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São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 2003

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RECEITA ORTODOXA

Para o ministro da Fazenda, agronegócios e exportadores vão bem, mas o consumo interno preocupa

Palocci descarta recessão, mas vê dificuldades

SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, disse ontem que não há "quadro recessivo" na economia brasileira. Mas afirmou que existem dificuldades no mercado interno.
"Não acho que há quadro recessivo. O que temos são muitas assimetrias", disse Palocci. Segundo ele, o setor de agronegócios e os setores exportadores de maneira geral estão indo bem, mas o consumo interno está tendo uma dificuldade maior.
"Essa é uma equação que tem de ser resolvida", constatou o ministro, sem, no entanto, indicar qual seria o caminho do fortalecimento do mercado interno.
Analistas econômicos têm apontado os últimos dados sobre queda na produção industrial como um sinal de desaquecimento forte da atividade econômica.
Para o ministro, a queda na produção industrial em abril, de 4,2% em relação ao mesmo mês do ano passado, foi influenciada por menos dias úteis neste ano. Além disso, em abril de 2002 houve um crescimento atípico da produção.
Embora a baixa atividade econômica também esteja relacionada às altas taxas de juros praticadas até agora, Palocci preferiu ressaltar que a política monetária está dando resultados.
"A inflação está cedendo, mesmo que em ritmo menor do que gostaríamos", disse, citando o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de maio, que foi de 0,61%. Segundo ele, esse índice ficou dentro das expectativas do governo.
Já para o ministro José Dirceu (Casa Civil), o país deverá retomar o crescimento no segundo semestre. "Apesar da queda na atividade industrial, a economia tem força, tem dinamismo, as exportações cresceram e a agroindústria está explodindo", disse.
"Quando os juros caírem e começar a fase de investimentos, o país vai crescer de forma sustentável. Não podemos criar uma bolha de crescimento. O país não aguenta mais isso", disse Dirceu.
Durante reunião da Câmara de Política Econômica, da qual ambos participaram, o governo avaliou que a economia vai mostrar sinais de recuperação a partir do segundo semestre do ano.
Devido ao aumento de 1,5 ponto percentual dos juros neste ano e ao corte de gastos públicos, o governo entende que o quadro de desaceleração do crescimento econômico se estenderá até o final do semestre, em junho.
"O primeiro semestre é arrumação na casa, estamos contando com uma aceleração no segundo semestre", afirmou o ministro Guido Mantega (Planejamento).

Metas de inflação
Palocci disse ainda que o sistema de metas de inflação não deverá ser alterado, mas afirmou que não há uma decisão. "Na minha opinião devemos manter o sistema atual, mas essa é uma decisão do CMN [Conselho Monetário Nacional]. Estamos ouvindo autoridades de outros países para aperfeiçoar o nosso sistema."
Antes de definir a meta de inflação de 2005, o que deverá acontecer até o final do mês, o CMN, segundo o ministro, vai fazer um estudo sobre os resultados do sistema de metas, iniciado em 99.
Palocci afirmou ainda que a meta ajustada de 2004, de 5,5%, "a princípio", deverá ser confirmada na próxima reunião do conselho.
O principal agora, segundo o ministro, é observar a evolução do núcleo de inflação (preços livres, ou seja, que não são administrados por contratos). "Tanto os índices de inflação quanto os núcleos têm de convergir para as metas", disse.


Colaboraram Marta Salomon e Julianna Sofia, da Sucursal de Brasília


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