São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2008

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Governo procura jazidas de fertilizante

Expectativa do Ministério da Agricultura é que consumo de fertilizantes atinja 25 milhões de toneladas por safra em dez anos

Produção de potássio na Amazônica é um dos projetos do governo para reduzir a importação de 91% do produto consumido

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo brasileiro deflagrou uma corrida nacional para expandir nos próximos anos a produção interna de nitrogênio, fósforo e potássio, insumos básicos para a produção de fertilizantes. A crise provocada pela brutal elevação dos preços nos últimos meses , que chegaram a subir mais de 300% em um ano e meio, fez o governo acordar para um problema que pode atingir em cheio a renda do agronegócio nacional. A crise atual só não é mais grave pelos bons preços das commodities no mercado internacional.
Em uma década, o governo acredita que o consumo interno de fertilizante atingirá 25 milhões de toneladas por safra -15 milhões de toneladas a mais do que o consumo previsto para este ano. "O custo disso, nos preços atuais ao país, será de US$ 15 bilhões. O saldo da balança comercial do agronegócio vai atingir US$ 18 bilhões em 2009. Quer dizer: vamos gastar nosso saldo com fertilizante", avalia Ali Saab, assessor de gestão estratégica do Ministério da Agricultura, técnico destacado pelo ministro Reinhold Stephanes para caçar fontes disponíveis no país.
No próximo dia 25, o Ministério da Agricultura receberá um relatório completo sobre as jazidas potenciais e confirmadas de fósforo e potássio em todo o território nacional das mãos do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral). A idéia do governo é fazer um "pente-fino" nas reservas e conhecer a situação de cada uma das jazidas -se existe pesquisa, se houve a emissão de direito de lavra, se a jazida está em produção ou possui alguma limitação legal ou ambiental para a extração do mineral.
Até uma reserva de potássio no subsolo amazônico entrou na mira do governo. A concessão é da Petrobras, mas o governo pedirá à Companhia Vale do Rio Doce (que já explora uma reserva de potássio em Sergipe) para aceitar a missão de produzir também na Amazônia. Em potássio, a dependência do Brasil é ainda maior -91% da demanda é importada.
Não é um projeto simples, tampouco barato. As estimativas indicam a necessidade de investimentos de até US$ 2 bilhões, fora o custo ambiental envolvido no negócio. O potássio está depositado numa região chamada Nova Olinda, às margens do rio Madeira, a 1,2 mil metros de profundidade. São milhões de toneladas de rejeito que terão de ser transportadas para o oceano. Tudo isso, sem contar o risco de alagamento da mina, como já ocorreu nos últimos dois anos em jazidas da Rússia e do Canadá.
A última tentativa de viabilizar a produção de potássio na Amazônia não deu certo. "O problema era o preço. A US$ 150 a tonelada, não houve interesse. Agora, o preço do potássio está a US$ 600 a tonelada, com tendência de alta. Nesse caso, acho que haverá interesse", confia Saab.
Com essa expectativa, técnicos do Ministério da Agricultura emitiram uma nota, na última quinta-feira, recomendando ao ministro Stephanes a abertura de uma discussão sobre o projeto com a Vale.
A produção de fósforo, outro nutriente usado em larga escala na agricultura, é mais desenvolvida. Hoje, o país possui dez minas em operação e outras nove em vários estágios de estudo. Uma das minas fica no município de Iperó, na região de Sorocaba (SP). A jazida fica dentro da Floresta Nacional de Ipanema. O direito de lavra está nas mãos da Bunge Fertilizantes, mas embora pronta para produzir, não há licença ambiental para tal. O ministério afirma que a cobertura vegetal não é de mata nativa, mas de mata terciária. Na atual situação de escassez, a jazida virou alvo do governo.
O Ministério da Agricultura cobrou empenho da Petrobras na expansão da oferta de uma importante matéria-prima para fertilizantes: o gás natural e a nafta (derivado do petróleo). Essas matérias-primas são a base para produzir o insumo principal para a produção de fertilizantes nitrogenados, como nitrato de amônia e uréia. O problema é que o país ainda é dependente de nafta importada e o gás natural é destinado a outros usos, como geração de energia elétrica ou como combustível automotivo. "Essa é uma questão que o Brasil deve discutir. O gás natural será usado para produção de fertilizante ou para movimentar táxis em São Paulo e no Rio de Janeiro?", questiona Mario Barbosa, presidente da Bunge e da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos).
A expectativa do governo é que a Petrobras assegure volumes de gás suficientes para, pelo menos, duplicar a produção de fertilizantes nitrogenados.


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