disse que não entregaria
um país "destroçado" ao sucessor e que estava preocupado
com a alta da inflação. Em comício no interior da Bahia, chegou a falar que o Brasil não
cresceria a taxas chinesas. Ou
seja, sinalizou disposição de
frear um pouco o aquecimento
da economia.
O presidente, porém, resiste
a cortar investimentos do PAC
(Programa de Aceleração do
Crescimento) para elevar o superávit. Belluzzo disse que não
seria necessário atingir o PAC,
porque poderia haver uma
combinação de recursos que virão de aumento da arrecadação
de impostos com um corte de
gastos em áreas extra-PAC. O
economista também argumentou que um enxugamento de
gastos públicos seria compensado com aumento dos investimentos do setor privado.
Belluzzo também conversou
na sexta-feira com a ministra
da Casa Civil, Dilma Rousseff,
que fazia parte da comitiva de
Lula na Bahia. Antiga opositora
de tentativas anteriores de elevar o superávit, Dilma demonstrou simpatia pela idéia, mas
não discutiu em detalhes o
grau de elevação da meta. Ela
teria maior inclinação por uma
elevação de 3,8% para 4,5%.
A proposta de uma meta de
5% defendida por Belluzzo é
apoiada pelos ministros Guido
Mantega (Fazenda) e Paulo
Bernardo (Planejamento), pelo
presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, pelo presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), Luciano
Coutinho, e pelo economista
Delfim Netto.
Todos eles, porém, consideram que já seria uma vitória
uma elevação para 4,5% do
PIB. Na opinião dos ministros
e dos conselheiros econômicos
de Lula, essa decisão deveria
ser anunciada rapidamente.
Lula passou a discutir a elevação do superávit primário
porque está assustado com o
risco de aumento da inflação,
sobretudo com a alta do preço
dos alimentos de consumo popular. Ele teme também o efeito negativo da dosagem do remédio tradicional que o BC
(Banco Central) aplica para
combater a inflação: elevar os
juros.
Por isso, o presidente quer
bater o martelo antes da próxima reunião do Banco Central
sobre juros, que acontecerá na
primeira semana de junho. A
taxa básica, a Selic, está hoje
em 11,75%. A intenção de Lula
é elevar o aperto fiscal para
combater o risco de inflação,
tentar amenizar a alta dos juros e financiar investimentos
brasileiros no exterior.
Os recursos que excederem
os 3,8% do PIB seriam usados
para financiar o chamado fundo soberano (instrumento sob
controle da Fazenda para comprar dólares e financiar projetos de investimento privado e
público do Brasil no exterior).
Esse formato pode ser bem visto pelo mercado, pois não
aqueceria ainda mais a economia interna.
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