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RECEITA ORTODOXA
Para o ministro da Fazenda, agronegócios e exportadores vão bem, mas o consumo interno preocupa
Palocci descarta recessão, mas vê dificuldades
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Fazenda, Antonio
Palocci Filho, disse ontem que
não há "quadro recessivo" na economia brasileira. Mas afirmou
que existem dificuldades no mercado interno.
"Não acho que há quadro recessivo. O que temos são muitas assimetrias", disse Palocci. Segundo
ele, o setor de agronegócios e os
setores exportadores de maneira
geral estão indo bem, mas o consumo interno está tendo uma dificuldade maior.
"Essa é uma equação que tem de
ser resolvida", constatou o ministro, sem, no entanto, indicar qual
seria o caminho do fortalecimento do mercado interno.
Analistas econômicos têm
apontado os últimos dados sobre
queda na produção industrial como um sinal de desaquecimento
forte da atividade econômica.
Para o ministro, a queda na produção industrial em abril, de 4,2%
em relação ao mesmo mês do ano
passado, foi influenciada por menos dias úteis neste ano. Além disso, em abril de 2002 houve um
crescimento atípico da produção.
Embora a baixa atividade econômica também esteja relacionada às altas taxas de juros praticadas até agora, Palocci preferiu ressaltar que a política monetária está dando resultados.
"A inflação está cedendo, mesmo que em ritmo menor do que
gostaríamos", disse, citando o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de maio, que foi de
0,61%. Segundo ele, esse índice ficou dentro das expectativas do
governo.
Já para o ministro José Dirceu
(Casa Civil), o país deverá retomar o crescimento no segundo
semestre. "Apesar da queda na
atividade industrial, a economia
tem força, tem dinamismo, as exportações cresceram e a agroindústria está explodindo", disse.
"Quando os juros caírem e começar a fase de investimentos, o
país vai crescer de forma sustentável. Não podemos criar uma bolha de crescimento. O país não
aguenta mais isso", disse Dirceu.
Durante reunião da Câmara de
Política Econômica, da qual ambos participaram, o governo avaliou que a economia vai mostrar
sinais de recuperação a partir do
segundo semestre do ano.
Devido ao aumento de 1,5 ponto percentual dos juros neste ano
e ao corte de gastos públicos, o governo entende que o quadro de
desaceleração do crescimento
econômico se estenderá até o final
do semestre, em junho.
"O primeiro semestre é arrumação na casa, estamos contando
com uma aceleração no segundo
semestre", afirmou o ministro
Guido Mantega (Planejamento).
Metas de inflação
Palocci disse ainda que o sistema de metas de inflação não deverá ser alterado, mas afirmou que
não há uma decisão. "Na minha
opinião devemos manter o sistema atual, mas essa é uma decisão
do CMN [Conselho Monetário
Nacional]. Estamos ouvindo autoridades de outros países para
aperfeiçoar o nosso sistema."
Antes de definir a meta de inflação de 2005, o que deverá acontecer até o final do mês, o CMN, segundo o ministro, vai fazer um estudo sobre os resultados do sistema de metas, iniciado em 99.
Palocci afirmou ainda que a meta ajustada de 2004, de 5,5%, "a
princípio", deverá ser confirmada
na próxima reunião do conselho.
O principal agora, segundo o
ministro, é observar a evolução
do núcleo de inflação (preços livres, ou seja, que não são administrados por contratos). "Tanto
os índices de inflação quanto os
núcleos têm de convergir para as
metas", disse.
Colaboraram Marta Salomon e
Julianna Sofia, da Sucursal de Brasília
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