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Demissões desafiam sindicato do ABC aos 50
Entidade de metalúrgicos que já foi presidida por Lula completa meio século e enfrenta corte de mil vagas por mês no setor devido à crise
Para antigas lideranças, além de lidar com efeitos da crise na região, sindicato precisa atrair trabalhador e torná-lo mais participativo
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
O Sindicato dos Metalúrgicos
do ABC, que já esteve sob o comando do presidente Lula entre 1975 e 1981, completa hoje
50 anos com um desafio: recuperar e manter empregos na região. Com os efeitos da crise financeira mundial, foram fechadas no ABC quase 8.000 vagas
entre setembro de 2008 e março deste ano.
As quatro cidades representadas pelo sindicato (São Bernardo do Campo, Diadema, Rio
Grande da Serra e Ribeirão Pires) empregavam em setembro
cerca de 105 mil metalúrgicos.
Em março, eram 97 mil.
"A crise levou parte dos empregos que havíamos recuperado durante o governo Lula. Em
2003, havia 77,4 mil metalúrgicos na base. E superamos a
marca de 100 mil em 2008, antes de as empresas iniciarem as
demissões por conta da crise.
Por isso o sindicato está preocupado em discutir medidas
que permitam a manutenção
dos empregos", diz Sérgio Nobre, presidente do sindicato.
Autopeças e empresas exportadoras são as mais prejudicadas. "Se não houver medidas
que permitam ampliar vendas e
crédito para o setor, o emprego
pode continuar em queda."
A tendência é a de que mais
vagas sejam fechadas no ABC
até junho, segundo avalia Fausto Augusto, coordenador da
subseção do Dieese no sindicato. "Em média são cerca de mil
fechadas por mês. Esse processo de queda deve se manter até
o próximo mês. Ações como a
redução do IPI, por exemplo,
devem ter impacto positivo no
emprego a partir do segundo
semestre." A previsão é chegar
a junho com 95 mil empregados -mesmo nível de 2007.
A exemplo do que ocorreu
em 1992, com a criação da câmara setorial automotiva, que
permitiu o surgimento dos carros populares, o incremento da
produção e a garantia do emprego no ABC, o sindicato quer
agora discutir medidas regionais para buscar saídas para a
crise. "Essa é uma categoria
exigente, participativa, que lê e
se informa. Não tem medo da
crise. Está preparada para discutir alternativas", diz Nobre.
Para Clemente Ganz Lúcio,
diretor técnico do Dieese, o sindicato do ABC é um dos mais
preparados do país. "Foi o primeiro a fazer mobilização para
reposição salarial na ditadura,
em 1978 e 1979, que resultou
até no seu fechamento. Também se diferencia por contribuir para a sociedade, seja com
a criação da CUT ou do PT."
Assim como o ABC passou
por transformações nas últimas décadas -a participação
relativa da indústria caiu, e subiu o peso do comércio e dos
serviços no total de empregos
da região-, mudaram a forma
de produzir, o interior das fábricas e o perfil do trabalhador.
Em 1976, 66% dos trabalhadores eram não qualificados
(ajudantes) e semiqualificados
(montadores). Hoje, 27,6% dos
operários das montadoras têm
curso superior completo. Os
operários com segundo grau
completo eram 9,27% em 1985
e passaram para 36,8%.
"Mesmo os trabalhadores altamente qualificados (ferramenteiros) ainda tinham características de operários. Hoje
muitos dos novos empregados
mais qualificados veem o trabalho em uma montadora como
uma entre outras possibilidades", diz o professor Jefferson
José da Conceição, secretário
municipal de São Bernardo.
José Arcanjo de Araújo, o "Zé
Preto", que ajudou a formar a
primeira comissão de fábrica
da Ford (1981) e participou de
uma das greves mais violentas
(a dos "Golas Vermelhas", em
1990, com carros e instalações
da empresa danificados), diz
que o maior desafio dos dirigentes é trazer o trabalhador
"para dentro" do sindicato.
Para Jair Meneguelli, que
presidiu o sindicato entre 1981
e 1987, "ou o movimento sindical se moderniza e se liberta do
imposto sindical, que garante
arrecadação compulsória aos
sindicatos, ou vai acabar". No
ABC, o sindicato devolve há
anos a seus sócios o valor arrecadado com o imposto sindical.
"A forma de atuação e a preocupação em viabilizar novos
negócios, discutir investimentos e modernizar fábricas entraram na agenda do sindicato", diz Nilton Júnior, diretor
da Volks. "Ele percebeu a necessidade de ser mais flexível."
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