São Paulo, terça-feira, 12 de maio de 2009

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Demissões desafiam sindicato do ABC aos 50

Entidade de metalúrgicos que já foi presidida por Lula completa meio século e enfrenta corte de mil vagas por mês no setor devido à crise

Para antigas lideranças, além de lidar com efeitos da crise na região, sindicato precisa atrair trabalhador e torná-lo mais participativo

CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que já esteve sob o comando do presidente Lula entre 1975 e 1981, completa hoje 50 anos com um desafio: recuperar e manter empregos na região. Com os efeitos da crise financeira mundial, foram fechadas no ABC quase 8.000 vagas entre setembro de 2008 e março deste ano.
As quatro cidades representadas pelo sindicato (São Bernardo do Campo, Diadema, Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires) empregavam em setembro cerca de 105 mil metalúrgicos. Em março, eram 97 mil.
"A crise levou parte dos empregos que havíamos recuperado durante o governo Lula. Em 2003, havia 77,4 mil metalúrgicos na base. E superamos a marca de 100 mil em 2008, antes de as empresas iniciarem as demissões por conta da crise. Por isso o sindicato está preocupado em discutir medidas que permitam a manutenção dos empregos", diz Sérgio Nobre, presidente do sindicato.
Autopeças e empresas exportadoras são as mais prejudicadas. "Se não houver medidas que permitam ampliar vendas e crédito para o setor, o emprego pode continuar em queda."
A tendência é a de que mais vagas sejam fechadas no ABC até junho, segundo avalia Fausto Augusto, coordenador da subseção do Dieese no sindicato. "Em média são cerca de mil fechadas por mês. Esse processo de queda deve se manter até o próximo mês. Ações como a redução do IPI, por exemplo, devem ter impacto positivo no emprego a partir do segundo semestre." A previsão é chegar a junho com 95 mil empregados -mesmo nível de 2007.
A exemplo do que ocorreu em 1992, com a criação da câmara setorial automotiva, que permitiu o surgimento dos carros populares, o incremento da produção e a garantia do emprego no ABC, o sindicato quer agora discutir medidas regionais para buscar saídas para a crise. "Essa é uma categoria exigente, participativa, que lê e se informa. Não tem medo da crise. Está preparada para discutir alternativas", diz Nobre.
Para Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese, o sindicato do ABC é um dos mais preparados do país. "Foi o primeiro a fazer mobilização para reposição salarial na ditadura, em 1978 e 1979, que resultou até no seu fechamento. Também se diferencia por contribuir para a sociedade, seja com a criação da CUT ou do PT."
Assim como o ABC passou por transformações nas últimas décadas -a participação relativa da indústria caiu, e subiu o peso do comércio e dos serviços no total de empregos da região-, mudaram a forma de produzir, o interior das fábricas e o perfil do trabalhador.
Em 1976, 66% dos trabalhadores eram não qualificados (ajudantes) e semiqualificados (montadores). Hoje, 27,6% dos operários das montadoras têm curso superior completo. Os operários com segundo grau completo eram 9,27% em 1985 e passaram para 36,8%.
"Mesmo os trabalhadores altamente qualificados (ferramenteiros) ainda tinham características de operários. Hoje muitos dos novos empregados mais qualificados veem o trabalho em uma montadora como uma entre outras possibilidades", diz o professor Jefferson José da Conceição, secretário municipal de São Bernardo.
José Arcanjo de Araújo, o "Zé Preto", que ajudou a formar a primeira comissão de fábrica da Ford (1981) e participou de uma das greves mais violentas (a dos "Golas Vermelhas", em 1990, com carros e instalações da empresa danificados), diz que o maior desafio dos dirigentes é trazer o trabalhador "para dentro" do sindicato.
Para Jair Meneguelli, que presidiu o sindicato entre 1981 e 1987, "ou o movimento sindical se moderniza e se liberta do imposto sindical, que garante arrecadação compulsória aos sindicatos, ou vai acabar". No ABC, o sindicato devolve há anos a seus sócios o valor arrecadado com o imposto sindical.
"A forma de atuação e a preocupação em viabilizar novos negócios, discutir investimentos e modernizar fábricas entraram na agenda do sindicato", diz Nilton Júnior, diretor da Volks. "Ele percebeu a necessidade de ser mais flexível."


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